Monday, 20 February 2012

"E assim, mais uma vez, como já é tradição no nosso país, existe crime, mas não existem criminosos"

MARCO DA CORREIO

Por Machado da Graça

Olá Justino
Como estás tu, meu bom amigo. Do meu lado tudo bem, felizmente.
O que parece não estar nada bem é a questão da caça furtiva no nosso país.
Com frequência, ultimamente, chegam-nos notícias de caçadores furtivos, capturados ou mortos no Parque Nacional Kruger (PNK), na África do Sul. E, para nossa vergonha, a maior parte são moçambicanos.
Ainda recentemente três compatriotas nossos foram condenados a pesadíssimas penas de prisão, num tribunal sul-africano.
Tudo isto devido ao sistemático abate de rinocerontes, espécie animal em risco de extinção.
Mais de 400 animais, uma autêntica barbaridade, foram abatidos, nos últimos tempos, no país vizinho.
E tudo isto para lhes aproveitarem apenas os chifres, produto muito valorizado na China, para fabricar medicamentos tradicionais contra a impotência sexual masculina, e em alguns países árabes, para fazer os cabos dos punhais tradicionais.
É, portanto, a vaidade de uns e de outros que está a dizimar esta espécie bravia.
E, principalmente, a ganância dos caçadores furtivos que se arriscam a ser mortos ou capturados pelos guardas florestais só na perspectiva dos lucros que podem obter da venda dos troféus daquela caça ilegal.
Há poucos dias o mediaFAX trazia a história de mais quatro caçadores furtivos, capturados no Parque Nacional do Limpopo (PNL). Tinham com eles um chifre de rinoceronte que pesava cerca de 10 quilos, correspondendo a um animal já de grandes proporções.
Onde teriam eles abatido o animal, em Moçambique ou na África do Sul, não ficámos a saber.
Mas ficámos a saber que os quatro caçadores informaram que a arma que tinham com eles, e com a qual foi abatido o rinoceronte, era propriedade de uma alta patente da Polícia da República de Moçambique (PRM). “Alta patente” que não era identificada na notícia.
E não era identificada não porque os caçadores não a tenham identificado. De certeza identificaram.
Não era identificada porque quem capturou os caçadores tem medo das consequências de divulgar essa informação. Tem medo das represálias que pode vir a sofrer.
E assim, mais uma vez, como já é tradição no nosso país, existe crime, mas não existem criminosos.
Estranha situação que predomina cada vez mais.
E isto porque dizer “alta patente da PRM” é o mesmo que dizer “alto dirigente da FRELIMO” e com os tais cinquentões ninguém se atreve a meter-se.
Será que algum dia vamos saber quem é o dono da arma que abateu o pobre rinoceronte?
Não o creio.
Como não sabemos, de resto, tantas outras identidades de criminosos porque, se fossem conhecidos, talvez as festas dos 50 anos perdessem grande parte do seu brilho.
Um abraço para ti do

Machado da Graça

FONTE: Moçambique para todos

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