Thursday 23 February 2012

CPLP, nova sede e velhos vícios

A Comunidade dos países de Língua Portuguesa (CPLP) inaugurou com toda a pompa e circunstancia um novo edifício onde ficará instalada a sua sede.
Até aqui, nada demais. Somente o concretizar de um velho objectivo de ter uma sede à altura de um organismo multinacional e multicultural agregado na apologia de um propósito único: a defesa comunitária de língua portuguesa.
Mas será que a defesa da língua portuguesa passa unicamente pela existência de uma organização como a CPLP cujo os seus efectivos fundamentos da sua subsistência são cada vez menos evidentes, enquanto orientadora na defesa da língua, e talvez mais políticos e interesseiros, conforme são dimanadas as orientações?
Como se explica que tendo por base a defesa comunitária de língua portuguesa e a democratização plena dos seus Estados-membros a CPLP continue a ser um elefante branco onde só, periodicamente, surgem factos a ela ligados e, por vezes, nem sempre pelas melhores razões.
Onde estava a CPLP quando a Guiné-Bissau mais precisou dela? Foi porque, Angola por razões de solidariedade política interveio na questão político-militar Bissau-guineense e como Angola é da CPLP e Angola assistiu, então a CPLP foi como se tivesse intercedido também?
Como se explica que sendo uma organização que defende a plena democratização dos seus Estados-membros, ainda que, parafraseando George Orwell, uns sejam, efectivamente, mais que outros, possa admitir, tão-pouco, que um Estado como a Guiné-Equatorial, claramente um país sob domínio absoluto e autoritário de um presidente – que até impõe o fecho de um estádio para ser benzido por padres e feiticeiros – onde não existe nem sombra de eleições?
Será que os interesses de uns – mais um, que uns – são mais importantes que os interesses de todos como seria de esperar numa organização multinacional e multicultural?
Como no início, até aqui, nada demais. Somente recordar que na inauguração estiveram, além do secretariado da CPLP, o presidente, pelo menos um ex-presidente e o primeiro-ministro portugueses, o presidente em exercício da CPLP, Angola, representada – “comme d’habitude”, sempre que tem de se deslocar ao estrangeiro (porque será?), – pelo vice-presidente Fernando Piedade Dias dos Santos, e por várias individualidades dos Estados-membros, representando os seus respectivos presidentes.
De facto, até aqui, nada demais. Somente o desprezo que alguns dão a esta pouco operativa CPLP onde, parece, ser a China, via Macau, quem mais se preocupa com o desenvolvimento da organização…
A mesma organização que se deveria preocupar mais, a par da língua que a gerou, na estabilidade política e social dos seus estados-membros e, principalmente, na minoração do subdesenvolvimento nutricional dos seus Povos!

Eugénio Costa Almeida
*investigador do CEA-IUL

Notícias Lusófonas

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