Thursday, 30 April 2009

Quem já deu o que tinha dar que se reforme…

Elasticidade política tem os seus limites

Beira (Canal de Moçambique) - Não é a multiplicação desenfreada de reuniões que vai salvar o convento. O barco já está metendo água e a estopa ou alcatrão que se coloque não é suficiente para impedir o naufrágio.
Os déficits em produção, a estagnação económica generalizada, a tendência negativa de realizar engenharias estatísticas para apresentar resultados satisfatórios não conseguem no seu conjunto desmentir os factos. O país está doente e em crise grave. Por mais que os seus comissários políticos teimem em apresentar um mar cor-de-rosa a coisa está mesmo feia...
Elasticidade política, que na prática não é mais do que demagogia camuflada serve objectivos de manutenção do poder e não outra coisa.
Com o controle absoluto dos recursos públicos é fácil distribuir guloseimas e conquistar o voto dos menos esclarecidos bem como a obediência dos que são essenciais nos diversos sectores e segmentos do panorama político nacional.
Quase sempre quem aparece em defesa do status quo tem alguma coisa muito importante a perder se algo mudar na liderança nacional.
Os receios de um cataclismo político são usados como factor de fortalecimento da coesão e obediência no seio dos partidos. Do ponto de vista ideológico a propaganda do partido no poder está manifestamente esgotada. Já nada de novo tem a oferecer ou a dizer. Tudo se resume a manutenção de regalias, prerrogativas, salários triplicados, vantagens, unilaterais, e os benefícios da impunidade absoluta no âmbito de sua acção predadora.
Há uma clara manifestação de falência de um modelo político. O recurso a um passado pretensamente glorioso não engana os moçambicanos. O ensaio de uma marcha em regresso ao passado que tem sido visível na actualidade não vai alterar a maneira de pensar das pessoas porque efectivamente todos já são adultos e suficientemente informados sobre os desígnios reais dos promotores de tal agenda. Mesmo o embrulho diferente de tais mensagens não convence. Está claro que estas mesmas pessoas, que durante décadas tem governado o país, já nada de novo trazem na bagagem. Com o poder em si continuamente perseguido só se tem verificado uma corrida para o enriquecimento dos seus detentores. Não há como negar que os “camaradas” se transformaram numa máquina eficiente de produção de corrupção. Também é evidente que os “camaradas” se especializaram em camuflar factos usando para tal o poder de impor linhas editoriais nos órgãos públicos de comunicação social e nos privados que dominam. Dão de comer aos moçambicanos shows e toda a gama de produtos visando domesticá-los e torná-los dóceis, obedientes e sobretudo pouco dados a analisar e criticar.
Brutalização mental é o objectivo final. Com recurso ao seu músculo financeiro, ao domínio inquestionável do acesso aos créditos bancários, à terra, montaram um esquema para se perpetuarem no poder. Mas estes autênticos elásticos políticos tem os seus limites. Os moçambicanos de um modo imperceptível tem aprendido a lição. O que antes engoliam sem questionar hoje é simplesmente vomitado. A aparência de normalidade e de desempenho positivo que se procura vender a todo o custo aos cidadãos é contrariada pelo entendimento e compreensão crescentes da situação real pelos mesmos. As pessoas já entenderam o jogo sujo.
O povo provou o fruto proibido da liberdade e da democracia.
Já não há como regressar ao passado. O espírito aprisionado saiu da garrafa e não há como fazê-lo regressar.
Nem a politização das Forças de Defesa e Segurança, do topo da hierarquia judicial, da direcção das empresas públicas, dos ministérios governamentais, tudo isso, não vai travar a democratização político-económica tão desejada pelos moçambicanos. A repetição enfadonha de discos partidos não embala o sono da maioria dos moçambicanos porque dormem com a barriga vazia. Já perceberam que depois das festas com que os foram enganando acabaram de barriga vazia. Quem em três décadas não conseguiu criar pelo menos condições para os seus idosos e mutilados não merece que se lhe dê mais tempo para provar algo do ponto de vista de capacidade para trazer progresso para o país...


(Noé Nhantumbo, Canal de Moçambique, 29/04/09)

Em Maringue e Cheringoma : “Frelimo monta homens para assaltarem residências de altos dirigentes da Remano

– Acusa a Remano considerando que está sendo provocada e obrigada a ter que desenterrar os machados de guerra esquecidos há anos.

Maputo (Canal de Moçambique) – A Renamo acusa a Frelimo de ter um grupo de forças de guarda fronteira recentemente treinado com o intuito de tomar de assalto as residências dos guardas de altos dirigentes da Renamo em Maringue e Cheringoma (Inhaminga). Considera que está sendo provocada de tal forma que serão obrigados a “desenterrar os machados de guerra esquecidos há anos”. A Renamo convocou na manhã de terça-feira (28.04.09) uma conferência de imprensa, para entre outras acusações, afirmar que dada a existência desses elementos de guarda fronteira naqueles pontos do País, curiosamente onde teve maior influência, “a Frelimo está a desrespeitar os Acordos Gerais de Paz Firmados em Roma em 1992”. Deu a conhecer igualmente a jornalistas que a existência do referido grupo de forças de guarda fronteira treinado com o intuito de tomar de assalto as residências dos guardas de altos dirigentes da Renamo naqueles distritos foi obtida com base em “informações de fontes fidedignas que o partido tem em todo o País”.
Entretanto, o secretário-geral da Renamo, Ossufo Momade, disse que “é triste que em pleno século XXI Guebuza e seus sequazes, movidos pela ambição desmedida pelo poder ainda pensa em derrubar a Renamo por via da força armada. É uma utopia construída a partir do Comité Central da Frelimo”.
Ossufo Momade disse também que a Renamo sempre pautou pela manutenção da paz, tranquilidade e pelo bem-estar do povo moçambicano, razão pela qual convocou a conferência de imprensa para “alertar à sociedade moçambicana e ao mundo em geral sobre os confrontos que se avinham provocados pela Ignorância e desrespeito aos Acordos de Paz perpetuados pela Frelimo e seus seguidores”.
Por outro lado, a Renamo considera que a Frelimo por várias vezes tentou aniquilar a Renamo mas sem sucesso. “Várias tentativas nesse sentido fracassaram e muitas outras ainda serão esmagadas. A Renamo está atenta a todas as manobras dos belicistas comunistas e cobardes da Frelimo que sempre a todo custo semearam a continuam a semear o ódio e o luto no seio dos moçambicanos”. Ademais, Ossufo Momade, como quem reconhece que nas vésperas das eleições tem havido muito protagonismo e acusações infundadas entre os partidos políticos, disse “este tipo de tentativas sempre se repete quando se avizinham os pleitos eleitorais. Como é sabido neste ano a 28 de Outubro irão decorrer as eleições gerais e provinciais e o partido no poder ensaia diversões militaristas”.
De acordo com Momade, muitos moçambicanos serão sacrificados e “a Renamo ordena desde já que medidas de contra-ataque sejam levadas a cabo de forma a pôr cobro a todo o tipo de situações que pretendam pôr em perigo a paz nacional”.
Aliás, a Renamo através do seu secretário-geral entende que o referido grupo de guardas de residências de altos dirigentes da Renamo que supostamente vai ser atacada pela força de guarda fronteira da Frelimo, pratica nos distritos em alusão várias actividades para o seu auto-sustento. “Eles vão tirando o seu rendimento agrícola para o sustento da suas famílias e, daí, vão se rendendo em missão de serviço partidário para todas as delegações políticas provinciais em todo o País”.

“Fontes da Renamo não mentem”

Ossufo Momade quando questionado pelo «Canal de Moçambique» qual é o cenário concreto e claro que lhe dá a entender que referida a força armada é da Frelimo e foi treinada para tomar de assalto as residências dos guardas de altos dirigentes da Renamo em Maringue e Cheringoma, respondeu que “as nossa fontes não mentem. Elas nos informam de tudo o que acontece pelo País. Este é um assunto sério e não é por causa dessas informações que estamos a levá-lo ao público”. Contou que no mês de Fevereiro do ano corrente, alguns elementos da Força de Intervenção Rápida (FIR) “dispararam contra a nossa posição na zona de Grava e não tiveram uma resposta”. Disse também que em Outubro de 2007, a mesma FIR “flagelou os lugares onde vivem os nossos quadros e não tiveram resposta. E neste momento temos informações de que está sendo armada uma força de guarda fronteira para ir atacar as residências nos nossos quadros. O que vier depois disto não será da nossa responsabilidade”.

(Emildo Sambo e Conceição Vitorino, Canal de Moçambique, 30/04/09 )

Obama snubs Zuma




Pretoria - Twenty-one heads of state have so far confirmed they will be attending ANC leader Jacob Zuma's inauguration as the country's fourth democratically-elected president, the foreign affairs department said on Wednesday.
Director general Ayanda Ntsaluba told the media in Pretoria that confirmations were continuing to flow in for the May 9 festivities. The foreign delegate's list would become clearer around Monday or Tuesday.
"So far 21 heads of state have confirmed that they are coming and there are also 20 other countries that would be coming."
Ntsaluba said the 20 other countries would be represented mostly by their foreign ministers and special envoys.
He would not elaborate on which heads of state would come, as it was a "sensitive matter" and there were security concerns. He did however confirm that US President Barack Obama would not be present.
Meanwhile, preparations for the approximately R75m inauguration at the Union Buildings were well under way with workmen busy and scaffolding scattered across the grounds.

- SAPA

Wednesday, 29 April 2009

Azagaia: “Não podemos continuar calados”

“Tenho consciência disso, mas penso que a política, actualmente em Moçambique, serve muito mais a uma minoria que à maioria. Porquê deixar-me-ei levar por políticas que não me favorecem, ou que não favorecem a maioria dos moçambicanos?”

Por que é que assume, digamos, está forma peculiar de intervenção social, sendo um jovem de uma geração que toda a gente diz ser conformista, que não faz intervenção?

Eu acredito que isto tem muito a ver com o meu historial, que não é diferente do de outros jovens. Venho de uma família de classe média, até talvez, média/baixa. Passei por algumas situações não boas na vida e luto por dias melhores, e acho que isso é igual para a maioria dos jovens. Desde cedo, comecei a cultivar o gosto pela literatura, que me foi incutido, principalmente, pelo meu pai e por amigos. Entrei em contacto com a poesia de José Craveirinha. Acredito que seja a poesia de Craveirinha, acima de tudo, que lançou em mim esta semente de irreverência, se assim quiserem chamar. Apaixonei-me pela luta de libertação nacional nas suas várias frentes. Não só a luta armada, mas também a luta através da escrita, da poesia de Craveirinha e de textos de vários escritores moçambicanos.

Azagaia é uma lança curta que é usada como arma de arremesso por caçadores. Por que escolheu Azagaia como seu nome artístico?

Quando escolhi este nome, não sabia que me tornaria o Azagaia de hoje. Na altura, era mesmo por questões de cultura e também musicais. Quando comecei a cantar rap, havia um grupo que se chamava Dinastia Bantu, que era mesmo para contrastar um pouco esta realidade de os rappers moçambicanos se inspirarem, completamente, em rappers americanos e usar nomes ingleses. Nós procuramos nomes que têm algo a ver connosco para, depois, tentar começar a luta por não só sermos globalizados, mas, se calhar, como forma de aproveitar essa informação que nos chega, para criarmos uma coisa que tem a ver connosco moçambicanos. É por que surge o nome Azagaia. Coincidentemente, veio mesmo a calhar porque, actualmente, tenho esta postura directa de fazer crítica social e há quem diga política também. Daí, por um capricho do destino, a minha postura na música tem muito a ver com o nome que adoptei há quase dez ou quinze anos.
Numa altura em que há muita gente que se furta de expressar aquilo que pensa, que opta pelos discursos politicamente correctos, você envereda por um discurso contundente, digamos, directo.
Tem consciência de que está a ser politicamente incorrecto?

Tenho consciência disso, mas penso que a política, actualmente em Moçambique, serve muito mais a uma minoria que à maioria. Porquê deixar-me-ei levar por políticas que não me favorecem, ou que não favorecem a maioria dos moçambicanos? É um pouco por aí que eu penso. Porquê devo estar ou ser politicamente correcto? O que ganho com isto? Tu és cidadão moçambicano e és politicamente correcto, mas continuas com fome, com dificuldades na educação, continuas a caminhar, na minha óptica, pelas políticas que são adoptadas agora um pouco para o abismo. É com muita insatisfação e dor que eu vejo, por exemplo, a questão da passagem semi-automática da 1a a 5a classe. Quando fiz essas classes não havia isso. Hoje, temos muitos alunos a transitar de classe, mas quando chegam à 5a classe é aquela vergonha. Não sabem, muitas vezes, ler nem escrever. E pergunto, como vou continuar a ser politicamente correcto perante esta situação, perante uma polícia muitas vezes inoperante, que até hoje carrega armas de fogo e diz que defende o povo dessa maneira? Eu acho que estamos a caminhar para um colapso. E as mudanças aparecem nestas alturas em que se chega ao limite. Há necessidade de mudar e não se muda com discursos politicamente correctos. Vamos deixar estes discursos para os políticos. Nós estamos a falar de realidades terra-a-terra, do que vivemos todos os dias.

É isto que o inspira nesse seu espírito itinerário a escrever essas letras com a contundência que escreve?

Acima de tudo. Estamos todos a convergir para a mesma coisa. Eu vejo maior irreverência agora na comunicação social. Os jornais tendem a abordar questões que, se calhar, há quatro ou cinco anos, não teriam essa coragem. Temos casos de jornalistas que já estão a ser processados pelo Governo. Isso é bom sinal. É sinal de que existe agitação, está-se a produzir mudanças. Costuma dizer-se que quando um professor entra para uma sala de aula, quer ter uma turma que interaja e não que simplesmente ouve e vai anotando, porque, neste último caso, quando o professor sai da sala, não sente que esteja a produzir conhecimentos. É algo necessário. Isso é que é ter uma sociedade democrática, que respeita as várias opiniões, acima de tudo. Não podemos continuar calados.

"Nunca tive paz desde o momento que decidi enveredar por esta linha"

Sobre a primeira música “Mentiras da Verdade”, foi um despertar da sociedade. Surpreendeu muita gente pelo conteúdo. Ninguémconhecia o Azagaia. Porquê “Mentiras da Verdade”?

Bem, “Mentiras da Verdade” surge numa altura em que eu começo a questionar muitas coisas que eram dadas como verdadeiras, mas que, ao mesmo tempo, existiam correntes segundo as quais aquela ditas verdades eram mentiras. Existe muita contradição e manipulação a nível dos órgãos de informação. Por exemplo, nós temos o jornal mais antigo, que é o jornal Notícias, cujo carácter, em termos de informação, é sempre politicamente correcto. Depois, começam a existir jornais que abordam a outra face dos mesmos factos. E aí surge uma confusão e questiona-se: afinal, qual é a verdade? É esta questão que nos leva à procura da verdade, que nos fará perceber algumas mentiras naquelas verdades que nos são ditas. Daí, o surgimento dessa expressão “As Mentiras da Verdade”.

É uma viagem de descoberta...

Exacto. Nós temos que viajar e questionar. A viagem começa com a morte do presidente Samora Machel. Ensinaram-me que morreu num acidente, mas que hoje se questiona. Existe um processo-crime para se averiguar se realmente se tratou de um acidente ou assassinato. Se formos a viajar pela história, poderemos encontrar várias coisas parecidas com estas. Encontraremos os casos da morte de Mondlane, do jornalista Carlos Cardoso, de Siba-Siba Macuácua, cujas verdades as pessoas querem saber. Se se não souber a verdade sobre estes casos, continuaremos intimidados. Nós queremos saber quem está por detrás disso, de modo a que não possamos continuar reféns de uma minoria. O que percebo é que estão a esconder os factos, a negar a história ao seu povo para continuarem no poder.

Acredita que há uma manipulação da nossa história?
Acredito.

O que o faz crer nisso?

Há várias fontes que se contradizem. Existe aquela história que não sei se se pode considerar institucionalizada, visto ser a que se aprende na escola e que diz as coisas de uma determinada maneira. Quando saímos um pouco, encontramos outros autores que defendem outras coisas. Eu falava de mortes, por exemplo, em torno da morte de Eduardo Mondlane, existe agora uma polémica. Afinal, Eduardo Mondlane morreu no seu escritório ou não? E se foi morto pela PIDE, houve ou não conivência de gente do partido? Qualquer um que faz investigação à volta da história de Moçambique encontra estas dúvidas. Onde há fumo há fogo. Alguma coisa não está bem explicada aqui e eu acho que é altura de se revelar isso às pessoas. Há quem defenda que talvez quando certas pessoas deixarem o mundo dos vivos é que iremos a saber. Se calhar seja a resposta mais sensata, mas nós como povo moçambicano temos direito de conhecer a nossa história, como ela é de verdade, com os seus podres ou não.

Já percebi que se inspira no nosso processo histórico, na nossa realidade do dia-a-dia, para escrever as suas letras. Como é que depois selecciona os temas das suas letras? Escreve sozinho? Conta com ajuda de alguém?

Escrever sozinho acho um pouco difícil. Tenho vários amigos com quem converso, dos quais, alguns me ajudam. sempre que tenho uma ideia consulto determinadas pessoas de modo a que me dêem certos contributos. A partir daí, tomo a decisão. Porque são temas bastante sensíveis, eu não posso ser completamente egoísta na produção.

Acha que as pessoas têm medo da mudança?

Acho, sim. Sinceramente, julgo que nós fomos ensinados a ter medo da mudança. Existe esta coisa toda de estarmos reféns ao mesmo partido durante mais de trinta anos, o que nos faz ficar tão habituados a esta realidade que não conseguimos espreitar e pensar como seria se não fosse assim.
É um efeito manipulador que existe. Por exemplo, o que se diz é se a Frelimo deixar de governar, a primeira coisa que o próximo partido vai fazer é roubar(...). Não quero dizer que sou contra a Frelimo ou coisa parecida. Eu acho que se estamos a falar de democracia tem de a ver rotação de poder. Um poder absoluto para um grupo de pessoas vai corrompê-las e nós é que vamos continuar reféns.

Diz, numa das suas músicas, que não tem medo de ser calado. Não tem costas quentes e nunca foi alvo de ameaças relacionadas com as suas músicas?

De uma forma geral, não. Simplesmente uma vez fui alvo daquilo que eu considero uma intimidação indirecta. Foi a primeira vez que senti que estava a começar uma coisa mais séria para me tentar calar. Considero aquilo um processo de intimidação. Foi a única vez que senti que estavam a tentar calar-me.

Foi ouvido pela Procuradoria. De que o acusavam?

Bem, fui acusado de tentativa de...já não me lembro do termo (...), mas depois de me ouvirem, decidiram emitir uma nota que dizia nada foi encontrado que me incriminasse. Fui ilibado. Foi uma fase difícil para mim, para a minha família e para as pessoas à minha volta.

Como se sentiu nesse momento, quando estava a ser acusado pela Procuradoria-Geral da República?

Bem, tentei manter-me calmo. A primeira coisa que eu procurei saber é se eu tinha cometido um crime. Antes de entrar em pânico, procurei ajuda da Liga dos Direitos Humanos. Fui acolhido de braços abertos. Já agora, mais uma vez, agradeço à mãe Alice, como costumo tratá-la, que me apoiou desde o primeiro minuto, pondo à disposição advogados e fazendo-me perceber que eu não tinha razão para temer. Que eu estava, simplesmente, a exercer um direito que tenho de me expressar. Fui aconselhado a não andar em sítios muito concorridos. há quem chegou a dizer-me que tinha de ter cuidado porque, por exemplo, podia morrer por envenenamento. Senti, de perto, um pouco a possibilidade de partir desta. Hoje em dia, se calhar, sou um pouco precavido. Embora saiba que se me quiserem despachar, não vai ser problema, sou um pouco precavido por causa disso.

Sentiu isso como uma atitude deliberada do poder político para o calar?

Sim, senti. Não posso prová-lo. Aliás, nós estamos muito à volta disso. Há muita coisa de que quase temos a certeza, mas que não podemos provar. Eu não posso provar. Mas sentir, senti.
Mas antes disso, sentiu alguma pressão por causa do trabalho que faz, da linha que escolheu?
Sempre. Eu nunca tive, digamos, paz desde o momento que decidi enveredar por esta linha. Nunca tive paz, porque sempre tive gente de vários sectores da sociedade a tentar aconselhar-me. Aquilo que eu chamo “povo” sempre deu-me força. Até aos dias de hoje, as pessoas (o povo) quando me encontram, sempre me encorajam. mas as pessoas que estão ligadas ao governo, ao partido que está no poder, ligadas directa ou indirectamente, simpatizantes ou algo parecido, sempre e de várias maneiras me aconselharam a parar.

Começou com “Mentiras da Verdade” e a seguir veio a música “Marcha”. No primeiro tema, parece fazer constatações. No segundo, parece já levar o seu esforço para mais adiante. Parece que passa, digamos, para a acção. um convite à insurgência. É esta lógica que está subjacente nas suas músicas? um apelo a uma acção permanente?

Sim. tenho estado a combater o adormecimento da sociedade. Quando digo “Ladroes fora, corruptos, assassinos fora”, quero mesmo dizer isso. Não quero dizer outra coisa. Eu acho que todos nós temos de ser polícias. Porque esta coisa de mudança não é simplesmente um processo onde o povo está contra a minoria que manda. Não é só isso que eu quero dizer. Se as pessoas ouvirem atentamente a versão que está no disco, que é mais longa, eu digo, mesmo entre nós. não é atirarmos as culpas. Por exemplo, a corrupção existe a nível da função pública e deve ser combatida. É certo que, eu penso, o exemplo deve vir de cima. Se temos casos de corrupção a serem abafados, por exemplo, se um ministro que está a ser acusado, está à beira de sair ileso desse processo todo, por que é que eu cidadão, que ganho muito pouco, não vou usar essa via ilegal?

Estão a faltar modelos ainda?

Sim, estão a faltar modelos. A nossa sociedade carece muito de modelos. Eu acho que isto é, se calhar, uma coisa boa que podíamos ir buscar no sistema anterior - o socialismo. Acho que é algo que se impunha. Os governantes, para além de governar, devem ser modelos. Isso é muito importante. Mas, atenção, não estou aqui a querer dizer que a partir de agora, se um ministro é corrupto, eu tenho de ser também corrupto. Eu estou a querer dizer que é importante que se analise esse processo todo antes de se tirar conclusões.

A sua música parece estar em contra-mão com o discurso político do momento. Vejo o exemplo na música “Combatentes da fortuna”. Fala de combater a riqueza absoluta antes da pobreza absoluta, porquê?

Só para corrigir, isso pertence ao tema “A Marcha” e, realmente, falo disso. Se calhar, fosse bom exercício trocar um pouco os papéis. As pessoas que detêm o poder passassem um pouco para o lado de cá (dos sem poder) e tentarem perceber o que é que o cidadão sente, quando acorda de manhã: falta de pão, graves problemas de transporte. Irem para a avenida Guerra Popular, local por onde sempre passo. É uma vergonha ver o governo moçambicano a desresponsabilizar-se e entregar os transportes aos privados. Se as pessoas que estão no poder passassem um pouco para este nosso lado e, depois, olhassem para as regalias todas que têm, iriam perceber a raiva, a revolta que o povo sente. Se calhar, o povo moçambicano é pacífico ou coisa parecida. Sinceramente, existe uma série de regalias que os homens do governo têm e que acho serem completamente absurdas, a partir de tais carros protocolares de que tanto falam, passando pelo facto de terem tudo pago, até aos salários astronómicos que os nossos deputados recebem, enquanto as pessoas que realmente trabalham todos os dias ganham muito pouco. Sinceramente, por que é que se está a alocar uma boa parte daquilo que é o orçamento do estado para sectores como a defesa, a guarda do presidente? Ouvir o que vai ser o orçamento do estado e percebe-se que se está a deixar reduzir o orçamento em áreas-chave, como a saúde. Esta distribuição de riqueza está errada...

Sendo um artista de intervenção social permanente, acha que o que escreve e canta corresponde, de facto, ao sentimento de parte significativa dos moçambicanos? Acha que os moçambicanos se revêem nas letras que o Azagaia escreve?

Bem, quando escrevo, principalmente falo daquilo que eu sinto e sou. Como um ser que está integrado numa sociedade, onde existem outras pessoas iguais a mim. São essas pessoas que sentem o mesmo que eu sinto. Pelas respostas que eu tenho das pessoas que ouvem a minha música, penso que sim.

Ou o Azagaia funciona como um escape para aquelas pessoas que não têm coragem de expressar o que têm para dizer...

Penso que sim, embora ache que há responsabilidades que deveriam ser partilhadas. Devia haver mais gente a fazer o mesmo, porque um homem ou uma pessoa só não é capaz.
Azagaia notabiliza-se por dizer tudo quanto pensa. Vou buscar uma frase do filosofo Aristóteles que diz “o homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz”. Não acha que, de alguma maneira, em alguns momentos, o Azagaia é imprudente?
Eu não digo tudo quanto penso.

Acha que há muita gente que gostaria de dizer o que Azagaia diz, mas não diz? Um escritor congolês disse, um dia, que “nenhuma sociedade progride se não fizer a sua autocrítica e se os pensadores críticos não se puserem contra a corrente dos bem pensantes”. O Azagaia revê-se nessa frase certamente...

Sim, acima de tudo. ouvi pela primeira vez esta frase com o sociólogo Carlos Serra. Agora, já estou a ver de onde é que vem. Se nós estamos na luta para acabar com a violência doméstica, o que é que estamos a fazer concretamente? Estamos a aceitar que existe violência, estamos a criticar esta violência, estamos a arranjar meios legais para penalizar as pessoas que praticam esta violência? É este processo que existe nos pequenos problemas sociais. É o que deve acontecer a nível global. Não é algo de outro mundo. Esta coisa de autocrítica é fundamental...

Tendo esse seu carácter politicamente incorrecto nas suas líricas, qual é a sua relação com os media públicos? Como sente que é recebida a sua mensagem? Passam normalmente as suas músicas ou há tendência de evita-las? Como é que vê isso?

Se formos a olhar para a TVM, que é o canal público que o estado financia, facilmente perceberemos que não vai querer ir contra aquilo que são as posições políticas do governo do dia. E, quando censuram a minha música, quando não passam a minha música, simplesmente estão a confirmar isso.

Sente que existe essa censura na sua música?

Existe claramente. As minhas músicas, os meus vídeos, basicamente não passam na TVM (...). Caso similar verifica-se com a Rádio Moçambique, que também censura a minha música. Raras vezes passa ou não a passa tanto quanto as outras músicas. Já soube de ordens internas para que as minhas músicas não passassem. E depois as ordens internas são realmente muito boas para cumprir com os seus objectivos.

Que ideia é que o músico Azagaia tem do nosso país fora aquilo que ouvimos nas suas músicas?

Eu penso que Moçambique é um país jovem. Tem gente com vontade de trabalhar, o que é propício para o desenvolvimento. Estamos cada vez mais a descobrir e a potenciar os nossos recursos naturais. Temos uma juventude que pode ser acordada. Não há nada que se possa dizer isto é impossível fazer em Moçambique. Acho que é um país próspero.

Mas há quem ouve as suas músicas e fica com a percepção de que está tudo mal. Será isso?

Não é bem isto, que esteja tudo mal. Mas, se calhar, eu seja o músico que aponta os problemas. E quando aponto os problemas é que quero soluções. Não que queira dizer que esteja tudo mal. É um pouco por aí. Cada artista tem o seu carácter.

O Azagaia é um militante político na forma como faz a música. Uma das suas músicas diz que pertence ao partido da verdade e que não tem assento no parlamento.

A política não é feita só no parlamento. A política é feita todos os dias. Um chefe de família tem uma política dentro de casa. Então eu acho que todos somos um pouco políticos. Se calhar, quando me chamam artista político na tentativa de me catalogarem e me afastar, pôr-me num grupo (...). Existe uma tendência das pessoas não gostarem de política. Dizem que a política é chata. Mas isto é errado. Se calhar, a culpa não seja muito das pessoas. Se a política fosse explicada de uma forma mais acessível para as pessoas e se essas pessoas percebessem como ela interfere nas suas vidas, podiam entrar mais para isto. Dizer que eu sou um militante político penso que sou como o somos todos nós.

Tem simpatias por algum partido especificamente?

Tenho simpatia, sim, por um partido político. É o MDM que foi recentemente criado. Sou simpatizante do partido.

O que é que o faz acreditar no MDM?

Antes de eu acreditar no MDM, sempre tive a convicção de que a solução dos problemas que nós temos agora é existir uma terceira, uma quarta ou quinta forças. Não podíamos continuar nesta coisa de Frelimo-Renamo, porque é um jogo muito fechado. Há muita gente que diz, por exemplo, existe dinheiro da Frelimo a ir para Renamo. E, por causa disso, há muita confusão. Há tentativa de compra deste e daquele. Isto é muito fácil quando temos um jogo entre duas forças políticas. Mas quando o jogo começa a passar para três, quatro, esta possibilidade começa a diminuir. E, se calhar, estaremos cada vez mais perto de vivermos um exercício democrático muito mais próximo daquilo que é a definição. Antes de eu apoiar ou ser simpatizante da existência de um partido como o MDM, sou simpatizante desta ideia de que não podemos continuar nesta linha de bipolarização política.

O que acha que faz de Daviz Simango um líder diferente dos da Frelimo e da Renamo?

Penso que, acima de tudo, são as obras. Já fui várias vezes à Beira e pelo que posso ouvir dos beirenses é que Daviz Simango, no seu primeiro mandato, fez alguma coisa de positivo pela Beira. E não fazia sentido, na minha opinião, tira-lo de lá. Ou que se não lhe desse a chance de concorrer. Foi o que acabou acontecendo. Então, esta tendência que eu sinto nele deve-se à sua apetência de mostrar trabalho, ao invés de discursos. Acho que é isto o que está a faltar nos nossos líderes. O que também dizer, que também afirmei na Beira, é que agora as pessoas dizem que eu sou frelimista. Não importa se a Frelimo faz mal ou se faz bem. Eu sou Frelimista até à morte. Eu sou Renamista. Não importa se faz bem ou mal. Eu sou renamista. Isto é o problema. Então, se eu actualmente sou simpatizante desta ideia da criação deste movimento, MDM, porque acho que sim, temos que dar oportunidade às outras pessoas de trabalhar e mostrar que podem fazer. E, enquanto continuar, na minha opinião, e se aparecer uma opção válida, eu vou apoiar. Quando deixarem de aparecer eu também não vou apoiar. É isto o que é importante que aconteça.

Nota-se, nas suas músicas, algum desencanto com os políticos libertadores de África, no caso particular, que nos seguraram a independência. Numa das suas músicas, até diz “operários, camponeses na trilha da revolução. Eles eram os nossos deuses a quem fazíamos a adoração. Donos dos nossos interesses, símbolos de idolatração. Vocês não são libertadores. São combatentes da fortuna e a liberdade existirá até onde for essa fortuna”. O que quer dizer?

Como disse, combatentes da fortuna, é possível que seja um termo a ser introduzido, porque hoje em dia nós temos gente que tem riqueza acima dos seus rendimentos.

É mais uma vez uma antítese aos combatentes da pobreza?

É um pouco disso também. Mas veja, quando olharmos para África, verificamos que os partidos que estão no poder são, basicamente, aqueles que foram libertadores. Foram os libertadores, fizeram a guerra para libertar o povo, a terra. E este espírito de libertação morreu, na minha opinião. Hoje em dia, temos estes mesmos combatentes ou antigos combatentes, na minha opinião, a não combaterem pelo povo, mas a combaterem pela fortuna. A combaterem por mais bens, por mais regalias.

O interesse individual sobrepôs-se à causa colectiva...

Sim, acima de tudo. Se calhar, fazer um pouco minhas as palavras de Mia Couto que disse aqui, muitas vezes, que aquilo que combatemos é aquilo que actualmente estamos a apoiar. Se ontem nós tínhamos José Craveirinha a escrever porque defendia que o povo podia ser libertado, hoje, nós temos órgãos de informação a censurar músicos, escritores que dizem o que pensam, que acham que, de alguma maneira, devemo-nos libertar de alguns vícios. Ontem, apoiavam um determinado comportamento e hoje a condená-lo (o mesmo comportamento). É por isso que eu digo combatentes da fortuna. Quando nós começámos, estávamos todos juntos e éramos como camponeses, operários. Todos mobilizados para libertar a terra. Hoje, há essa separação. Existe um grupo que cada vez mais se distancia do povo que disse que amava. Hoje, passam por nós dentro dos seus Mercedes e com os vidros fumados. E nem sequer olham para nós.

( Jeremias Langa , em O País )

Tuesday, 28 April 2009

MDM já é partido político - revela Geraldo Carvalho, porta-voz de Daviz Simango


Ministério da Justiça acaba de despachar processo de legalização

Maputo (Canal de Moçambique) - O Ministério da Justiça de Moçambique já aprovou a constituição do MDM – Movimento Democrático Moçambicano como partido político. Depois do despacho favorável da respectiva ministra, Dra. Benvinda Levy, está cumprida a etapa decisiva da legalização da formação política dirigida por Daviz Simango. Neste momento falta apenas a publicação do despacho em Boletim da República para que o processo culmine com eficácia, mas já é irreversível em termos legais. A informação foi ontem revelada, na Beira, pelo porta-voz do MDM.
Carvalho, que falava em exclusivo ao “Canal de Moçambique”, disse que a legalização do partido começou com a emissão da certidão negativa a reconhecer que não existe nenhum outro partido com o mesmo nome: MDM (Movimento Democrático Moçambicano).
O Galo é o símbolo exclusivo da organização.
De acordo com a fonte, o processo que havia sido remetido ao Ministério tem agora a assinatura da ministra, faltando apenas a sua publicação no jornal oficial do Governo – o Boletim da República. “O MDM aguarda agora que o processo siga os seus trâmites normais finais, pois é preocupação de muitos moçambicanos que esta força política tenha a sua existência jurídica, para que possa trabalhar, em prol da salvação deste País”, disse Geraldo Carvalho ao «Canal».
“Está-se ainda dentro dos prazos. Esperamos que o passo final, a publicação no BR aconteça nos próximos dias”, concluiu o porta-voz do MDM.

Reacção às acusações da Frelimo
Numa conferência de imprensa na Beira, Geraldo de Carvalho pronunciou-se sobre a reivindicação do Partido Frelimo, sobre o slogan “Moçambique para Todos” que o MDM usa desde que iniciou o seu processo de legalização com a realização da Assembleia Constituinte no início de Março e que entretanto, desde a Reunião de Quadros na Matola, o porta-voz da Frelimo começou a usar dando azo a uma polémica sem precedentes com Edson Macuacua a alegar que Armando Guebuza já usava tal terminologia em discursos que fez há tempos atrás. Macuacua apareceu inclusivamente com os discursos do presidente do seu Partido a tentar provar que a partenidade pertence a Guebuza.
A frase “Moçambique para todos” que o MDM adoptou como seu slogan e o partido Frelimo está a tentar resgatar, numa atitude comentada pela opinião pública como um acto de desespero, é há anos a designação de um blog na Internet, de Fernando Gil, que aborda diária e regularmente, a partir de Portugal, questões de Moçambique.
Geraldo Carvalho na Conferência de Imprensa de ontem citou Edson Macuacua a afirmar que o MDM ter-se-ia apropriado do que é da Frelimo, alegando que em algum momento “o senhor Armando Guebuza” já terá proferido discursos com aquele sentido.

“De Moçambique para todos a Frelimo nada tem”
Reagindo, Carvalho afirmou: “Voltamos a afirmar que o slogan é genuíno do MDM. De Moçambique para todos a Frelimo não tem nada. Um Moçambique para Todos, na visão frelimista, é um país onde prevalece a exclusão, um Moçambique em que os que dirigem todas as instituições públicas são pessoas da simpatia da Frelimo. A visão frelimista de Moçambique para Todos é onde quem não é membro da Frelimo não beneficia de nada, nem de projectos «comida por trabalho», nem de produtos de apoio às vítimas de enxurradas. É isso que a Frelimo quer considerar quando fala de Moçambique para todos?” “Moçambique para todos no conceito da Frelimo é exclusão mas com o MDM a Frelimo se prepare para ir a oposição e aprender o que é de facto Moçambique para todos”, sustentou Geraldo Carvalho.
“Quando o senhor Edson Macuacua vem dizer que tem documentos elucidativos de que em alguma vez o senhor Armando Guebuza terá se referido a Moçambique para todos, nada mais resta a Frelimo, senão a alternativa de aceitar ir para a oposição, juntando-se à Renamo para ver o verdadeiro Moçambique para todos com o MDM no poder”.

Mazanga acusa Daviz Simango
Entretanto, o porta-voz do partido Frelimo não está só na sua militância contra o novo partido moçambicano liderado pelo filho do fundador e único vice-presidente que a Frente de Libertação de Moçambique na sua génese que culminou com a Independência de Moçambique. O porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, também entrou na jornada de ataque ao MDM.
Segundo Carvalho Mazanga “pronunciou-se em público e diss que Daviz Simango é traidor porque terá saído da Frelimo, PCN, Renamo, e agora está no MDM. Quem é o verdadeiro traidor se o próprio Fernando Mazanga uma vez diante do seu líder apareceu a dizer que mesmo colocando uma pedra na Beira haveria de ganhar as eleições? Hoje quem ganhou foi a pedra? Há muita incongruência naquilo que a Renamo fala e faz: Quem é o verdadeiro traidor, começando pela situação do Município de Nacala onde a Renamo dizia que não iria entregar as chaves, e que os seus membros da assembleia municipal não iriam tomar posse? O próprio Mazanga, na qualidade de membro da Assembleia Municipal de Maputo tomou posse. Quem é o verdadeiro traidor? Portanto, falar da história da Frelimo, MDM, ou sei lá de quem for em nada avulta. Nós sabemos que o senhor Afonso Dhlakama foi milícia do Jorge Jardim e depois foi da Frelimo, agora é da Renamo. Quem sabe amanhã torna-se membro do MDM? O próprio Mazanga tem que saber quando lhe mandam falar algo é preciso reflectir, depois vir a publico. Quem sabe que é traidor prima por acusar os outros de traidor. Que o Mazanga continue a coçar-se para aliviar a comichão que tem, porque traíram o povo moçambicano. Em 1994 veio chorar dizer que a Frelimo roubou votos, mas em contrapartida vimos muitas vezes o líder da Renamo chamar meu irmão ao ex-presidente do País, a Joaquim Chissano. Um aparecia a dizer que não tomaria posse, simulando negociações, mas a seguir chamava meu irmão a Chissano. Neste momento, Mazanga e Dhlakama estão a pagar as falhas por eles cometidas. Daviz Simango não é traidor, nunca teve intenções de concorrer como candidato independente. Antes pelo contrário, foram as bases que o obrigaram a concorrer com independente, foram as bases que acreditaram que Daviz Simango iria derrubar a pedra que a Renamo ira trazer para a Beira. Foram as bases que decidiram que com Daviz Simango podemos avançar e criar uma governação mais plausível, participativa, em que todos os moçambicanos têm os seus direitos. Que a Renamo e Fernando Mazanga, Edson Macuacua e a Frelimo aprendam a calçar botas nos pés e a usar luvas”.
As acusações ao MDM e a Daviz Simango não encontram precedentes, em termos de comportamento reactivo, quer do Partido Frelimo, quer do Partido Renamo, aos seus opositores legalmente constituídos em Moçambique. No país há agora quarenta e tal partidos registados e nunca o aparecimento de algum desses suscitou tanto nervosismo e desconforto às duas formações políticas que têm monopolizado o exercício político em Moçambique – o Partido Frelimo, no poder, e a Renamo, na oposição.


( Adelino Timóteo,Canal de Moçambique, 28-04-09 )

Monday, 27 April 2009

Chicken a la carte




Este video tocou-me porque trata de um modo muito sensivel o problema da fome. Para que o som nao interfira, por favor desligue/pause a musica de fundo deste blog, no fundo desta pagina, no lado direito, no playlist

O papagaio delirante da Frelimo



Na edição de hoje de " O País ", Edson Macuácua, o papagaio delirante da Frelimo, insiste na mesma verborreia de sempre em que o MDM ainda não está legalizado e usa o ódio como instrumento de trabalho. A quem convence este tipo de discurso?

Curiosamente, este papagaio vem defender que afinal o slogan " Moçambique para Todos " não pertence ao MDM mas há muito que é usado pela Frelimo. E quem acredita nisso?

Mais uma vez fica provado que a Frelimo é um Partido falho de ideias novas e que neste Partido o que é bom não é original e o que é original não é bom!

Rádio Frelimo



Desta vez estou mesmo assustado.
E o susto começou no domingo passado e tem vindo a crescer desde essa altura.
Sou ouvinte habitual da Rádio Moçambique e a sensação desagradável foi nascendo, ao fim da tarde, quando comecei a dar conta de mudanças na programação habitual daquela emissora para ir deixando espaço de antena disponível. Rapidamente me apercebi do porquê: estavam à espera do encerramento de reunião de Quadros do partido Frelimo e queriam tempo para transmitir o encerramento em directo.Não achei correcto. A Frelimo é, neste momento, um de muitos partidos moçambicanos e os procedimentos não podem ser os mesmos que eram no tempo do partido único em que a Frelimo se confundia com o Estado moçambicano.
Assim como a Rádio Moçambique não fez a cobertura das actividades dos outros partidos, também não pode estar agora a fazer isto com este.
Mas o encerramento foi muito mais tarde e não sei como foi a cobertura radiofónica.
Só que, entretanto, chegou a hora da segunda edição do RM Jornal e o seu editor, Leonel Matias, informou-nos detalhadamente sobre as opiniões do porta-voz da Frelimo sobre o encontro de Quadros. Logo a seguir chamou o jornalista Custódio Rafael, no local do encontro. Este nada mais fez do que dar a palavra, novamente, a Edson Macuácua. E este falou, falou, falou, sem ninguém o interromper, sem qualquer pergunta, nada. Falou até se cansar. Não medi o tempo mas terão sido, de certeza, mais de 5 minutos, o que num jornal radiofónico é muitíssimo.
Na manhã seguinte, logo pelas primeiras horas, sou informado pelo Emílio Manhique de que o tema do Café da Manhã daquele dia é a reunião de Quadros da Frelimo e o convidado era... adivinhou, ouvinte, o convidado era Edson Macuácua. Mais meia hora de microfone para ele.
Por razões pessoais tive que viajar para um local onde não tive acesso à Rádio Moçambique e, portanto, não chequei a ouvir o tal Café da Manhã.
Regressei terça-feira ao fim da tarde. Rádio ligado e chega a hora do RM Jornal. Mais uma vez editado pelo Leonel Matias.
A certa altura o tema foi a reunião do Comité Central da Frelimo e o Leonel chamou o jornalista no local que, mais uma vez, era o Custódio Rafael. Que, mais uma vez, deu a palavra ao Edson Macuácua.Desta vez eu estava preparado e cronometrei o discurso. 8 longuíssimos minutos. Mais uma vez sem qualquer interrupção. O Rafael estava ali apenas como pé de microfone e o Macuácua falou até se cansar. No estúdio também ninguém se lembrou de interromper.
8 minutos de paleio propagandístico de um determinado partido num serviço noticioso da nossa principal estação de rádio é absolutamente escandaloso. Inaceitável.
A Rádio Moçambique é sustentada pelo nosso Orçamento Geral do Estado, com dinheiro proveniente dos bolsos dos moçambicanos da Frelimo, da Renamo, do Monamo, do MDM, do Pimo e dos outros todos que não vou agora aqui citar.
É financiada igualmente por uma Taxa de Radiodifusão paga por todos os cidadãos que possuem um receptor na sua viatura e por todos os que pagam electricidade, independentemente, também, da sua filiação partidária.
Ora estamos, em 2009, num ano de eleições e torna-se claro que alguém deve ter dado instruções para a Rádio Moçambique se tornar na principal trombeta propagandística da Frelimo. E ela parece com entusiasmo de cumprir a tarefa. Será que vai ser assim até à data das eleições?
Porque estes factos que acabo de referir não são jornalismo. Não são informação. São propaganda eleitoral, pura e simples.
Se se quisesse fazer jornalismo a Rádio teria ouvido outras opiniões, nomeadamente das principais forças da oposição (não os da chamada “oposição construtiva”) sobre o que se estava a passar. Ou os jornalistas fariam perguntas, questionariam opiniões, fariam tudo aquilo que aprenderam nas escolas profissionais ou na prática do trabalho.
Nada disso foi feito. O único “trabalho” realizado foi abrir o microfone e deixar a propaganda fluir sem entraves.
Nem Leonel Matias nem Custódio Rafael são principiantes no jornalismo. Pelo contrário, ambos têm já muitos anos de exercício da profissão.
E um aspecto torna esta questão particularmente grave. O facto de Leonel Matias fazer hoje parte do Conselho Superior da Comunicação Social tendo, por essa razão, especiais responsabilidades.

( Machado da Graça, Savana, 23/04/09 )

NOTA:

Mais uma prova de que a RM serve descaradamente os interesses da Frelimo.

Sunday, 26 April 2009

MOÇAMBIQUE - um curto filme





The ball - um filme de Orlando Mesquita.

Desligue/pause o som de fundo deste blog no fundo desta pagina, no playlist, para nao interferir com o som do filme.


( Préstimos de Albertino )

Saturday, 25 April 2009

África do Sul: resultados eleitorais serão divulgados esta tarde

Os resultados finais das recentes eleições na África do Sul serão divulgados esta tarde em Pretoria.
Apesar da esmagadora vitória, há indicações de que possivelmente o ANC não vai conseguir manter a maioria de dois terços.
Na Província do Cabo Ocidental o DA conseguiu a maioria, sendo que irá governar sem precisar de entrar em coligação.



ADENDA às 19 horas:

Os resultados finais das eleições indicam que foram contados 17.9 milhões de votos, uma percentagem de 77.3% de votantes inscritos:

Percentagens obtidas pelos principais Partidos e assentos no Parlamento:

ANC: 65.9%, 264 assentos - esteve perto de manter a maioria de dois terços.


Democratic Alliance: 16.7%, 67 assentos - ligeiro aumento de votos e ganhou no Cabo.


Congress of the People: 7.4%, 30 assentos - As opiniões dividem-se sobre o desempenho deste novo Partido, o COPE, eu pessoalmente penso que teve um desempenho positivo.


Inkatha Freedom Party: 4.5%, 18 assentos - Este Partido perdeu votos.

25 de Abril



Comemora-se hoje os 35 anos da Revolução dos cravos que trouxe a democracia a Portugal e abiu os caminhos para a descolonização.

HUMOR


Raciocínio muito simples

1. Deixem que todos os homens que queiram casar com homens, o façam…

2. Deixem que todas as mulheres que queiram casar com mulheres, o façam…

3. Deixem que todos os que queiram abortar, abortem sem limitações…

4. Em duas gerações, deixarão de existir frelimistas...

Friday, 24 April 2009

RELATIVAMENTE À POPULAÇÃO BRANCA PORTUGUESA: Samora Machel portou-se como Estaline

Diplomatas soviéticos que deram início às relações diplomáticas entre URSS e Moçambique criticam a política de Samora Machel face à população portuguesa branca, sublinhando que, nesta área, o Presidente moçambicano se comportou de forma semelhante ao ditador soviético, José Estaline.
“De forma dura, como Estaline, Samora Machel tratou os portugueses que viviam em Moçambique.
Muitos deles receberam com entusiasmo os combatentes pela independência quando entraram em Lourenço Marques e estavam prontos a cooperar de todas as formas com a FRELIMO”, escreve Piotr Evsiukov, primeiro embaixador soviético em Moçambique, em “Memórias sobre o trabalho em Moçambique”, a que a LUSA teve acesso.
“Não obstante, também aqui se revelou o extremismo de Samora Machel. Ele apresentou condições tais de cidadania e residência aos portugueses em Moçambique que eles foram obrigados, na sua esmagadora maioria, a abandonar o país... Com a fuga dos portugueses, a economia de Moçambique entrou em declínio”.
Piotr Evsiukov recorda que Machel era um convicto admirador de José Estaline.
“Samora Machel falou- me várias vezes do seu apego e respeito por José Estaline. Durante a visita oficial de uma delegação de Moçambique à URSS, Samora Machel terminou a viagem na Geórgia.
Depois das conversações com Eduard Chevarnadzé, Sérgio Vieira, membro da direcção da FRELIMO, veio ter comigo e pediu-me, em nome do Presidente, para arranjar um retrato de Estaline.
Claro que os camaradas georgianos satisfizeram o pedido com agrado”, escreve Evsiukov.
Arkadi Glukhov, diplomata soviético que chegou antes de Evsiukov para abrir a embaixada da URSS em Lourenço Marques, escreve:
“Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Lisboa, tendo perante si os exemplos da queda dos impérios coloniais da Inglaterra e França, enveredou pela via da reforma intensa do seu sistema colonial, nomeadamente no campo das relações entre raças, da política social e cultural. Tudo isso foi levado à de ‘assimilação’, cujos rastos sentimos com evidência quando chegámos a Moçambique”.
“Porém”, continua o diplomata soviético, “esses rastos começaram a desaparecer rapidamente, principalmente depois da entrada na cidade (Lourenço Marques) das unidades militares de medidas e de todo o tipo de limitações (frequentemente inventadas) contra a população portuguesa, não obstante, em geral, ela ser leal e estar pronta a cooperar com os novos poderes”.
Segundo Glukhov, “no fim de contas, isso levou à partida em massa dos portugueses do país, o que se reflectiu de forma grave na sua vida económica e aumentou a tensão nas relações entre raças”.
Segundo os diplomatas soviéticos, a política de Samora Machel provocou atritos com Joaquim Chissano, primeiro-ministro moçambicano, que defendia o diálogo com a população branca.
Evsiukov escreve que Machel reconheceu o seu erro e, “ao aconselhar Robert Mugabe, seu amigo e pretendente ao cargo de Presidente do Zimbabué, disse-lhe para não expulsar os rodesianos brancos da antiga Rodésia do Sul”.

( JOSÉ MILHAZES, da Agência LUSA )


NOTA:


Este texto que apareceu originalmente na LUSA e está a ser amplamente divulgado por vários jornais, é o golpe final numa mentira atroz propalada ao longo dos anos pela Frelimo e seus apologistas a propósito da saída de Moçambique dos brancos e outros que sendo moçambicanos deveriam ter permanecido e prestado a sua contribuição à jovem Nação.
Este é um excelente contributo para entendermos a verdadeira História de Moçambique e corroborar aquilo que eu há muito venho afirmando: a verdadeira História de Moçambique ainda será escrita um dia!
Devido à sua importancia, voltarei a este assunto numa das próximas postagens.

África do Sul: contagem de votos na recta final



Às 8 horas desta manhã, 12.632,762 votos tinham sido contados e verificados.

O ANC tem uma vantagem esmagadora com 66.38 % dos votos e é quase certo que manterá a maioria de dois terços.

O DA tem 15.98% do voto nacional e deve vencer na Província de Cabo Ocidental.

O recém -formado COPE está em terceiro lugar, com 7.66% do voto nacional, sendo o segundo Partido mais votado na Província do Cabo Oriental.

O IFP tem neste momento 4.13% do voto nacional, sendo notório o declínio deste Partido.

Thursday, 23 April 2009

Eleições na África do Sul



Prossegue a contagem dos votos após as eleições realizadas ontem na África do Sul.
Cerca de 4 milhões de votos já foram contados e embora seja muito cedo para se fazer um balanço, a primeira impressão é que o ANC vai obter uma vitória retumbante, enquanto o DA deve manter o segundo lugar.
A nível provincial, o DA deverá conquistar a Província do Cabo Ocidental, sendo assim a única província fora do controlo do ANC.
Mas, como afirmei, ainda é cedo para se fazer afirmações conclusivas.

O Problema dos Direitos Humanos e da Violência

Carta a uma companheira de luta

Querida amiga,
Venho debruçando-me sobre este tema há anos. É um tema difícil, sensível e de certa forma complexo. A verdade é que desde que te conheço, cada conversa nossa, atrai a cada dois minutos os direitos humanos e, mesmo assim, embora desgastante, não falta assunto.

Desta vez propus-me a escrever-te esta carta a abordar o problema dos direitos humanos e da violência ignorando a actualidade política do país, as eleições na África do Sul, as contas do Tribunal Administrativo, as incongruências da SADC, a nova faceta do MDC no Zimbabwe, a reflexão sobre a pobreza no país, a reunião de quadros da Frelimo, a desculpa esfarrapada de Jó Capece entre outros assuntos, só porque acho que o ser humano gosta de ignorar o essencial e diluir-se no periférico.

A violência, seja ela de que forma se manifesta, física, psicológica, moral ou outro, seja ela considerada em razão da provocação, em razão dos sujeitos envolvidas, seja qual for o prisma com que se observa ou se estuda o fenómeno, é comum, concordar que nada justifica o seu recurso.

A violência é a causa dos milhares de traumas que a gente conhece nas pessoas com que convivemos no dia a dia. É a causa de altos gastos do erário público e sobrecarrega tal as instituições de administração de justiça que preterem questões vitais da sociedade.

A violência destrui nações, desvirtua o conceito de humanidade e de solidariedade. A violência torna-nos lobos e leva-nos de volta ao estado de natureza onde só o mais forte sobrevive.

Quando a violência acontece em casa, ou envolvendo membros que conservam consigo laços familiares ou de parentesco, chama-se de violência doméstica e esta forma de violência, é, quanto a mim, a mais brutal de todas, embora em muitas situações tentemos encontrar argumentos para justificá-la.

Querida amiga, e o que tem tudo isso a ver com os direitos humanos? A questão fundamental baseia-se na dignidade da pessoa humana, ou seja, toda e qualquer forma de violência reduz de certa forma a dignidade humana.

Daí que, não se pode usar a violência para defender os direitos humanos, do mesmo jeito que não se concebem os direitos humanos num contexto violento. Penso que aqui reside o problema dos direitos humanos e da violência, na medida em que uns pensam que só com violência se resolve o problema dos direitos humanos e outros querem usar o discurso da violência como o Cavalo de Tróia para atingir seus fins pessoais.

Penso que, sobre a questão que coloco, a maior dificuldade dos activistas dos direitos humanos em Moçambique é de perceber o conteúdo dos conceitos (de direitos humanos e da violência). Assim, porque são eles que aos poucos vão educando os outros actores sociais, políticos, económicos incluindo a mídia, passamos a ter uma larga massa de actores com conceitos mutilados.

Infelizmente, esses conceitos vão sendo usados e reproduzidos como se fossem acabados ou os mais correctos que se podem ter e, na dificuldade de melhor explica-los começam os ataques e as cenas da violência. A violência é a filha da ignorância. Quem sabe usar da razão jamais opta pela violência, só se recorre a violência quando a mente está desprovida de inteligência.

Querida amiga, pensar-se que se resolvem as coisas pelo muito palavreado é falso. As vezes, as muitas palavras são o próprio impedimento à comunicação. É por isso que, alguns jornalistas, colunistas e editores de programas, aproveitam o espaço que têm na mídia para desinformar e complicar a mente das pessoas que realmente querem aprender.

Afinal de contas, muitos dos que têm o poder da mídia, não querem exactamente proporcionar ao cidadão aquilo que ele espera dela, que neste caso seria a formação, a informação e a educação. Muitos deles querem impor o seu status quo, a sua visão de vida e em última instância impor a ditadura do consumismo.

Ignorância da causa é uma estratégia antiga, normalmente usada para, como o próprio brocardo diz, desviar a atenção daquilo que realmente deve ser considerado, para se perder tempo em matérias sem necessidade. Se fores a reparar cara amiga, uma boa parte do debate que se tem levantado na actualidade está completamente desviado do essencial.

Populações pobres como a nossa, povos com índices bem elevados de analfabetismo, cidadãos desprovidos de políticas públicas realmente eficientes, carecem de actores e intelectuais que se dedicam ao debate com a luz da razão, infelizmente, a nossa terra não foi abençoada neste aspecto.

Querida amiga, penso que o maior problema dos direitos humanos e da violência no nossa país é a ignorância e a falta de capacidade de abstracção. Ignorância de causa e a mistura de conceitos, crenças, problemas, situações e causas. Alias, muitas vezes não sabemos distinguir as causas das consequências, os problemas dos efeitos e isso é reproduzido com uma forte propaganda de activistas e trabalhadores da mídia.

Não se resolvem os problemas dividindo os actores ou os sujeitos. A segregação já foi usada por muitas correntes políticas, religiosas e filosóficas para resolver problemas sociais e os resultados foram desastrosos. O dialogo, a humildade, a abstracção e o uso da razão podem ser as primeiras premissas para identificarmos os nossos problemas, as suas causas, as suas consequências e os nossos desafios.

Sei que te enrolei querida amiga, mas tinha que escrever deste jeito. Do jeito morder e soprar porque esta tarefa é também ingrata, na medida em que coloca-te a porta tanto da gloria como do calvário.


( Custodio Duma, www.athiopia.blogspot.com )

Wednesday, 22 April 2009

Eleições na África do Sul



Decorrem hoje na África do Sul as quartas eleições democráticas deste País.
Mais de 23 milhões de cidadãos escolhem hoje entre 40 Partidos que concorrem a nível nacional e 14 Partidos que concorrem apenas a nível provincial.
Cerca de 20.000 assembleias de voto contam com a presença de cerca de 4900 observadores nacionais, 355 internacionais e 355 diplomatas de 61 Embaixadas.
A única certeza destas eleições é que o ANC irá vencer folgadamente e Jacob Zuma será o próximo Presidente, a grande incógnita consiste em saber se o ANC vai conseguir a maioria de dois terços.
Há uma grande curiosidade em saber qual o sucesso do novo Partido COPE e se o Partido DA vai conseguir vencer na Província de Western Cape, sendo assim a única Província fora do controle do ANC.

As eleições estão a decorrer normalmente, embora haja alguma tensão no Kwazulu-Natal. Os principais líderes já votaram e as assembleias de voto estarão abertas até às 21 horas neste dia frio e com promessa de chuva. Estou atento a este evento e tentarei postar algo durante o dia se surgirem desenvolvimentos relevantes.

ADENDA às 11:30 - As eleições estão a decorrer normalmente, segundo indicações da Comissão Eleitoral Independente e de observadores, apesar de preocupações a propósito do mau tempo invernil que se faz sentir.
Entretanto, o presidente de uma mesa de voto em Ulundi, Kwazulu-Natal, foi indiciado por ter enchido uma urna com votos que favoreciam o IFP, sendo acusado de fraude eleitoral.
Vamos aprender, Moçambique?

ADENDA às 19 horas - Duas horas antes do fecho das assembleias de voto, muitos cidadãos continuam esperando pacientemente em longas bichas. Apesar de o ANC sugerir que as assembleias de voto permaneçam abertas por mais algum tempo, não há indicação de que isso venha a acontecer. Entretanto, surgem críticas à Comissão Eleitoral Independente pois em certas zonas começam a faltar caixas de voto e boletins.

ADENDA às 21:15 - As assembleias de voto fecharam às 21 horas, como estava previsto, mas com a garantia de que todos os que estivessem nas bichas a essa hora, teriam oportunidade de votar.
A partir de agora, as atenções estão viradas para o centro de apuramento dos resultados da Comissão Eleitoral Independente, em Pretoria.


MDM não vai coligado às próximas eleições


O porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Geraldo carvalho, disse que a sua formação política tem um mandato para concorrer nas próximas eleições sem se coligar a outros partidos. Referiu que não vai usar este mandato para salvar os partidos que, por sí sós, deixaram-se afundar, caíndo no descrédito.
Falando a jornalistas na capital moçambicana, disse que nas próximas eleições, o MDM não vai se coligar a nenhum partido político sem perfil. Entretanto, Carvalho, comentando as declarações do Secretário para Mobilização e propaganda do partido FRELIMO, Edson Macuácua, segundo as quais o MDM fazia uma política emocional, disse que o portavoz da FRELIMO está com medo do MDM. “No lugar de se ocupar com a organização do seu partido, preocupa-se com os assuntos dos outros, tanto mais que, o seu presidente copiou o slogan do MDM, Moçambique melhor para todos.
Segundo Carvalho, o slogan usado pelo Presidente da FRELIMO durante a abertura da Sétima Conferência de Quadros, “ Moçambique melhor para todos”, contradiz as políticas defendidas pela Frelimo que são de exclusão, onde para ocupar um posto público é necessário ser membro daquela formação política, sem se olhar para as capacidades técnicas e profissionais.
De acordo com Carvalho, “ uma política inclusiva e para todos os moçambicanos foi implementado na Cidade da Beira durante a governação de Deviz Simango, onde todas as pessoas independentemente das suas cores partidárias, ocupam os seus postos na gestão do Conselho Administrativo daquela autarquia.
Foi a construção da casa Mortuária, na qual todos têm acesso sem olhar para as proveniências. Foi com as políticas inclusivas e viradas para o povo que a Beira deixou de ser num dos principais focos de cólera com o melhoramento das condições de saneamento público”.
Um partido político é composto por pessoas e a sua actuação não depende apenas da sua legalização, disse Carvalho, tendo acrescentado que, o MDM é reconhecido a nível nacional e está a se instalar em todo o território nacional. Aliás, segundo Carvalho, o MDM já realizou a sua Assembleia Constitutiva, e em breve vai realizar, em Nampula, a sua Conferência Nacional onde vão ser escolhidos os candidatos para os diversos órgãos nas próximas eleições.
Deviz Simango, Presidente do MDM, está a trabalhar nos distritos da província de Sofala e vai à Niassa e Zambézia e outras partes do País, afirmou Carvalho, tendo acrescentado que o seu partido é de âmbito nacional por isso vai estar em todo o país. Aliás, nas províncias de Inhambane, Gaza e Maputo, o nível de adesão supera as espectativas iniciais do partido.
Entretanto, Carvalho denunciou campanhas de intimidação dos seus membros nos distritos, salientando que “em Caia, o representante do MDM foi algemado e espancado a mando do Administrador local, pelo facto de estar a recrutar membros sem perturbar a ordem pública. Em Angónia, o representante do MDM foi expulso do seu posto de trabalho que ocupava por ser do MDM. Em Marínguè, Elide Papulete, foi detido sem justa causa”, frisou.

Qual a força do MDM?

Não sei com que programa nos vai surgir, nas próximas eleições, o MDM. E o programa é, de certa forma, a alma de um partido.
Mas devo dizer que me parece um grupo de gente capaz de ter uma maneira de estar e de se apresentar bastante articulada.
Um exemplo disso? A sua tomada de posição, este ano, no Dia da Mulher Moçambicana. Ao contrário do que tem sempre feito a Renamo, ausente permanente deste tipo de comemorações, o MDM, na pessoa do seu dirigente Daviz Simango, fez-se presente nas comemorações.
É verdade que, na sua tomada de posição, juntou ao nome da Josina Machel o de Celina Simango e o de Joana Simeão, mas o simples facto de assinalar aquela data mostra uma flexibilidade muito maior e um saber político bastante acima do nível médio renamista.
A Frelimo tenta apresentar o MDM apenas como mais uma cisão na Renamo, como foi o partido de Raul Domingos. Mas será apenas isso?
É verdade que não se ouviu ainda falar de gente da própria Frelimo a passar para o MDM. Se alguém já o fez, fê-lo de forma muito discreta.
Mas o eleitorado moçambicano não é formado apenas pelos adeptos da Frelimo e os da Renamo. Para além de todos os outros pequenos partidos, há um outro bloco enorme, talvez maior do que os dois juntos. É o bloco dos sem-partido, dos que não gostam de um e se desencantaram do outro.
Será, muito provavelmente, junto destes que se vai travar a grande batalha do MDM. Conseguir fazer chegar a esperança de mudanças significativas no modo de fazer política do nosso país, poderá ser um trunfo ganhador, um factor que possa desequilibrar, a favor do MDM, a enorme faixa de abstenções que tem crescido de eleição para eleição.
Se as mensagens que recebo, por SMS e por email podem, de alguma maneira, ser um sintoma de alguma coisa, são de que o MDM começa a ter bastante boa imagem no meio urbano. Nem sei quantas mensagens recebi com o panfleto a pedir uma contribuição monetária a favor do novo partido.
Alguns dirão que, neste momento, quem conhece o MDM é apenas a população urbana. E isso, muito provavelmente, é verdade. Mas a população urbana do nosso país tem já um peso eleitoral importante.
E o facto de, nestas eleições, os seus candidatos irem, pela primeira vez, fazer campanha eleitoral, não só nas cidades como também nas zonas rurais, pode fazer alargar de forma significativa, a base eleitoral do partido. Se essa campanha for feita com inteligência e imaginação criativa, é claro.
Mas o que me dizem sobre a campanha de Daviz Simango na Beira parece criar boas expectativas para o que poderá ser a actuação eleitoral do MDM.
De qualquer forma aqui estaremos para assistir e dizer de nossa justiça.
Na certeza de que nas diversas cúpulas partidárias se devem estar já a fazer grandes contas de somar e de subtrair com base nas percentagens eleitorais.
Se, embora não ganhando um número significativo de lugares na Assembleia da República, o MDM conseguir uma bancada com o suficiente número de deputados para os seus votos serem indispensáveis à vitória de qualquer votação, isso seria já uma enorme vitória para a nova formação.
Mas deixemos que seja o eleitorado a mostrar a sua vontade. Será já este ano que ficaremos a saber qual a força de Daviz Simango e seus companheiros de partido.Não teremos muito que esperar...

( Machado da Graça, no Savana de 17/04/09 )

Tuesday, 21 April 2009

EMPRESAS PÚBLICAS OU DO PARTIDO FRELIMO?

Quem não alinha com ela perde o emprego...

Não queremos questionar a génese do estado moçambicano nem como se faziam as coisas no tempo em que vigorava o partido único.

O partido era o estado e tudo se resumia ao que a liderança da Frelimo quisesse. A história tem contornos variáveis e a coisas mudam conforme o regime político que impera.

O que não podemos de maneira nenhuma aceitar é que numa situação de pluralismo político as coisas continuem a ser feitas como nos tempos em que imperava a ditadura marxista-leninista.

As empresas públicas nacionais, consumindo recursos financeiros públicos e dependendo efectivamente dos nossos impostos e de créditos que acabam sendo pagos por todos, estão agindo e se comportando como empresas do partido no poder.

Quando são eleições é comum ver-se este partido usando meios públicos para a realização de suas campanhas. Também é normal ver-se os orgãos eleitorais fazendo vista grossa sobre este facto. Não se pode questionar a prerrogativa de quem governa nomear quem entenda para ocupar cargos de chefia nas empresas públicas. Também não se pode negar o direito de pertença a um ou outro partido.

Só que quando esta pertença ou filiação partidária redunda numa promiscuidade financeiramente prejudicial ao erário público como já foi noticiado pela imprensa, quando um partido se coloca com o direito de abocanhar recursos das empresas públicas e seus gestores não tem como impedir isso, estamos na presença de corpos estranhos ao funcionamento de uma democracia.

Não se pode ficar calado face a este atropelo das normas de funcionamento de um estado democrático. Os deputados parlamentares não se podem cansar de denunciar estes factos.

Outra questão preocupante é o facto de haver perseguição permanente aos recursos humanos que não pertençam ao partido no poder. Parece que a MCEL e outras empresas públicas são efectivamente da Frelimo. E isto não é e nem nunca foi verdade. Mas sabe-se de fonte limpa que há moçambicanos que viram seus postos de trabalho perdidos porque não tinham cartão vermelho. Há moçambicanos que já não trabalham porque não aceitaram filiar-se ao partido no poder. Na Mobeira, nas EDM, na TDM, nos CFM e noutras empesas públicas, a pertença ou filiação partidária estão sendo colocados como condição indispensável para se poder trabalhar. Não se diz nem se anuncia tal mas na verdade e pelo que se pode ver e sentir é assim que são feitas as coisas.

Num ano eleitoral como este é necessário que se preste toda a atenção possível e se denuncie com veemência o uso abusivo de meios públicos para realizar campanhas eleitorais. É necessário que se denuncie a tentativa de forçar os moçambicanos a pertencerem a um partido político como forma de garantir emprego.

Há que fazer fiscalização eleitoral desde agora e não aparecer com declarações atrasadas e contraproducentes sobre as eleições como infelizmente as organizações da sociedade civil nos tem habituado.Já não dá para continuar a dizer que as irregularidades foram de pequena monta e não afectam os resultados. Isso é uma forma de perpetuar procedimentos fraudulentos. A fraude começa a ser montada com exercícios aparentemente legais mas financiados com meios públicos. Seria interessante saber com que fundos é que a Frelimo contou para organizar a sua conferência de quadros?

As desculpas esfarrapadas que com frequência oferecem aos moçambicanos já não conseguem enganar mais.

A politização forçada e o uso de uma coerção camuflada não credibilizam o país.

Este regime forçado de comissariado “soviético-chinês” não é democracia e jamais será.

Nada será oferecido de bandeja aos moçambicanos. Se queremos mudança na maneira como o país é governado não nos podemos calar face aos excessos cometidos por quem se julga dono e senhor de Moçambique.


( Noé Nhantumbo, citado em www.manueldearaujo.blogspot.com )

O factor MDM

É fácil ignorar o potencial que o novo partido de Daviz Simango, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) traz para o nível de competitividade na cena política nacional.
Vários outros partidos surgiram no passado, cuja existência só foi notada pouco antes da realização de eleições, para logo de seguida passarem para a hibernação. Que diferença traria este novo partido, produto de dissidentes da Renamo?
É uma observação justa e lógica. Mas em política as analogias são fatais. E será uma grande fatalidade tentar ignorar ou minimizar a importância que o MDM representa para o processo político nacional, e o potencial do movimento para desequilibrar a balança.
É preciso começar com os números referentes às últimas eleições, em 2004. Nessas eleições, segundo os dados disponibilizados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), somente cerca de 40 por cento do eleitorado foi às urnas. Isto pressupõe um universo de 60 por cento de abstenção.
Há várias possíveis razões que terão levado tão elevado número de eleitores a optarem pela abstenção. Uma das razões, e talvez a mais provável, é que muitos desses eleitores desejavam a mudança, mas não viam na Renamo o agente capaz de lhes trazer essa mudança. Uma fraca afluência às urnas, favorece geralmente o partido no poder.
Os que se abstêm de votar pertencem geralmente à chamada “oposição informal”, desejosos mas incapazes de desalojar o partido no poder, mas também suficientemente realistas para calcularem a incapacidade da oposição em eclipsar o poder. É o voto da resignação.
Dependendo da capacidade do MDM de demonstrar o seu poder de mobilização e de conseguir impor-se como uma alternativa viável, é neste reservatório de eleitores (passivos), maioritariamente jovens letrados e profissionais, frustrados e sem nenhuma ligação sentimental em relação à luta de libertação, onde Daviz Simango e o seu partido poderão ir buscar uma grande parte do seu voto, ao qual irá juntar-se o voto de muitos apoiantes e militantes da Renamo desiludidos com o estilo autocrático de Afonso Dhlakama. Foi este último grupo que ajudou a formar o MDM, desmantelando, no processo, uma grande parte das estruturas que serviam da base de apoio e mobilização da Renamo em vários pontos do país.
O êxito de Daviz Simango nas últimas eleições autárquicas na cidade da Beira poderá ter despertado em muitos jovens, particularmente nos centros urbanos, a consciência de que com um pouco mais de esforço de mobilização nada é impossível.
Um bom desempenho do MDM, acrescido do apoio residual que a Renamo continuará a manter nas suas tradicionais zonas de influência, é a fórmula mágica que poderá, pela primeira vez, pôr em causa a maioria parlamentar de que a Frelimo sempre gozou. Deve ser com este cenário em mente que a Frelimo realiza este fim-de-semana a sua reunião nacional de quadros na Matola. Como contrariar esta adversidade não menos real dependerá da capacidade deste partido de reinventar-se, e com actos concretos demonstrar ao eleitorado moçambicano que ainda é relevante para a realização dos seus sonhos.

FONTE: Editorial do SAVANA , 17/04/09.

Partem do princípio que o Governo já pensou o suficiente

Olá Januário
Como vai essa vida? Já te passou a gripe? Eu também a tive e foi uma chatice durante duas semanas...
Mas não te estou a escrever por causa da gripe.
Queria falar um pouco sobre este nosso Parlamento que está quase a terminar os trabalhos da actual legislatura.
Como sabes eu ouço muito rádio e acompanho, muitas vezes, as sessões da Assembleia da República.
E isto já de há bastantes anos para cá.
E posso te dizer que senti, nesta legislatura que está prestes a terminar, duas formas de evolução opostas, por parte das duas bancadas parlamentares.
Por um lado, a bancada da RENAMO-UE melhorou muito a sua actuação, sob o comando da deputada Maria Moreno. Deixámos de assistir àquelas cenas de circo da pior qualidade com que nos brindavam no passado. As intervenções foram mais sérias e pensadas e apresentadas com muito maior dignidade.
Houve excepções, é bem claro, mas não foram mais do que isso mesmo, excepções.
Por outro lado tivemos a bancada da FRELIMO em acelerada degradação. Com a certeza de que, tivessem ou não tivessem razão, tinham o voto garantido pela sua confortável maioria, os deputados da FRELIMO foram decaindo, cada vez mais, para formas de demagogia que, muitas vezes, roçaram mesmo pela boçalidade.
É confrangedor ouvir pessoas, que sabemos inteligentes, a gritar e insultar a outra bancada apenas para esconder que não têm razão sobre um qualquer assunto. Sabem que vão ganhar a votação e, por isso, nem sequer precisam de pensar muito sobre o assunto. Partem do princípio que o Governo já pensou o suficiente. Esquecendo-se que o papel de um Parlamento é também fiscalizar o trabalho do Governo, mesmo que seja um executivo da nossa própria cor partidária.
A única saída para uma situação como esta, meu caro Januário, é haver uma terceira bancada, que possa equilibrar as duas já existentes. Uma terceira bancada que umas vezes vote ao lado da RENAMO e outras ao lado da FRELIMO, obrigando as duas principais a terem cuidado com aquilo que fazem e com as propostas que apresentam. Que obrigue as duas bancadas principais a “namorarem” a terceira para poderem contar com os seus votos.
E talvez isso obrigue também os partidos todos a fazerem uma melhor selecção dos seus candidatos ao Parlamento.
Quantas vezes ouvimos comentar, apreciativamente, o facto de a nossa Assembleia da República ter uma alta percentagem de mulheres?
Mas qual é a percentagem de mulheres que toma a palavra nas sessões? Baixíssima. E em muitos casos a ler textos escritos, obviamente, por outras pessoas.
Não creio que o sistema de quotas, só por si, seja uma coisa que mereça elogios.
Acho que é bom haver muitas mulheres no Parlamento, mas é se elas lá estiverem por mérito próprio, com preparação para contribuírem positivamente nos debates. Só para embelezarem as bancadas com os seus sorrisos, não vale a pena.
Veremos o que nos reserva a próxima legislatura.
Mas eu gostaria que as diferentes formações políticas fizessem um real esforço para melhorarem a prestação dos seus deputados na Assembleia.
E, como dizem uns deles, isso prepara-se, isso organiza-se.
Um abraço para ti do

Machado da Graça



CORREIO DA MANHÃ – 17.04.2009

Monday, 20 April 2009

Um sismo chamado MDM

Para quem misturou arrogância e despeito no nascimento do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), o partido fundado por Daviz Simango não pára de provocar uma sucessão de sarilhos aos seus opositores.
E a procissão ainda vai no adro.
Mesmo antes do pleito autárquico, foram ensaiadas várias tentativas para conseguir uma “vitória de secretaria” que levasse ao afastamento de Daviz, o que poria em causa, prematuramente, a formação do MDM.
Sem apelo nem agravo, a disputa eleitoral na Beira levou ao tapete, por KO brutal, o candidato formal da Renamo. Bulha, uma figura prestigiada na Beira, não fez melhor, mas, num primeiro momento, as hostes da Frelimo “distraíram-se” na celebração eufórica do desmoronamento do seu principal adversário político.
Daviz e os seus apoiantes eram um problema de dissidência na Renamo.
A conferência do MDM lançou as primeiras dúvidas entre os mais convictos. Num país complicado, em que para se fazer coisas com o mínimo de capacidade é preciso sempre lançar mão da muleta do Estado e dos patrocínios pródigos das instituições satelitisadas, o MDM reuniu à Beira do Chiveve 350 delegados vindos de todo o país e do estrangeiro. Não houve notícias de confusão, algazarra ou barafunda. Um Daviz magnânimo encerrou o conclave com um discurso de moderação e ramos de oliveira lançados em várias direcções.
No momento seguinte acontece o périplo europeu. Todos os dias houve notícias da agenda Simango. Entrevistas em profundidade aconteceram em todas as capitais europeias por onde passou. Para qualquer observador minimamente atento, ressalta uma viagem bem preparada, contactos estabelecidos, audiências de peso e com impacto mediático, atenção e sensibilidade para com a comunicação social em cada local visitado. A internet e os blogues, fizeram a complementaridade da visita.
Na política doméstica, o sucesso de Daviz provocou, naturalmente, um novo rolar de cabeças na frente parlamentar da Renamo.
Mas os ventos do MDM chegavam rapidamente à Namaacha, a vila fronteiriça que acolheu a camaradagem governamental e os complementos partidários que definem o que é poder no país.
É de lá que sai a equipa “sheltox” encarregue de arrumar a casa em Sofala e com indicações específicas para que a roupa suja não fosse entregue à lavandaria da comunicação social.
Depois de várias semanas de consultas, um nervoso vai-e-vem entre Maputo e a Beira, sai finalmente fumo branco a partir de Sofala. O partido de Guebuza, Chipande e Macuácua está preparado para enfrentar as batalhas eleitorais agendadas para o início da época das chuvas, ainda este ano.
O MDM, claramente na onda Obama, lança uma campanha na internet para recolha de fundos. Pedem apenas um metical por apoiante/simpatizante. Tudo simples, sem mesmo haver necessidade de deixar o nome. Há também um portal, fresco, inovador, feito a pensar no cinzentismo e na enorme preguiça com que são concebidos os sites dos partidos em Moçambique. Mais uma vez, há organização, iniciativa e uma dose razoável de novidade a fazer política no século XXI em Moçambique.
Para ajudar à festa, um tal de Capece, eleito de fresco para liderar a Frelimo na Beira, atira extemporaneamente a tolha ao chão com a desculpa esfarrapadíssima que afinal não tinha tempo para tão nobre e delicada missão. Num partido que tem por motto, “a vitória, prepara-se, a vitória organiza-se” é no mínimo “inovador” que alguém dê o dito por não dito para dar corpo à “democracia interna” e aos “postulados estatutários” do partido Frelimo. As aspas servem para enfatisar as frases que mais ouvi debitar nos canais de televisão aos camaradas encarregues de fazer o controlo de danos causados pelas dúvidas do professor doutor turbo que sofreu um fortuito encontrão, quando ainda mal tinha subido as escadas para o sinuoso palco da política no Chiveve.
Na Assembleia Municipal acontece o impensável mas previsível na lógica do inimigo do meu inimigo é meu amigo. A Frelimo e a Renamo dão as mãos para tramar o engenheiro, formalmente sem bancada parlamentar
Daviz Simango, em mangas de camisa, vai encolhendo os ombros, ao verdadeiro terramoto que teve epicentro na temerária decisão de virar as costas à política comanditada aos “proprietários” dos destinos do país.
A terra não treme só em L’ Aquila.

( Fernando Lima, Savana, 17/04/09 )

Os Avanços e Atrasos da Reforma Anti-Corrupção em Moçambique



Hoje é lançado o relatório.
O notável trabalho do Tribunal Administrativo não está a ser correspondido pelo Governo.


Maputo (Canal de Moçambique) - A Estratégia Anti-Corrupção (EAC), aprovada pelo Governo em 2006, está a ser implementada a meio gás, sem impactos concretos da redução das práticas de corrupção e na melhoria da vida dos utentes do serviço público”, refere Marcelo Mosse, do CIP numa nota enviada à nossa redacção em que dá conta ainda que tal constatação é o resultado de um trabalho de monitoria levado a cabo pelo Centro de Integridade Pública em parceria com os fóruns da sociedade civil das províncias de Gaza (FONGA) e Inhambane (FOPROI), organizações que lançam hoje em Maputo, pelas 15 horas, no Hotel Moçambicano, um relatório sobre a matéria. Ele refere, no entanto que “a constatação principal sobre a EAC não prejudica o facto de estarem a acontecer no país avanços positivos ao nível da reforma e acção institucional no sentido da promoção da integridade”. Cita que “entre os avanços positivos destaca-se o facto de o Tribunal Administrativo estar a expandir a sua acção de fiscalização, começar a fazer auditorias de desempenho e viabilizar a responsabilização de gestores públicos”. “Nos últimos anos, a gestão das finanças públicas tem vindo a melhorar, como atestou o relatório Public Expenditure And Financial Accountabily (PEFA, 2008), o qual mostra que a disciplina física tem aumentado”, acrescenta. Adianta, entretanto, que “a remoção dos funcionários públicos fantasmas no Sector Público, através da uniformização das base de dados existentes, foi um passo para eliminar oportunidades de corrupção”. Refere depois que “no ano passado, foi igualmente notória a preocupação das autoridades judiciais em levarem a tribunal indivíduos envolvidos em práticas de corrupção, incluindo antigos altos funcionários do Estado”. “Também se deve realçar a disposição do Governo em aderir à Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extractivas (ITIE), o que a acontecer poderá reforçar o quadro de transparência no sector”, lê-se também na nota que Mosse nos enviou.

Notável trabalho do TA não correspondido pelo Governo


"O papel crescente do Tribunal Administrativo na garantia da integridade na gestão dos fundos do Estado é notável, mas o TA ainda não é correspondido pelo Governo através da melhoria da execução orçamental, não cumprindo a maioria das recomendações emitidas pelo tribunal” diz a fonte do CIP que refere logo a seguir que “o acesso do TA ao «e-Sistafe» é um desafio a vencer a curto prazo, entre outros”.

Declaração de bens e outras questões


Adianta o CIP que “o Ministério da Função Pública tem procurado assumir a liderança na promoção da integridade no aparelho do Estado, esse esforço deve ser realçado, mas subsistem problemas de coordenação e gestão eficaz de processos (como o da Estratégia Anti-Corrupção); ausência de troca de informações com entidades como o GCCC sobre condutas suspeitas de funcionários; fraca qualidade do novo Estatuto Geral do Funcionário e Agente do Estado, que não abordou devidamente aspectos como a oferta de presentes, o conflito de interesses e a declaração de bens”. Acrescenta o CIP que “a disposição do Governo em aderir à ITIE abre espaço para um quadro de maior transparência e disciplina fiscal, incluindo melhores parâmetros de discussão de contratos com mega-projectos e melhor classificação orçamental das receitas geradas pelas empresas multinacionais do sector” e “essa adesão também vai ser fundamental para a sociedade civil e académica promover acções de advocacia destinadas a melhorar a abordagem sobre como é que o Governo pode usar a exploração de recursos naturais para o combate à pobreza”.

Precariedade da legislação


A precariedade da legislação anticorrupção continua a ser um «calcanhar de Aquiles» com reflexos claros na reacção judicial contra o fenómeno” e “a implementação da Estratégia Anti-Corrupção (EAC), aprovada pelo Governo em 2006, tem sido feita em ritmo lento: algumas actividades estão a ser implementadas, outras não, mas no geral ainda não é possível aferir o impacto da EAC na melhoria dos serviços públicos e na vida dos utentes”, salienta a CIP. Conclui que “a EAC está a ser concentrada em actividades mais de reforma administrativa que de anti-corrupção”. Diz adiante que “o Plano de Acção da EAC não foi preparado para incluir indicadores de medição de progresso, mas também não se sente um esforço para se sistematizar informação alternativa que poderia dar uma imagem clara sobre as mudanças que a EAC possa estar a trazer”. Também faz-se notar que “a EAC ainda não se mostra como um instrumento fiável de melhoria da transparência em Moçambique” e “muitas das mudanças que estão a ser operadas acontecem fora do seu âmbito e não estão a ser devidamente sistematizadas”. Isso, diz-se que se “prova” pela “inexistência de um relatório do governo que faça a súmula dessa mudanças”. Propõe-se que o Plano de Acção “deve ser refinado urgentemente para que haja a possibilidade de medir o seu impacto na vida dos cidadãos”. Já a terminar Marcelo Mosse diz em nome do CIP que o relatório que vai hoje ser apresentado “resulta de uma iniciativa da sociedade civil destinada a acompanhar o evoluir da reforma anti-corrupção no geral e da EAC em particular”. “O documento tenta sistematizar alguns avanços na reacção anticorrupção e também chamar a atenção para novas áreas que precisam de melhorias (conflito de interesses; enriquecimento ilícito), transparência (grandes negócios do Estado; publicação de relatórios de gestão das empresas públicas) e reacção institucional (auditorias de desempenho extensivas às empresas públicas; combate à corrupção no sector florestal)”, conclui.

FONTE: Canal de Moçambique.