Wednesday 18 December 2013

Celebrar Mandela é celebrar o exemplo, a justiça e a liberdade!

Maputo (Canalmoz) – Depois de seis dias de cerimónias de toda a espécie, a aldeia de Qunu recebeu os restos mortais de Nelson Mandela. É consensual entre todas as correntes de opinião que mais do que ser chorado, Nelson Mandela, o ícone da luta contra o Apartheid e a intolerância perante as diferenças, deve ser celebrado.

Deve ser celebrado como um dos mais nobres cidadãos que já habitou a Terra; Como um homem que dedicou a sua vida à valorização do Homem enquanto parte da natureza e agente transformador positivo do mundo.
Muito cedo Mandela percebeu que a dignidade humana não tem preço; que o mundo era um lugar tão grande que nele cabiam todos os homens e as suas auto realizações, independentemente da sua cor e preferência política.
Em suma, Nelson Mandela defendeu a dignidade humana e chegou ao extremo de entregar a sua própria vida até que o homem respeitasse o outro homem.
Mandela ofereceu os melhores anos da sua vida para que as divergências de toda a espécie não fossem saldadas pela humilhação de um ser humano pelo outro.
Mandela acabou conseguindo demonstrar que o poder não deve ser instrumento para humilhação, mas de união e desenvolvimento de um projecto colectivo, onde cada um contribui para um todo.
Por isso é injusto chorar Mandela sem celebrar a sua vida e as conquistas que conseguiu aglutinando o pensamento sul-africano e o mundo.
O número de pessoas de diferentes extractos sociais que afluiu ao Soccer City em Joanesburgo, no passado dia 10 de Dezembro, atesta o respeito e a admiração que mundo tem por esta figura ímpar.
Apesar de ter sido humilhado pelo regime segregacionista do Apartheid, Mandela não teve problemas de raça quando atingiu o mais alto cargo político do organograma da administração da África do Sul. Mandela não teve problemas de raça, exactamente porque a sabedoria de que se municiou apenas o ensinara que existe apenas uma única raça: a humana.
Ao celebrarmos a vida e as conquistas deste grande Homem, somos impelidos a fazer uma radiografia do mundo, da nossa África e do nosso Moçambique se quisermos ser mais particulares. Até que ponto o mundo e a maioria dos seus líderes estão preparados para levar avante a visão humanista e colectiva dos seus países? Até que ponto os nossos líderes estão preparados para olharem para os seus países como a pátria de todos os seus concidadãos independentemente da sua cor e opção política.
Em Moçambique celebramos hoje o legado de Mandela, num ambiente de divergência política que está a ser irresponsavelmente dirimida pela força das armas. Celebramos o legado de Mandela com a maior parte dos moçambicanos a viverem exactamente o que Mandela combateu: a indigência humana.
É por isso caso para perguntarmos: o que a delegação do Estado moçambicano foi homenagear no imponente Soccer City?
Nas cadeiras do Soccer City estavam sentados vários chefes de Estado e os respectivos líderes da oposição. Vimos o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a sair do mesmo avião com ex-presidentes americanos pertencentes ao partido da oposição. Vimos o presidente francês sentado ao lado do candidato derrotado nas últimas eleições gaulesas. Estavam todos em missão de Estado como cidadãos de um único País.
Perante tantos exemplos que vimos na celebração de Nelson Mandela custa-nos acreditar que o chefe de Estado, Armando Guebuza, foi a estas cerimónias quando o líder do maior partido da oposição em Moçambique está a ser caçado por militares a soldo do próprio chefe de Estado.
Mandela deu exemplo de reconciliação ao mundo e a convivência sem contas do passado por ajustar. Mas em Moçambique vivemos a triste realidade de ser considerado “crime” e combatível o simples e normal facto de se pertencer a um partido da oposição. É considerado heresia pensar fora dos cânones da Frelimo e mais grave ainda indicar os excessos da sua liderança.
Sedes de partidos legalmente constituídos e com assentos na Assembleia são de forma recorrente vandalizados e seus membros presos sem culpa formada, sob a direcção suprema de Armando Guebuza, figura com um comportamento diametralmente oposto ao do grande senhor de África que hipocritamente foi homenagear.
Mandela deu ao mundo um exemplo de integridade como chefe de Estado, porque percebeu que o Estado era de todos e ele apesar de ser herói nacional, era mais um cidadão sul-africano. Mas cá entre nós, os que estão no poder sentem-se com credenciais para humilhar, insultar e marginalizar o próprio povo. Até são criados chavões racistas como “moçambicano de gema”, “moçambicano de Goa” e “moçambicano mulato” tudo para separar os que tem o poder e família no poder, dos demais moçambicanos.
Vivemos uma situação onde o Estado já não é legítima propriedade do povo.
Vivemos dirigidos por quem transformou o Estado numa machamba em que a ceifa apenas serve uma e única família e os seus mais directos sequazes.
Mandela surpreendeu o mundo ao se disponibilizar a um Tribunal sendo ele chefe de Estado para ser julgado num processo que o envolvia. Mas cá entre nós, os que detêm o poder instrumentalizam os tribunais para condenar alvos seleccionados e regra geral por vingança ou humilhação. Que o diga o general Jerónimo Malagueta que está a acabar na cadeia numa situação perfeitamente evitável se Moçambique tivesse um Presidente com o sentido de Estado, a pedagogia e a responsabilidade cívica que é o legado de Madiba.
Mandela defendeu com todas as suas forças as liberdades fundamentais do cidadão. Chegou a colocar em causa a sua própria liberdade pela liberdade colectiva dos sul-africanos. Mas cá entre nós, vivemos uma situação onde o policiamento ideológico tende a afectar em cadeia todo o resto de liberdades.
O maquiavelismo que tem sido usado para amordaçar a independência dos órgãos de comunicação é típico de regimes fascistas. A constituição de uma equipa de lacaios travestidos de analistas independentes para subverter a verdade dos factos é disso exemplo. Os fascistas de “gema” também usaram a propaganda para perpetuar mentiras. Há quem pense que está no direito de policiar a opinião dos cidadãos e o direito à indignação que da constituição emana.
Hoje o cidadão Castel-Branco está a ser politicamente processado porque ousou em discordar dos métodos de quem actualmente governa. Está a ser processado porque usou do direito à opinião para convidar o chefe de Estado a se demitir porque, na sua óptica, está a escangalhar o País. Os jornais que deram voz ao cidadão Castel-Branco foram todos notificados pela Procuradoria-Geral da República. Quer dizer, já nem podemos ouvir a opinião dos cidadãos que vêem e vivem na pele a destruição que o regime está a propagar.
Na nossa modesta opinião, e avaliando pela contribuição que Castel-Branco têm dado ao País na frente intelectual, o professor não escreveu as cartas por estilo, mas porque pura e simplesmente ousou sintetizar um sentimento que se tornou nacional. É essa mesma a opinião da maioria dos moçambicanos.
O País está um caos porque há na direcção do Estado alguém que se acha no direito de destruir o País sem contraditório. Porque alguém se acha no direito de colocar todo um País em guerra para satisfazer seus apetites belicistas.
Quem tem ainda dúvida de que estamos mesmo a ser dirigidos por fascistas?
Nós nunca tivemos tal dúvida. Por isso celebramos Mandela com olhos postos no acreditar que um dia o fascismo será derrubado e a liberdade triunfará.
Madiba viverá para sempre na memória dos humanos que acham que foram homens mesquinhos e banais os que inventaram a opressão.
A Humanidade ficará eternamente grata a Madiba por ele ter mostrado ao mundo a verdadeira dimensão de África no Mundo.



(Editorial do Canal de Moçambique/Canalmoz)

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