Monday 13 April 2015

Senhor Guebuza, a Justiça espera por si!


Moçambique acaba de se ver livre de um dos homens que mais contribuiu para o retrocesso desta nação. Sem exageros, Armando Guebuza será recordado como um grande equívoco político. Um equívoco singular, que levou o país a um equívoco administrativo colectivo.
Para os mais atentos, não faltaram avisos sobre o que seria do país se cometêssemos o erro de entregar os destinos da nação nas mãos de um cidadão que desde há muito tempo deu credenciais de inaptidão. Carlos Cardoso, jornalista assassinado pelo regime no ano de 2000, já em 1997 havia traçado um fiel e autenticado perfil de Armando Guebuza, tendo ainda colocado em anexo as consequências que poderiam decorrer da indica- ção daquele cidadão. Com o texto “Guebuza, não!” – que já publicámos neste jornal com a devida vénia –, Carlos Cardoso traçou o perfil de um inapto cujo passado podia testemunhar a sua incompetência.
Típico de malabaristas, Guebuza entrou com um discurso contra o passado, pretendendo dar a entender que ele era melhor do que o seu antecessor, e que jamais existiu alguém melhor do que ele. Mas o tempo foi suficiente para o desmentir e para expor um grande mafioso.
Guebuza hasteou várias bandeiras, sendo as mais sonantes a luta contra a corrupção e o combate à pobreza. Tudo não passou de mentiras.
Com Guebuza, o país chegou a ser classificado, no barómetro do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, como o terceiro pior país para se viver no mundo, num universo de 187 países avaliados. O máximo que Guebuza conseguiu foi manter o país na lista dos piores países.
E os dados andam aí avulsos para fundamentar a desgraça criada por Armando Guebuza. Veja-se, por exemplo, que, quando Guebuza ascendeu ao poder, o nível de pobreza era de cerca de 54,7%. Apresentou vários documentos de combate à pobreza, como o Plano de Acção de Combate à Pobreza Absoluta (PARPA), com vários módulos, até ao Plano de Acção de Combate à Pobreza (PARP). Com os níveis de pobreza a agudizarem-se, a única coisa que mudou foi apenas a própria designação do documento. Porque, como certamente o estimado leitor poderá notar, na disposição acima, a palavra “Absoluta” deixou de fazer parte do segundo documento. Só mudaram os documentos, mas a pobreza continuou a fustigar os moçambicanos devido às políticas que foram adoptadas. Os gestores dos fundos agrários começaram a enriquecer, enquanto a população continuou a viver na miséria. A balança de pagamentos deteriorou-se. Um Inquérito ao Orçamento Familiar, levado a cabo pelo Instituto Nacional de Estatística, provou que a pobreza aumentou.
Enquanto isso, em sentido corrupto contrário, Armando Guebuza, os seus familiares e os seus apaniguados começaram a ostentar riquezas que só a corrupção pode explicar. De forma descarada, Guebuza começou uma campanha de roubo jamais vista no mundo. Sendo ele uma espécie de “Deus de Moçambique”, Guebuza liderou um bando que assaltou por completo o Estado e instalou as suas próprias empresas a sugarem o Estado.
São aos pontapés os exemplos da corrupção praticada por Armando Guebuza ao arrepio da lei e por via da subalternização das instituições da Justiça. Desde a “Tata”, que vendeu autocarros podres ao Estado, até à adjudicação da digitalização à sua filha, sem concurso público. E também os jantares na “Vale” e a adjudicação, sem concurso público, da exploração da via férrea, os Bilhetes do Tesouro por via dos seus bancos privados, as comissões da HCB relatadas pela Wikileaks e as mais recentes negociatas com os gestores da ENI. Isto é só uma ponta do iceberg da corrupção que atracou na Presidência da República e do partido Frelimo, no consulado de Armando Guebuza.
É urgente levar a cabo uma investigação séria ao império económico e financeiro da família Guebuza. É da mais elementar necessidade colocar este senhor num frente-a-frente com a Justiça, para que lhe seja dada a oportunidade de justificar onde conseguiu tanto dinheiro nos últimos 10 anos. Se ainda quisermos ter alguma honra como país, é preciso não deixar Armando Guebuza na impunidade. O povo moçambicano tem o dever moral de levar Guebuza a explicar publicamente como é que os patos o tornaram milionário, sem que em Moçambique haja restaurantes especializados em pratos com derivados de pato. Guebuza deve mostrar ao povo a empresa a quem fornece os seus patos, que, da noite para o dia, o transformaram num dos cidadãos mais ricos de África.
Estamos todos ainda recordados da guerra em que Armando Guebuza nos mergulhou para alimentar as suas fantasias de arrogante. E recordamos as famílias dos jovens e adultos que morreram nas matas da Gorongosa para satisfazer o insano desejo de Armando Guebuza de acabar com a oposição no país. E recordamos os membros da oposição que foram assassinados.
Desde a instauração da democracia neste país, nunca se assistiu a um regime tão brutal e assassino como o liderado por Armando Guebuza. A oposição e a sociedade civil viveram dias terríveis nas mãos de Guebuza. Bandeiras de partidos da oposição queimadas, sedes vandalizadas, membros assassinados foram a marca registada da “democracia” dirigida por Armando Guebuza. Há que convocar este senhor para um encontro com a Justiça e de indeminização ao povo.
Todos os cidadãos que foram vítimas do racismo, do ódio e da intolerância propagados pelos órgãos de comunicação social públicos e privados ligados à Frelimo de Guebuza merecem justiça. E quando Guebuza estiver a responder por esses actos, que sejam chamados os implementadores dessas campanhas segregacionistas. São eles Edson Macuácua e Gabriel Muthisse, que arregimentaram os dirigentes dos órgãos de comunicação social e alguns “intelectuais” com problemas de fome e de personalidade. Há que responsabilizá-los pela campanha de divisão. Foi Guebuza que começou a separar os moçambicanos com base na cor. Foi Guebuza que tratou uns como “moçambicanos de gema” e os outros como “não de gema”. Há que responsabilizá-lo.
Mas tudo isto carece de uma limpeza geral e generalizada do sistema de Justiça, que hoje alberga os filhos mais incompetentes que a ciência jurídica já pariu. Há que limpar todos os afilhados, cunhados, amigos, sobrinhos, filhos de guarda-costas de Guebuza, que controlam o sistema judiciário. Todos nós sabemos que não temos uma Procuradoria, um Tribunal Supremo, um Gabinete de Combate à Corrupção, um Conselho Constitucional, uma Assembleia da República. As nulidades que pontificam nesses órgãos, em forma de dirigentes, só aplicavam a agenda de Guebuza. Portanto, devem também ser convocados para o grande encontro com a Justiça. Não temos instituições, Guebuza deu cabo de tudo, montando os seus rapazes e raparigas, de competência muito duvidosa. Há que restabelecer a República, para credibilizar o país. Só o povo pode restabelecer a ordem, para que definitivamente o homem que mais danos causou à República possa ter um encontro limpo com a Justiça.



(Editorial do Canalmoz)

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