CRÓNICA de: Leonel Marcelino
África tem todas as potencialidades para se tornar num dos continentes mais prósperos do mundo e, no entanto, continua como um dos mais sofredores, vítima de crises de natureza diversa continuadas, de um autoritarismo interesseiro, de racismo, de pobreza, de doenças endémicas, de projectos de apoio ao desenvolvimento falaciosos, de má escolha dos parceiros certos para um desenvolvimento realista, de uma hipocrisia universal muito pouco interessada no bem-estar do povo africano.
Continua a existir uma pobreza degradante, o roubo das terras aos camponeses, agora disfarçado de um apoio ao desenvolvimento, as mulheres e as crianças são alvos fáceis de injustiças, de doenças, da falta dos direitos mais elementares.
A mortalidade materna e infantil é uma trágica realidade em inúmeros países africanos. Os desvios e a corrupção beneficiam alguns privilegiados, o desemprego e a segregação sufocam a maior parte dos países, mesmo dos mais desenvolvidos, como a África do Sul.
Em pleno 2014, a imagem de uma África sofredora agrava-se, sobretudo na África Central, no Sudão do Sul, no Sahel, na República democrática do Congo.
Quinhentos milhões de camponeses vivem carenciados de tudo, na mais cruel miséria, à mercê da lotaria meteorológica, situação agravada pelas mudanças climáticas. Nas cidades, milhões de jovens vivem sem emprego.
E, para agravar ainda mais a pobreza, as famílias continuam a gerar filhos atrás de filhos que não conseguem alimentar, nem tratar das doenças. Os sistemas de protecção social ou não existem ou são de uma tremenda debilidade.
Contudo, África é o potencial celeiro do mundo, com enormes reservas de matérias-primas e de terras aráveis incontáveis, jazidas de energia, de água, enfim, África tem tudo para ser o mais importante continente do mundo.
Mas, infelizmente, há limitações que o condicionam e o impedem de seguir a rota de um desenvolvimento sustentável.
De um modo geral, continuo a confirmar o que apreendi da minha experiência africana, enquanto tive a oportunidade de tentar desenvolver projectos, sobretudo na área da educação e da comunicação social, em Angola e Moçambique: sempre os africanos desculpam os seus fracassos com o recurso aos males causados pelos antigos colonos.
Há um complexo enraizado, diria mesmo, cultural, de que não há nada a fazer e que todos os males vêm da influência dos antigos colonizadores. Isso mesmo confirmei com os conteúdos dos programas e dos livros escolares que teimam em manter textos que mais não conseguem do que persistir no erro do ódio ao branco, fonte de toda a miséria, desde a fome às doenças, dizem. Na minha humilde opinião, e na de inúmeros estudiosos, África, se quer ter um futuro com um desenvolvimento sustentado, não pode continuar a desculpar-se eternamente com um passado de tormenta.
É como continuar a culpar Adão e Eva de todos os males que acontecem à Humanidade, como se o Homem não tivesse capacidade para se emancipar e construir o seu futuro. O primeiro passo para que os africanos caminhem para um desenvolvimento sustentado tem de começar por apagar todos os complexos racistas que não os deixam libertos para, numa atitude de abertura aos outros, tenham eles a cor que tiverem, construírem um desenvolvimento com todos. Um Homem não pode avaliar-se pela cor, como defendem tantos políticos, tantos pseudo-educadores, tantos analistas, tantos jornais, tantos canais de televisão e de rádio que, com as suas tiradas xenófobas só acumulam sofrimento e destruição. Na verdade, tudo quanto querem, bem lá no fundo, é acirrar ódios contra o outro para desculparem e esconderem os seus erros, a sua incapacidade para construir o autêntico desenvolvimento, um país onde todos tenham direito a viver, a ter opinião, a ser felizes. O mundo está cada vez mais pequeno e a aposta numa etnicidade isoladora só contribui para o regresso à miséria e a continuação do sofrimento. África precisa de mentes abertas, universalizantes, dialogadoras.
Os seus verdadeiros inimigos são todos quantos pregam o isolacionismo, os ghettos étnicos, as coutadas que os mandantes exploram como machambas próprias, sem vergonha, sem um pingo de solidariedade autêntica pelo povo.
O passado nunca pode ser o responsável pelos erros do presente. O ódio não resolve problema nenhum. O ódio nunca criou nada. O ódio e a hipocrisia sempre estão na origem dos conflitos e das matanças. O diálogo aberto, a tolerância, a fraternidade, o respeito pelas culturas, pelas religiões, pelas convicções e pelos modelos e opiniões dos outros são as chaves do progresso e do verdadeiro desenvolvimento sustentado.
WAMPHULA FAX – 02.04.2015, no Moçambique para todos
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