Carta a uma companheira de luta
Querida amiga,
Venho debruçando-me sobre este tema há anos. É um tema difícil, sensível e de certa forma complexo. A verdade é que desde que te conheço, cada conversa nossa, atrai a cada dois minutos os direitos humanos e, mesmo assim, embora desgastante, não falta assunto.
Desta vez propus-me a escrever-te esta carta a abordar o problema dos direitos humanos e da violência ignorando a actualidade política do país, as eleições na África do Sul, as contas do Tribunal Administrativo, as incongruências da SADC, a nova faceta do MDC no Zimbabwe, a reflexão sobre a pobreza no país, a reunião de quadros da Frelimo, a desculpa esfarrapada de Jó Capece entre outros assuntos, só porque acho que o ser humano gosta de ignorar o essencial e diluir-se no periférico.
A violência, seja ela de que forma se manifesta, física, psicológica, moral ou outro, seja ela considerada em razão da provocação, em razão dos sujeitos envolvidas, seja qual for o prisma com que se observa ou se estuda o fenómeno, é comum, concordar que nada justifica o seu recurso.
A violência é a causa dos milhares de traumas que a gente conhece nas pessoas com que convivemos no dia a dia. É a causa de altos gastos do erário público e sobrecarrega tal as instituições de administração de justiça que preterem questões vitais da sociedade.
A violência destrui nações, desvirtua o conceito de humanidade e de solidariedade. A violência torna-nos lobos e leva-nos de volta ao estado de natureza onde só o mais forte sobrevive.
Quando a violência acontece em casa, ou envolvendo membros que conservam consigo laços familiares ou de parentesco, chama-se de violência doméstica e esta forma de violência, é, quanto a mim, a mais brutal de todas, embora em muitas situações tentemos encontrar argumentos para justificá-la.
Querida amiga, e o que tem tudo isso a ver com os direitos humanos? A questão fundamental baseia-se na dignidade da pessoa humana, ou seja, toda e qualquer forma de violência reduz de certa forma a dignidade humana.
Daí que, não se pode usar a violência para defender os direitos humanos, do mesmo jeito que não se concebem os direitos humanos num contexto violento. Penso que aqui reside o problema dos direitos humanos e da violência, na medida em que uns pensam que só com violência se resolve o problema dos direitos humanos e outros querem usar o discurso da violência como o Cavalo de Tróia para atingir seus fins pessoais.
Penso que, sobre a questão que coloco, a maior dificuldade dos activistas dos direitos humanos em Moçambique é de perceber o conteúdo dos conceitos (de direitos humanos e da violência). Assim, porque são eles que aos poucos vão educando os outros actores sociais, políticos, económicos incluindo a mídia, passamos a ter uma larga massa de actores com conceitos mutilados.
Infelizmente, esses conceitos vão sendo usados e reproduzidos como se fossem acabados ou os mais correctos que se podem ter e, na dificuldade de melhor explica-los começam os ataques e as cenas da violência. A violência é a filha da ignorância. Quem sabe usar da razão jamais opta pela violência, só se recorre a violência quando a mente está desprovida de inteligência.
Querida amiga, pensar-se que se resolvem as coisas pelo muito palavreado é falso. As vezes, as muitas palavras são o próprio impedimento à comunicação. É por isso que, alguns jornalistas, colunistas e editores de programas, aproveitam o espaço que têm na mídia para desinformar e complicar a mente das pessoas que realmente querem aprender.
Afinal de contas, muitos dos que têm o poder da mídia, não querem exactamente proporcionar ao cidadão aquilo que ele espera dela, que neste caso seria a formação, a informação e a educação. Muitos deles querem impor o seu status quo, a sua visão de vida e em última instância impor a ditadura do consumismo.
Ignorância da causa é uma estratégia antiga, normalmente usada para, como o próprio brocardo diz, desviar a atenção daquilo que realmente deve ser considerado, para se perder tempo em matérias sem necessidade. Se fores a reparar cara amiga, uma boa parte do debate que se tem levantado na actualidade está completamente desviado do essencial.
Populações pobres como a nossa, povos com índices bem elevados de analfabetismo, cidadãos desprovidos de políticas públicas realmente eficientes, carecem de actores e intelectuais que se dedicam ao debate com a luz da razão, infelizmente, a nossa terra não foi abençoada neste aspecto.
Querida amiga, penso que o maior problema dos direitos humanos e da violência no nossa país é a ignorância e a falta de capacidade de abstracção. Ignorância de causa e a mistura de conceitos, crenças, problemas, situações e causas. Alias, muitas vezes não sabemos distinguir as causas das consequências, os problemas dos efeitos e isso é reproduzido com uma forte propaganda de activistas e trabalhadores da mídia.
Não se resolvem os problemas dividindo os actores ou os sujeitos. A segregação já foi usada por muitas correntes políticas, religiosas e filosóficas para resolver problemas sociais e os resultados foram desastrosos. O dialogo, a humildade, a abstracção e o uso da razão podem ser as primeiras premissas para identificarmos os nossos problemas, as suas causas, as suas consequências e os nossos desafios.
Sei que te enrolei querida amiga, mas tinha que escrever deste jeito. Do jeito morder e soprar porque esta tarefa é também ingrata, na medida em que coloca-te a porta tanto da gloria como do calvário.
( Custodio Duma, www.athiopia.blogspot.com )
Querida amiga,
Venho debruçando-me sobre este tema há anos. É um tema difícil, sensível e de certa forma complexo. A verdade é que desde que te conheço, cada conversa nossa, atrai a cada dois minutos os direitos humanos e, mesmo assim, embora desgastante, não falta assunto.
Desta vez propus-me a escrever-te esta carta a abordar o problema dos direitos humanos e da violência ignorando a actualidade política do país, as eleições na África do Sul, as contas do Tribunal Administrativo, as incongruências da SADC, a nova faceta do MDC no Zimbabwe, a reflexão sobre a pobreza no país, a reunião de quadros da Frelimo, a desculpa esfarrapada de Jó Capece entre outros assuntos, só porque acho que o ser humano gosta de ignorar o essencial e diluir-se no periférico.
A violência, seja ela de que forma se manifesta, física, psicológica, moral ou outro, seja ela considerada em razão da provocação, em razão dos sujeitos envolvidas, seja qual for o prisma com que se observa ou se estuda o fenómeno, é comum, concordar que nada justifica o seu recurso.
A violência é a causa dos milhares de traumas que a gente conhece nas pessoas com que convivemos no dia a dia. É a causa de altos gastos do erário público e sobrecarrega tal as instituições de administração de justiça que preterem questões vitais da sociedade.
A violência destrui nações, desvirtua o conceito de humanidade e de solidariedade. A violência torna-nos lobos e leva-nos de volta ao estado de natureza onde só o mais forte sobrevive.
Quando a violência acontece em casa, ou envolvendo membros que conservam consigo laços familiares ou de parentesco, chama-se de violência doméstica e esta forma de violência, é, quanto a mim, a mais brutal de todas, embora em muitas situações tentemos encontrar argumentos para justificá-la.
Querida amiga, e o que tem tudo isso a ver com os direitos humanos? A questão fundamental baseia-se na dignidade da pessoa humana, ou seja, toda e qualquer forma de violência reduz de certa forma a dignidade humana.
Daí que, não se pode usar a violência para defender os direitos humanos, do mesmo jeito que não se concebem os direitos humanos num contexto violento. Penso que aqui reside o problema dos direitos humanos e da violência, na medida em que uns pensam que só com violência se resolve o problema dos direitos humanos e outros querem usar o discurso da violência como o Cavalo de Tróia para atingir seus fins pessoais.
Penso que, sobre a questão que coloco, a maior dificuldade dos activistas dos direitos humanos em Moçambique é de perceber o conteúdo dos conceitos (de direitos humanos e da violência). Assim, porque são eles que aos poucos vão educando os outros actores sociais, políticos, económicos incluindo a mídia, passamos a ter uma larga massa de actores com conceitos mutilados.
Infelizmente, esses conceitos vão sendo usados e reproduzidos como se fossem acabados ou os mais correctos que se podem ter e, na dificuldade de melhor explica-los começam os ataques e as cenas da violência. A violência é a filha da ignorância. Quem sabe usar da razão jamais opta pela violência, só se recorre a violência quando a mente está desprovida de inteligência.
Querida amiga, pensar-se que se resolvem as coisas pelo muito palavreado é falso. As vezes, as muitas palavras são o próprio impedimento à comunicação. É por isso que, alguns jornalistas, colunistas e editores de programas, aproveitam o espaço que têm na mídia para desinformar e complicar a mente das pessoas que realmente querem aprender.
Afinal de contas, muitos dos que têm o poder da mídia, não querem exactamente proporcionar ao cidadão aquilo que ele espera dela, que neste caso seria a formação, a informação e a educação. Muitos deles querem impor o seu status quo, a sua visão de vida e em última instância impor a ditadura do consumismo.
Ignorância da causa é uma estratégia antiga, normalmente usada para, como o próprio brocardo diz, desviar a atenção daquilo que realmente deve ser considerado, para se perder tempo em matérias sem necessidade. Se fores a reparar cara amiga, uma boa parte do debate que se tem levantado na actualidade está completamente desviado do essencial.
Populações pobres como a nossa, povos com índices bem elevados de analfabetismo, cidadãos desprovidos de políticas públicas realmente eficientes, carecem de actores e intelectuais que se dedicam ao debate com a luz da razão, infelizmente, a nossa terra não foi abençoada neste aspecto.
Querida amiga, penso que o maior problema dos direitos humanos e da violência no nossa país é a ignorância e a falta de capacidade de abstracção. Ignorância de causa e a mistura de conceitos, crenças, problemas, situações e causas. Alias, muitas vezes não sabemos distinguir as causas das consequências, os problemas dos efeitos e isso é reproduzido com uma forte propaganda de activistas e trabalhadores da mídia.
Não se resolvem os problemas dividindo os actores ou os sujeitos. A segregação já foi usada por muitas correntes políticas, religiosas e filosóficas para resolver problemas sociais e os resultados foram desastrosos. O dialogo, a humildade, a abstracção e o uso da razão podem ser as primeiras premissas para identificarmos os nossos problemas, as suas causas, as suas consequências e os nossos desafios.
Sei que te enrolei querida amiga, mas tinha que escrever deste jeito. Do jeito morder e soprar porque esta tarefa é também ingrata, na medida em que coloca-te a porta tanto da gloria como do calvário.
( Custodio Duma, www.athiopia.blogspot.com )
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