Os casos de raptos de empresários de origem asiática ou dos seus parentes que têm estado a acontecer, desde finais do ano passado, em Maputo, são mais complicados do que parece. Cada dia que passa está a ficar claro que se trata de um crime que envolve gente poderosa e perigosa, numa enorme rede que actua dentro e fora de Moçambique. Tudo começa com a identificação das vítimas, de entre cidadãos considerados magnatas na praça. Depois são os raptos propriamente ditos, cada um a seu tempo, seguidos de exigência de avultadas somas de dinheiro para o resgate, cujo pagamento é feito à base de transferência dos valores para contas domiciliadas em Dubai. Ao que tudo indica, os bandidos têm acesso aos saldos das contas bancárias dos seus reféns.
Segundo relatos do parente de um dos que estiveram sequestrados, os raptados não sofrem qualquer tipo de tortura. São alojados numa casa luxuosa algures em Maputo, onde podem comer e beber o que lhes apetecer e assistirem ao canal de televisão que quiserem.
Nesse local, os bandidos colocam à disposição das suas vítimas uma lista de três ou quatro números de telefone móvel pertencentes a pessoas das suas relações para escolherem um através do qual é comunicado o rapto. A pessoa que atender fica, a partir daí, elo de ligação entre a família e os bandidos, participando nas difíceis negociações do resgate.
Esta semana, o assunto conheceu outros contornos. Além da detenção de um sujeito, na capital, indiciado de envolvimento nos raptos, a polícia admite mão forte dos irmãos Satar no jogo e que estejam a comandar a operação a partir da cadeia de máxima segurança (BO).
Na sequência dessas suspeitas, as altas patentes da polícia decidiram isolar, entre segunda e terça-feiras, Momad Abdul Assif Satar (Nini), Ayoob Abdul Satar e Vicente Ramaya, transferindo-os para as celas do Comando da PRM da cidade de Maputo.
Não há ainda, pelo menos publicamente, nada que confirme o envolvimento destes três presos no crime de raptos, mas é de domínio público que eles têm estado a dirigir os seus negócios normalmente, como se nada tivesse acontecido, a partir da cadeia onde estão a cumprir penas que variam de 22 a 24 anos de prisão, como autores morais do assassinato, em 2000, do jornalista Carlos Cardoso.
Igualmente não é segredo para ninguém que Nini & Cia têm uma vasta rede de colaboradores bem pagos, dentro e fora da cadeia, que prestam serviços do seu interesse. Alguns deles são agentes da polícia desonestos que criam facilidades, incluindo o acesso às comunicações e outros favores.
Por isso, mesmo considerando a hipótese do envolvimento de Nini, Ayoob e Ramaya na jogada, a sua transferência para o Comando da cidade pode não significar muita coisa em termos de suster a onda de raptos, porque a rede já está estabelecida e há indivíduos, a vários níveis da operação, que tomam decisões para que as coisas andem.
Como prova disso, na última quinta-feira, houve um novo caso de rapto de uma senhora de origem asiática na via pública, em Maputo.
O que nos parece importante neste momento é que a polícia aprofunde as investigações para trazer a verdade à tona. Se for real que os três estão implicados, é preciso saber com quem trabalham. É necessário apurar, junto do sistema bancário moçambicano, quem autoriza as transferências para Dubai de avultadas somas de dinheiro — nalguns casos fala-se até de dois milhões de dólares —, a favor de quem e para que contas e bancos.
Atendendo à magnitude do crime, porque não considerar a hipótese de pedir os préstimos da Polícia Internacional (INTERPOL) e, quem sabe, a colaboração da polícia sul-africana, muito melhor preparada e apetrechada. Em nossa opinião, as duas entidades podem trazer valor acrescentado em termos de meios e capacidade de investigação deste tipo de casos que não são comuns entre nós.
Não há dúvidas que esta questão de raptos semeou medo e insegurança no seio dos cidadãos, especialmente em Maputo. Ninguém sabe quem será a próxima vítima. Todo o mundo está impaciente e à espera, a todo o momento, que o fenómeno seja esclarecido.
Mas também temos que reconhecer que estamos perante um tipo de crime complicado, a exigir esforços redobrados da parte das autoridades policiais na averiguação dos casos. Por isso, todos temos de colaborar e, acima de tudo, darmos voto de confiança à polícia para que nos traga a verdade que todos queremos.
Diário de Moçambique
Segundo relatos do parente de um dos que estiveram sequestrados, os raptados não sofrem qualquer tipo de tortura. São alojados numa casa luxuosa algures em Maputo, onde podem comer e beber o que lhes apetecer e assistirem ao canal de televisão que quiserem.
Nesse local, os bandidos colocam à disposição das suas vítimas uma lista de três ou quatro números de telefone móvel pertencentes a pessoas das suas relações para escolherem um através do qual é comunicado o rapto. A pessoa que atender fica, a partir daí, elo de ligação entre a família e os bandidos, participando nas difíceis negociações do resgate.
Esta semana, o assunto conheceu outros contornos. Além da detenção de um sujeito, na capital, indiciado de envolvimento nos raptos, a polícia admite mão forte dos irmãos Satar no jogo e que estejam a comandar a operação a partir da cadeia de máxima segurança (BO).
Na sequência dessas suspeitas, as altas patentes da polícia decidiram isolar, entre segunda e terça-feiras, Momad Abdul Assif Satar (Nini), Ayoob Abdul Satar e Vicente Ramaya, transferindo-os para as celas do Comando da PRM da cidade de Maputo.
Não há ainda, pelo menos publicamente, nada que confirme o envolvimento destes três presos no crime de raptos, mas é de domínio público que eles têm estado a dirigir os seus negócios normalmente, como se nada tivesse acontecido, a partir da cadeia onde estão a cumprir penas que variam de 22 a 24 anos de prisão, como autores morais do assassinato, em 2000, do jornalista Carlos Cardoso.
Igualmente não é segredo para ninguém que Nini & Cia têm uma vasta rede de colaboradores bem pagos, dentro e fora da cadeia, que prestam serviços do seu interesse. Alguns deles são agentes da polícia desonestos que criam facilidades, incluindo o acesso às comunicações e outros favores.
Por isso, mesmo considerando a hipótese do envolvimento de Nini, Ayoob e Ramaya na jogada, a sua transferência para o Comando da cidade pode não significar muita coisa em termos de suster a onda de raptos, porque a rede já está estabelecida e há indivíduos, a vários níveis da operação, que tomam decisões para que as coisas andem.
Como prova disso, na última quinta-feira, houve um novo caso de rapto de uma senhora de origem asiática na via pública, em Maputo.
O que nos parece importante neste momento é que a polícia aprofunde as investigações para trazer a verdade à tona. Se for real que os três estão implicados, é preciso saber com quem trabalham. É necessário apurar, junto do sistema bancário moçambicano, quem autoriza as transferências para Dubai de avultadas somas de dinheiro — nalguns casos fala-se até de dois milhões de dólares —, a favor de quem e para que contas e bancos.
Atendendo à magnitude do crime, porque não considerar a hipótese de pedir os préstimos da Polícia Internacional (INTERPOL) e, quem sabe, a colaboração da polícia sul-africana, muito melhor preparada e apetrechada. Em nossa opinião, as duas entidades podem trazer valor acrescentado em termos de meios e capacidade de investigação deste tipo de casos que não são comuns entre nós.
Não há dúvidas que esta questão de raptos semeou medo e insegurança no seio dos cidadãos, especialmente em Maputo. Ninguém sabe quem será a próxima vítima. Todo o mundo está impaciente e à espera, a todo o momento, que o fenómeno seja esclarecido.
Mas também temos que reconhecer que estamos perante um tipo de crime complicado, a exigir esforços redobrados da parte das autoridades policiais na averiguação dos casos. Por isso, todos temos de colaborar e, acima de tudo, darmos voto de confiança à polícia para que nos traga a verdade que todos queremos.
Diário de Moçambique
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