Tuesday, 21 April 2009

Partem do princípio que o Governo já pensou o suficiente

Olá Januário
Como vai essa vida? Já te passou a gripe? Eu também a tive e foi uma chatice durante duas semanas...
Mas não te estou a escrever por causa da gripe.
Queria falar um pouco sobre este nosso Parlamento que está quase a terminar os trabalhos da actual legislatura.
Como sabes eu ouço muito rádio e acompanho, muitas vezes, as sessões da Assembleia da República.
E isto já de há bastantes anos para cá.
E posso te dizer que senti, nesta legislatura que está prestes a terminar, duas formas de evolução opostas, por parte das duas bancadas parlamentares.
Por um lado, a bancada da RENAMO-UE melhorou muito a sua actuação, sob o comando da deputada Maria Moreno. Deixámos de assistir àquelas cenas de circo da pior qualidade com que nos brindavam no passado. As intervenções foram mais sérias e pensadas e apresentadas com muito maior dignidade.
Houve excepções, é bem claro, mas não foram mais do que isso mesmo, excepções.
Por outro lado tivemos a bancada da FRELIMO em acelerada degradação. Com a certeza de que, tivessem ou não tivessem razão, tinham o voto garantido pela sua confortável maioria, os deputados da FRELIMO foram decaindo, cada vez mais, para formas de demagogia que, muitas vezes, roçaram mesmo pela boçalidade.
É confrangedor ouvir pessoas, que sabemos inteligentes, a gritar e insultar a outra bancada apenas para esconder que não têm razão sobre um qualquer assunto. Sabem que vão ganhar a votação e, por isso, nem sequer precisam de pensar muito sobre o assunto. Partem do princípio que o Governo já pensou o suficiente. Esquecendo-se que o papel de um Parlamento é também fiscalizar o trabalho do Governo, mesmo que seja um executivo da nossa própria cor partidária.
A única saída para uma situação como esta, meu caro Januário, é haver uma terceira bancada, que possa equilibrar as duas já existentes. Uma terceira bancada que umas vezes vote ao lado da RENAMO e outras ao lado da FRELIMO, obrigando as duas principais a terem cuidado com aquilo que fazem e com as propostas que apresentam. Que obrigue as duas bancadas principais a “namorarem” a terceira para poderem contar com os seus votos.
E talvez isso obrigue também os partidos todos a fazerem uma melhor selecção dos seus candidatos ao Parlamento.
Quantas vezes ouvimos comentar, apreciativamente, o facto de a nossa Assembleia da República ter uma alta percentagem de mulheres?
Mas qual é a percentagem de mulheres que toma a palavra nas sessões? Baixíssima. E em muitos casos a ler textos escritos, obviamente, por outras pessoas.
Não creio que o sistema de quotas, só por si, seja uma coisa que mereça elogios.
Acho que é bom haver muitas mulheres no Parlamento, mas é se elas lá estiverem por mérito próprio, com preparação para contribuírem positivamente nos debates. Só para embelezarem as bancadas com os seus sorrisos, não vale a pena.
Veremos o que nos reserva a próxima legislatura.
Mas eu gostaria que as diferentes formações políticas fizessem um real esforço para melhorarem a prestação dos seus deputados na Assembleia.
E, como dizem uns deles, isso prepara-se, isso organiza-se.
Um abraço para ti do

Machado da Graça



CORREIO DA MANHÃ – 17.04.2009

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