O Orçamento da Assembleia da República para o exercício económico de 2015, aprovado em sessão plenária, na semana passada, espelha a disponibilidade financeira que existe no país para o esbanjamento e outro tipo de irresponsabilidades financeiras.
A irresponsabilidade financeira é, aliás, uma modalidade em que os dirigentes do sistema tendem a especializar-se. O povo vai ter de pagar a factura da construção de uma mansão para albergar o presidente da Assembleia da República, orçada em 90,1 milhões de meticais. São 2,6 milhões de dólares.
Há aqui duas coisas graves, com potencial para representar fielmente o insulto à nossa racionalidade. A primeira é que não se compreende que tipo de casa é essa que se pretende construir para albergar um funcionário público que diz representar o povo. Noventa milhões de meticais é orçamento para a construção de uma moradia não muito diferente de um castelo.
E porque é que um funcionário público com vocação constitucional para representar o tal povo que é transportado nos “My Love”, o povo que morre nas filas do hospital por falta de quinino, o povo cujos filhos se sentam no chão por falta de carteiras, precisaria de viver numa moradia com as dimensões de um castelo?
Onde se encaixa aqui o tal discurso da austeridade, proferido por Filipe Nyusi? Afinal, aonde está o tal Moçambique sem recursos financeiros? Não será esse apenas um discurso para entorpecer o povo, enquanto os armados em esperto roubam que se fartam?
A outra questão grave aqui é um rol de desculpas que são contadas pela presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, para não se reabilitar uma residência protocolar já existente destinada ao presidente da Assembleia da República. O facto é que existe, sim, uma megamoradia situada ali ao lado da Igreja de Santo António da Polana, em frente à Presidência da República.
A referida casa, que é do Estado foi cedida pelo Protocolo de Estado adstrito à Presidência da República. A casa carece de reabilitação. A última reabilitação custou sete milhões, há menos de seis anos. Verónica Macamo usou do seu conhecimento em matéria de finanças e arranjou uma cotação de 22 milhões de meticais, que, segundo ela, seriam necessários para reabilitar a casa. Que reabilitação é essa que custa o orçamento de três distritos inteiros?
Entretanto, dos cálculos feitos pela Assembleia da República, a reabilitação não seria viável. O viável mesmo foi ir aos cofres do Estado tirar 90,1 milhões de meticais para construir uma mansão de raiz.
O mais grave neste espectáculo de esbanjamento é a justificação da presidente da Assembleia da República. A presidente teve a desfaçatez de dizer que conhece o país real e que a solução encontrada (leia-se, pagar 90 milhões para construção de uma casa) foi a mais leve. Portanto, as prioridades e soluções que a direcção da Assembleia da República encontra para resolver os problemas financeiros ligados à sua propalada “dignidade” ferem a dignidade de milhares de moçambicanos votados à indignidade.
Contas feitas pelo “Canal de Moçambique” indicam que com os 2,6 milhões de dólares americanos que a Assembleia da República vai usar – que dá para comprar uma das casas reservadas às celebridades em Beverly Hills, em Los Angeles – poder-se-ia comprar 45 autocarros de 60 lugares para minorar o drama de transporte urbano.
Ou seja, no rol das prioridades do Estado, é mais viável construir uma mansão para conferir “dignidade” à formosa Dra. Verónica Macamo e aos seus sucessores do que tirar o povo da indignidade.
E note-se bem que Verónica Macamo é reincidente em liderar a cruzada financeira de insulto à nossa inteligência. Em 2012, mandou o Estado pagar 90 mil meticais para comprar máquinas para garantir a sua manutenção física e responder positivamente ao problema de peso que a apoquenta. Achamos bem que a ilustre presidente faça exercícios, mas mandar-nos a factura para que o povo pague é o cúmulo da falta de respeito para com este povo.
Ainda bem que a senhora Verónica Macamo se diz conhecedora da realidade do nosso país. É que, no nosso país, um professor, um agente da Polícia – que a Frelimo tanto usa – ganha 3 mil meticais. O valor de 90 milhões de meticais dava para pagar 30.047.451 salários mínimos. Isso mesmo: são mais de 30 milhões de salários mínimos. É esta a realidade do país, “respeitada” presidente da Assembleia da República.
Portanto, a leviandade com que se brinca com o dinheiro do povo neste país chegou a um extremo tal que as coisas que deviam causar vergonha perderam toda a patologia inerente. Uns conduzem Ferraris, e outros querem casas de estrelas de cinema, em nome da “dignidade”. É a vossa “dignidade” que nos causa indignidade.
(Editorial, Canalmoz)
A irresponsabilidade financeira é, aliás, uma modalidade em que os dirigentes do sistema tendem a especializar-se. O povo vai ter de pagar a factura da construção de uma mansão para albergar o presidente da Assembleia da República, orçada em 90,1 milhões de meticais. São 2,6 milhões de dólares.
Há aqui duas coisas graves, com potencial para representar fielmente o insulto à nossa racionalidade. A primeira é que não se compreende que tipo de casa é essa que se pretende construir para albergar um funcionário público que diz representar o povo. Noventa milhões de meticais é orçamento para a construção de uma moradia não muito diferente de um castelo.
E porque é que um funcionário público com vocação constitucional para representar o tal povo que é transportado nos “My Love”, o povo que morre nas filas do hospital por falta de quinino, o povo cujos filhos se sentam no chão por falta de carteiras, precisaria de viver numa moradia com as dimensões de um castelo?
Onde se encaixa aqui o tal discurso da austeridade, proferido por Filipe Nyusi? Afinal, aonde está o tal Moçambique sem recursos financeiros? Não será esse apenas um discurso para entorpecer o povo, enquanto os armados em esperto roubam que se fartam?
A outra questão grave aqui é um rol de desculpas que são contadas pela presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, para não se reabilitar uma residência protocolar já existente destinada ao presidente da Assembleia da República. O facto é que existe, sim, uma megamoradia situada ali ao lado da Igreja de Santo António da Polana, em frente à Presidência da República.
A referida casa, que é do Estado foi cedida pelo Protocolo de Estado adstrito à Presidência da República. A casa carece de reabilitação. A última reabilitação custou sete milhões, há menos de seis anos. Verónica Macamo usou do seu conhecimento em matéria de finanças e arranjou uma cotação de 22 milhões de meticais, que, segundo ela, seriam necessários para reabilitar a casa. Que reabilitação é essa que custa o orçamento de três distritos inteiros?
Entretanto, dos cálculos feitos pela Assembleia da República, a reabilitação não seria viável. O viável mesmo foi ir aos cofres do Estado tirar 90,1 milhões de meticais para construir uma mansão de raiz.
O mais grave neste espectáculo de esbanjamento é a justificação da presidente da Assembleia da República. A presidente teve a desfaçatez de dizer que conhece o país real e que a solução encontrada (leia-se, pagar 90 milhões para construção de uma casa) foi a mais leve. Portanto, as prioridades e soluções que a direcção da Assembleia da República encontra para resolver os problemas financeiros ligados à sua propalada “dignidade” ferem a dignidade de milhares de moçambicanos votados à indignidade.
Contas feitas pelo “Canal de Moçambique” indicam que com os 2,6 milhões de dólares americanos que a Assembleia da República vai usar – que dá para comprar uma das casas reservadas às celebridades em Beverly Hills, em Los Angeles – poder-se-ia comprar 45 autocarros de 60 lugares para minorar o drama de transporte urbano.
Ou seja, no rol das prioridades do Estado, é mais viável construir uma mansão para conferir “dignidade” à formosa Dra. Verónica Macamo e aos seus sucessores do que tirar o povo da indignidade.
E note-se bem que Verónica Macamo é reincidente em liderar a cruzada financeira de insulto à nossa inteligência. Em 2012, mandou o Estado pagar 90 mil meticais para comprar máquinas para garantir a sua manutenção física e responder positivamente ao problema de peso que a apoquenta. Achamos bem que a ilustre presidente faça exercícios, mas mandar-nos a factura para que o povo pague é o cúmulo da falta de respeito para com este povo.
Ainda bem que a senhora Verónica Macamo se diz conhecedora da realidade do nosso país. É que, no nosso país, um professor, um agente da Polícia – que a Frelimo tanto usa – ganha 3 mil meticais. O valor de 90 milhões de meticais dava para pagar 30.047.451 salários mínimos. Isso mesmo: são mais de 30 milhões de salários mínimos. É esta a realidade do país, “respeitada” presidente da Assembleia da República.
Portanto, a leviandade com que se brinca com o dinheiro do povo neste país chegou a um extremo tal que as coisas que deviam causar vergonha perderam toda a patologia inerente. Uns conduzem Ferraris, e outros querem casas de estrelas de cinema, em nome da “dignidade”. É a vossa “dignidade” que nos causa indignidade.
(Editorial, Canalmoz)
2 comments:
Sim senhor.Gostei da sua matéria caro amigo.Mas acredto que isto vai acabar e será muito em breve.Abraços
Espero que sim!
Abraço!
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