Tuesday 17 December 2013

Cataclismo político à vista

Beira (Canalmoz) - Em termos práticos é uma engenharia política refinada visando através de sistemas previamente montados para alguém continuar no poder.
O que digam os analistas habituais e os defensores arregimentados dos actuais detentores do poder, não será mais do que uma vã tentativa de proteger arranjos sinistros, de gente que não se vê fora do poder e que não tem a alternativa no poder como algo necessário e democraticamente aceitável.
Convém que os moçambicanos não se distraíam e fiquem de olhos abertos sobre o que vai acontecer em Moçambique no ano de 2014.
A recusa de aceitar uma paridade eleitoral a nível dos órgãos eleitorais, CNE/STAE, é um primeiro cavalo de batalha. Todo um aparato judicial em que pontificam tribunais e o Conselho Constitucional, Procuradoria-Geral da República coadjuvados por uma PRM/FIR perfeitamente em sintonia com as agendas de manutenção no poder fazem parte de uma estratégia.
A mudança ou alteração das regras ou legislação interna de um partido tem acontecido de maneira subtil, colocando em posição de ascensão ao alto cargo de PR pessoas convenientes para tal partido. Antes era o secretário-geral, depois tudo mudou. Tenhamos a sensatez de admitir que alguma coisa se passou nos bastidores da Frelimo. AEG assumiu as rédeas do poder de modo que em certa medida consubstancia um golpe palaciano, sem derramamento de sangue, em que um grupo considerava ser vital e um imperativo ter AEG como PR.
Esse grupo hoje se encontra em posição de desespero porque seu candidato não seguiu o caminho prescrito por aqueles que se consideravam a fina-flor de Moçambique.
A proliferação de alas no seio da Frelimo, o surgimento de atitudes e pronunciamentos racistas são prova inequívoca de que um partido histórico se encontra numa encruzilhada perigosa.
Ideologias que antes comandavam acção ou que pretendiam comandar encontram-se corroídas e em desarranjo completo.
É como que tempo de apanhar pedaços de uma “capulana” e segurar o que se pode de modo a resistir contra a corrente dos tempos.
Num campo complexo em que se movimentam interesses gigantescos torna-se necessário escolher sucessores por razões constitucionais. Mas como preservar e garantir que tais interesses não sejam beliscados?
Encontrar uma fórmula resolvente, activa e demolidora impõe-se…
A fórmula parece ser encontrar candidatos dóceis, domesticados, obedientes que jamais se rebelarão nem colocarão em risco legados ou fortunas de líderes do passado.
Através de arranjos e de acordos sectários, lutando contra uma crescente onda de dessatisfação geral é de concluir que a actual liderança do partido Frelimo decidiu avançar com nomes de pré-candidatos perfeitamente manejáveis.
É de supor que a reunião de 22 de Dezembro do Comité Central da Frelimo não será capaz de trazer mudanças ao que a Comissão Política decidiu.
Independentemente da chamada disciplina partidária há que ver o que acontece na Frelimo como algo que afecta a todos, tamanha é a força e o poder que a Frelimo detém na máquina governamental moçambicana.
Não alterar a constituição do país foi um passo “forçado” sob pressionado tanto por alas internas na Frelimo mas por correntes políticas fortes ao nível de todo o Moçambique.
Sem uma oposição que se fortificou e avançou para a confrontação política e militar não teríamos a situação de hoje e provavelmente os pré-candidatos seriam outros… No caminho ficaram alguns delfins e outros submergiram.
Acções de qualidade que se impõem tardam a aparecer pois de alguns quadrantes o silêncio é arma eleita. Isolamento e afastamento emergem como arma perfeita para lidar com uma liderança apegada ao poder. Ninguém quer sacrificar o “pescoço” a lidar com um chefe que não admite crítica. Muitos dos que calam, sabem em seu íntimo que não concordam com o curso dos acontecimentos que se desenrolam. Sentem-se impotentes para travar intenções de todo sinistra e lesivas aos mais altos e nobres interesses nacionais.
A agenda implícita é a da manutenção do poder por qualquer meio e disso convém que não tenham dúvidas.
Com as cartas baralhadas e distribuídas, caberá a sensatez e a coragem de membros de um partido tomar as decisões finais sobre seu candidato às eleições presidências de 2014.
Para os moçambicanos o mais importante não é o maquiavelismo circunstancial nem outras posições que periguem a paz duramente conquistada.
O país não vai parar porque A foi o escolhido e B/C preteridos. Democracia é a única pretensão dos moçambicanos. Eleições amplamente participadas, pacificas, livres, transparentes e justas é a luta de todos os dias de milhões de moçambicanos. Com coragem e perseverança se tem visto um povo inteiro levantando-se contra a tirania, sem medo de balas reais ou de borracha ou de gás lacrimogéneo.
Manipulações, mercantilismos políticos ao estilo dos “7 milhões” e de mais milhões que se conseguem com participação em projectos e megaprojectos, em concessões diamantíferas ou de rubis, de carvão ou gás são parte do processo que os moçambicanos querem eliminar porque significam ausência da democracia económica. Uma das causas da presente crise é o tipo de tratamento que as questões económicas encontram e tem por parte de um executivo governamental umbilicalmente ligado ao mundo dos negócios. A promiscuidade entre a causa pública e privada foi a semente da discórdia e o ressurgimento da violência em terras moçambicanas. Reconheçamos que é inaceitável que todo um país seja transformado em “quintal privado” de uma família ou grupo de famílias. Negar que isto está a acontecer é retórica barata, promoção da instabilidade e da guerra.
Os que não se coíbem a entrar na corrida armamentista são contra a paz.
Um crescente abuso da utilização de forças policiais e militares para controlar processos políticos indicam posições que se aproximam do fascismo. Com cor negra ou branca, fascismo continua sendo fascismo. Vencer pleitos eleitorais através da instrumentalização das forças policiais é fascismo puro e simples.
Não se permita que as sombras do passado, do totalitarismo, da intolerância ressurjam e submetam todo um país sedento de paz e de desenvolvimento.
O tempo urge e tudo deve ser feito para que Moçambique continue a ser um país uno, indivisível, próspero e comprometido com os seus desígnios de paz e concórdia.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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