36 anos de independência
Se há um déficit que os moçambicanos politicamente interessados poderiam ter colmatado é o da moçambicanidade. Não se vê esta sendo construída. O discurso oficial parece que parou no tempo e só fala de Unidade Nacional quando na prática se continua a fazer tudo para impedir que os moçambicanos se revejam como cidadãos do mesmo país e gozando dos mesmos direitos.
É difícil ouvir falar do ‘outro lado da moeda’. Especialmente em política. Nem todos gostam que se discorde deles mesmo sabendo-se que dos políticos, pelo mundo afora, está a surgir um enorme má impressão e cresce um movimento de grande indignação.
A corrida para embelezar e glorificar feitos e factos, pessoas e “pessoas” é uma realidade que se pôde verificar aquando da comemoração no último dia 25 de Junho, este de 2011, dos 36 anos da proclamação da independência de Moçambique.
Mas os elogios e auto-elogios, as deposições de flores, a indumentária e as poses fotogénicas não são suficientes para explicar ‘o outro lado da moeda’.
Não há moçambicano algum que não aprecie o facto de sermos independentes e possuirmos uma bandeira, um hino... Não há contradição quanto à justeza da luta anti-colonial que culminou com aquele grandioso dia em 1975.
Estes 36 anos foram complicados e cheios de acontecimentos que transformaram tanto o país como seus habitantes.
Foram anos de luta acesa e por vezes muito violenta entre moçambicanos, uns procurando impor um regime político controverso e outros se negando a que isso acontecesse.
Não se pode construir um país sem conhecer o passado e dele aprender-se. E negar o passado ou pretender que ele não aconteceu é cegueira politicamente contraproducente. Na história dos países não há santos nem imaculados como alguns pretendem nos dizer que são.
Comemorar este 25 de Junho é da praxe e não poderia ser de outro modo.
O que constituiria novidade pela positiva seria ver os governantes e políticos em geral embarcarem numa abordagem sobre os outros moçambicanos, sobre aqueles que não estão na cripta dos heróis em Maputo.
Se há um déficit que os moçambicanos politicamente interessados poderiam ter colmatado é o da moçambicanidade.
Não se vê esta sendo construída.
O discurso oficial parece que parou no tempo e só fala de Unidade Nacional quando na prática se continua a fazer tudo para impedir que os moçambicanos se revejam como cidadãos do mesmo país e gozando dos mesmos direitos.
Onde está a tolerância e o respeito pela lei e pelos direitos humanos quando em pleno 2011 vemos na TV moçambicanos sendo escandalosamente espancados por agentes da PRM?
Onde está a inclusão e o combate pela abolição das assimetrias quando tudo é determinado em função do partido a que se pertença para aceder a emprego e progredir na carreira profissional?
Como e porquê são sempre os mesmos moçambicanos eleitos e anunciados como parceiros nas lucrativas e apetecíveis joint-ventures?
Porque é que os sócios de quem vem investir em Moçambique têm de ser sempre os mesmos senhores do governo ou uma holding do Partido Frelimo?
Se isto indicia corrupção, o que é que podemos pensar?
Saberão os senhores procuradores da República responder-nos ou vão continuar a quererem dizer aos moçambicanos que andam a trabalhar quando só nos sabem debitar estatísticas?
E os senhores deputados, estão na Assembleia por tacho ou com espírito de missão e de cidadania? Quando é que se resolvem a legislar para se acabar com os “sempre sócios” dos investidores estrangeiros que eles próprios autorizam a entrar no País na sua qualidade de membros do governo?
Os senhores deputados querem que o povo os continue a ver como chulos?
É chegado o momento de alguém nos explicar o que queria afinal Lázaro Nkavandame em termos de política económica?
Que preconizava Urias Simango em termos políticos? Qual era o ideal político de Joana Simeão? Que crime cometeu o Padre Mateus Pinho Gwengere?
36 anos é tempo suficiente para aqueles que participaram de momentos marcantes da história recente do país virem a público e explicarem os contornos menos conhecidos pela maioria.
Não é possível construir um país e promover patriotismo entre os cidadãos com relatos distorcidos da história nacional.
Os erros e crimes se aconteceram devem ser conhecidos por todos.
Se naquela altura a ideologia que guiava os combatentes era de tendência marcadamente marxista e alegadamente revolucionária, no quadro da qual se podia fuzilar sem obedecer a mecanismos legais, que nos digam e não nos escondam.
Digam-nos bem quem foi Filipe Samuel Magaia.
Julgando pelo que grande parte do núcleo dirigente da Frelimo faz nos dias de hoje no âmbito de suas actividades empresariais podemos afirmar sem medo que enveredaram completamente pelo capitalismo.
Longe de nós queremos qualificar essa opção ou criticar sua rectidão. Os tempos mudam e as pessoas mudam como alguém já disse. Tanto assim é que alguns dos denunciantes dos “contra-revolucionários e reaccionários” de ontem, comunistas ferrenhos e defensores implacáveis do stalinismo agora se apresentam como capitalistas envergando os melhores fatos Pierre Cardin e finos sapatos italianos.
Em Mapuo exibem a sua importância e passeiam a sua classe. Constituíram-se na burguesia que um dia repudiaram e até se converteram em “professores” de boas maneiras dos ex-guerrilheiros transformados em governantes e líderes empresariais.
Outros tornaram-se em mestres especializados em ensinar aos governantes como privatizar o parque industrial estatal em benefício próprio e muitas vezes sem nada pagar ao estado.
Hoje são accionistas de bancos e dominam os corredores da alta finança local.
É parte da história dos 36 anos que o “bula bula” não conta.
Claro que não convém falar de vermes do passado e trazer à superfície alguma da sujeira e atropelos cometidos pelos “engravatados” de hoje, os “pingos de chuva” de ontem que tanto povo andaram a enganar e a matar.
A história faz-se de factos e as coisas acontecem em determinado momento diferente de outro.
Não nos digam que só os outros é que erraram e que eram reaccionários.
Não sejam tão arrogantes e prepotentes como se este país fosse só vosso.
Comecem a entender que chegará o dia em que já não será mais possível esconder a história real deste país.
Ninguém quer acordar fantasmas e incendiar a planície com campanhas de procura do estilo “Inquisição”. Mas só sabendo o que aconteceu e como aconteceu é que se pode construir as fundações de uma verdadeira reconciliação.
Tanto do processo de libertação nacional como da luta fratricida posterior que uns teimam em denominar de ‘guerra de desestabilização’ há factos que tem de ser conhecidos pelos moçambicanos. É seu direito e sem isso os discursos reconciliatórios ficam estéreis e sem significado.
Os feitos tanto dos moçambicanos como do governo merecem apreço e admiração em algumas esferas mas deixam muito a desejar noutras.
Há um déficit enorme em termos de concretização de programas estruturantes e que levem os moçambicanos a gozarem de um nível de vida mais condigno e correspondente as potencialidades e possibilidades existentes. E reconhecer isso é o primeiro passo para o desenho de programas que tragam a diferença desejada por todos.
Moçambique pode mudar e melhorar para os seus filhos.
Estes merecem esse esforço da parte de todos. Incluamo-nos nos benefícios e também nos sacrifícios. Os filhos dos outros também são moçambicanos e merecem ser “empresários de sucesso”.
Noé Nhantumbo, Canal de Moçambique – 29.06.2011, citado no Moçambique para todos.
Se há um déficit que os moçambicanos politicamente interessados poderiam ter colmatado é o da moçambicanidade. Não se vê esta sendo construída. O discurso oficial parece que parou no tempo e só fala de Unidade Nacional quando na prática se continua a fazer tudo para impedir que os moçambicanos se revejam como cidadãos do mesmo país e gozando dos mesmos direitos.
É difícil ouvir falar do ‘outro lado da moeda’. Especialmente em política. Nem todos gostam que se discorde deles mesmo sabendo-se que dos políticos, pelo mundo afora, está a surgir um enorme má impressão e cresce um movimento de grande indignação.
A corrida para embelezar e glorificar feitos e factos, pessoas e “pessoas” é uma realidade que se pôde verificar aquando da comemoração no último dia 25 de Junho, este de 2011, dos 36 anos da proclamação da independência de Moçambique.
Mas os elogios e auto-elogios, as deposições de flores, a indumentária e as poses fotogénicas não são suficientes para explicar ‘o outro lado da moeda’.
Não há moçambicano algum que não aprecie o facto de sermos independentes e possuirmos uma bandeira, um hino... Não há contradição quanto à justeza da luta anti-colonial que culminou com aquele grandioso dia em 1975.
Estes 36 anos foram complicados e cheios de acontecimentos que transformaram tanto o país como seus habitantes.
Foram anos de luta acesa e por vezes muito violenta entre moçambicanos, uns procurando impor um regime político controverso e outros se negando a que isso acontecesse.
Não se pode construir um país sem conhecer o passado e dele aprender-se. E negar o passado ou pretender que ele não aconteceu é cegueira politicamente contraproducente. Na história dos países não há santos nem imaculados como alguns pretendem nos dizer que são.
Comemorar este 25 de Junho é da praxe e não poderia ser de outro modo.
O que constituiria novidade pela positiva seria ver os governantes e políticos em geral embarcarem numa abordagem sobre os outros moçambicanos, sobre aqueles que não estão na cripta dos heróis em Maputo.
Se há um déficit que os moçambicanos politicamente interessados poderiam ter colmatado é o da moçambicanidade.
Não se vê esta sendo construída.
O discurso oficial parece que parou no tempo e só fala de Unidade Nacional quando na prática se continua a fazer tudo para impedir que os moçambicanos se revejam como cidadãos do mesmo país e gozando dos mesmos direitos.
Onde está a tolerância e o respeito pela lei e pelos direitos humanos quando em pleno 2011 vemos na TV moçambicanos sendo escandalosamente espancados por agentes da PRM?
Onde está a inclusão e o combate pela abolição das assimetrias quando tudo é determinado em função do partido a que se pertença para aceder a emprego e progredir na carreira profissional?
Como e porquê são sempre os mesmos moçambicanos eleitos e anunciados como parceiros nas lucrativas e apetecíveis joint-ventures?
Porque é que os sócios de quem vem investir em Moçambique têm de ser sempre os mesmos senhores do governo ou uma holding do Partido Frelimo?
Se isto indicia corrupção, o que é que podemos pensar?
Saberão os senhores procuradores da República responder-nos ou vão continuar a quererem dizer aos moçambicanos que andam a trabalhar quando só nos sabem debitar estatísticas?
E os senhores deputados, estão na Assembleia por tacho ou com espírito de missão e de cidadania? Quando é que se resolvem a legislar para se acabar com os “sempre sócios” dos investidores estrangeiros que eles próprios autorizam a entrar no País na sua qualidade de membros do governo?
Os senhores deputados querem que o povo os continue a ver como chulos?
É chegado o momento de alguém nos explicar o que queria afinal Lázaro Nkavandame em termos de política económica?
Que preconizava Urias Simango em termos políticos? Qual era o ideal político de Joana Simeão? Que crime cometeu o Padre Mateus Pinho Gwengere?
36 anos é tempo suficiente para aqueles que participaram de momentos marcantes da história recente do país virem a público e explicarem os contornos menos conhecidos pela maioria.
Não é possível construir um país e promover patriotismo entre os cidadãos com relatos distorcidos da história nacional.
Os erros e crimes se aconteceram devem ser conhecidos por todos.
Se naquela altura a ideologia que guiava os combatentes era de tendência marcadamente marxista e alegadamente revolucionária, no quadro da qual se podia fuzilar sem obedecer a mecanismos legais, que nos digam e não nos escondam.
Digam-nos bem quem foi Filipe Samuel Magaia.
Julgando pelo que grande parte do núcleo dirigente da Frelimo faz nos dias de hoje no âmbito de suas actividades empresariais podemos afirmar sem medo que enveredaram completamente pelo capitalismo.
Longe de nós queremos qualificar essa opção ou criticar sua rectidão. Os tempos mudam e as pessoas mudam como alguém já disse. Tanto assim é que alguns dos denunciantes dos “contra-revolucionários e reaccionários” de ontem, comunistas ferrenhos e defensores implacáveis do stalinismo agora se apresentam como capitalistas envergando os melhores fatos Pierre Cardin e finos sapatos italianos.
Em Mapuo exibem a sua importância e passeiam a sua classe. Constituíram-se na burguesia que um dia repudiaram e até se converteram em “professores” de boas maneiras dos ex-guerrilheiros transformados em governantes e líderes empresariais.
Outros tornaram-se em mestres especializados em ensinar aos governantes como privatizar o parque industrial estatal em benefício próprio e muitas vezes sem nada pagar ao estado.
Hoje são accionistas de bancos e dominam os corredores da alta finança local.
É parte da história dos 36 anos que o “bula bula” não conta.
Claro que não convém falar de vermes do passado e trazer à superfície alguma da sujeira e atropelos cometidos pelos “engravatados” de hoje, os “pingos de chuva” de ontem que tanto povo andaram a enganar e a matar.
A história faz-se de factos e as coisas acontecem em determinado momento diferente de outro.
Não nos digam que só os outros é que erraram e que eram reaccionários.
Não sejam tão arrogantes e prepotentes como se este país fosse só vosso.
Comecem a entender que chegará o dia em que já não será mais possível esconder a história real deste país.
Ninguém quer acordar fantasmas e incendiar a planície com campanhas de procura do estilo “Inquisição”. Mas só sabendo o que aconteceu e como aconteceu é que se pode construir as fundações de uma verdadeira reconciliação.
Tanto do processo de libertação nacional como da luta fratricida posterior que uns teimam em denominar de ‘guerra de desestabilização’ há factos que tem de ser conhecidos pelos moçambicanos. É seu direito e sem isso os discursos reconciliatórios ficam estéreis e sem significado.
Os feitos tanto dos moçambicanos como do governo merecem apreço e admiração em algumas esferas mas deixam muito a desejar noutras.
Há um déficit enorme em termos de concretização de programas estruturantes e que levem os moçambicanos a gozarem de um nível de vida mais condigno e correspondente as potencialidades e possibilidades existentes. E reconhecer isso é o primeiro passo para o desenho de programas que tragam a diferença desejada por todos.
Moçambique pode mudar e melhorar para os seus filhos.
Estes merecem esse esforço da parte de todos. Incluamo-nos nos benefícios e também nos sacrifícios. Os filhos dos outros também são moçambicanos e merecem ser “empresários de sucesso”.
Noé Nhantumbo, Canal de Moçambique – 29.06.2011, citado no Moçambique para todos.
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