Monday 27 April 2009

Rádio Frelimo



Desta vez estou mesmo assustado.
E o susto começou no domingo passado e tem vindo a crescer desde essa altura.
Sou ouvinte habitual da Rádio Moçambique e a sensação desagradável foi nascendo, ao fim da tarde, quando comecei a dar conta de mudanças na programação habitual daquela emissora para ir deixando espaço de antena disponível. Rapidamente me apercebi do porquê: estavam à espera do encerramento de reunião de Quadros do partido Frelimo e queriam tempo para transmitir o encerramento em directo.Não achei correcto. A Frelimo é, neste momento, um de muitos partidos moçambicanos e os procedimentos não podem ser os mesmos que eram no tempo do partido único em que a Frelimo se confundia com o Estado moçambicano.
Assim como a Rádio Moçambique não fez a cobertura das actividades dos outros partidos, também não pode estar agora a fazer isto com este.
Mas o encerramento foi muito mais tarde e não sei como foi a cobertura radiofónica.
Só que, entretanto, chegou a hora da segunda edição do RM Jornal e o seu editor, Leonel Matias, informou-nos detalhadamente sobre as opiniões do porta-voz da Frelimo sobre o encontro de Quadros. Logo a seguir chamou o jornalista Custódio Rafael, no local do encontro. Este nada mais fez do que dar a palavra, novamente, a Edson Macuácua. E este falou, falou, falou, sem ninguém o interromper, sem qualquer pergunta, nada. Falou até se cansar. Não medi o tempo mas terão sido, de certeza, mais de 5 minutos, o que num jornal radiofónico é muitíssimo.
Na manhã seguinte, logo pelas primeiras horas, sou informado pelo Emílio Manhique de que o tema do Café da Manhã daquele dia é a reunião de Quadros da Frelimo e o convidado era... adivinhou, ouvinte, o convidado era Edson Macuácua. Mais meia hora de microfone para ele.
Por razões pessoais tive que viajar para um local onde não tive acesso à Rádio Moçambique e, portanto, não chequei a ouvir o tal Café da Manhã.
Regressei terça-feira ao fim da tarde. Rádio ligado e chega a hora do RM Jornal. Mais uma vez editado pelo Leonel Matias.
A certa altura o tema foi a reunião do Comité Central da Frelimo e o Leonel chamou o jornalista no local que, mais uma vez, era o Custódio Rafael. Que, mais uma vez, deu a palavra ao Edson Macuácua.Desta vez eu estava preparado e cronometrei o discurso. 8 longuíssimos minutos. Mais uma vez sem qualquer interrupção. O Rafael estava ali apenas como pé de microfone e o Macuácua falou até se cansar. No estúdio também ninguém se lembrou de interromper.
8 minutos de paleio propagandístico de um determinado partido num serviço noticioso da nossa principal estação de rádio é absolutamente escandaloso. Inaceitável.
A Rádio Moçambique é sustentada pelo nosso Orçamento Geral do Estado, com dinheiro proveniente dos bolsos dos moçambicanos da Frelimo, da Renamo, do Monamo, do MDM, do Pimo e dos outros todos que não vou agora aqui citar.
É financiada igualmente por uma Taxa de Radiodifusão paga por todos os cidadãos que possuem um receptor na sua viatura e por todos os que pagam electricidade, independentemente, também, da sua filiação partidária.
Ora estamos, em 2009, num ano de eleições e torna-se claro que alguém deve ter dado instruções para a Rádio Moçambique se tornar na principal trombeta propagandística da Frelimo. E ela parece com entusiasmo de cumprir a tarefa. Será que vai ser assim até à data das eleições?
Porque estes factos que acabo de referir não são jornalismo. Não são informação. São propaganda eleitoral, pura e simples.
Se se quisesse fazer jornalismo a Rádio teria ouvido outras opiniões, nomeadamente das principais forças da oposição (não os da chamada “oposição construtiva”) sobre o que se estava a passar. Ou os jornalistas fariam perguntas, questionariam opiniões, fariam tudo aquilo que aprenderam nas escolas profissionais ou na prática do trabalho.
Nada disso foi feito. O único “trabalho” realizado foi abrir o microfone e deixar a propaganda fluir sem entraves.
Nem Leonel Matias nem Custódio Rafael são principiantes no jornalismo. Pelo contrário, ambos têm já muitos anos de exercício da profissão.
E um aspecto torna esta questão particularmente grave. O facto de Leonel Matias fazer hoje parte do Conselho Superior da Comunicação Social tendo, por essa razão, especiais responsabilidades.

( Machado da Graça, Savana, 23/04/09 )

NOTA:

Mais uma prova de que a RM serve descaradamente os interesses da Frelimo.

2 comments:

Anonymous said...

Sempre achei que a RM era controlada pela Frelimo, ninguem me conseguira convencer do inverso. No entanto, se querem cobertura ou propaganda eleitoral, que paguem a bom preco. Porque diferente tipo de tratamento em relacao aos outros partidos? Todos deveriam de ter direito a igual tempo de antena. Mocambique so tem sentido se for mesmo para TODOS. Afinal, nao somos todos filhos do mesmo Pai, ou aqui ha enteados ou filhos adoptados? Afinal a Frelimo sente-se ou nao ameacada? O papagaio foi papaguear a mando de quem? Maria Helena

JOSÉ said...

Essa e uma questao que nega o que acreditamos: Mocambique para todos!

E inaceitavel que a RM, TVM, Noticias e Domingo continuem a fazer a propaganda da Frelimo em detrimento dos outros.