Friday 1 July 2011

Portugal deve suspender aplicação do Acordo Ortográfico porque é “colonialista” e “abominável” – Vasco Graça Moura


O escritor português Vasco Graça Moura defendeu esta quinta-feira, em declarações à agência Lusa, que o actual Governo de Portugal "deve voltar atrás e suspender a aplicação do Acordo Ortográfico" que qualificou de "abominável".
Graça Moura falava a propósito da palestra que proferiu no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, sobre "O acordo ortográfico e a literatura no espaço lusófono". "Não vou dizer nada de novo", começou por dizer o autor, que considera o Acordo Ortográfico "um crime contra a Língua (Portuguesa)" e que "juridicamente não está em vigor".
"Não foi ratificado por Angola e Moçambique e não estando, não se verifica uma condição de validade do tratado", atestou, afirmando que a condição incluída no Acordo - que basta a ratificação de quatro países para entrar em vigor - é "uma pantomina inventada pela CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)".
Neste sentido, espera que o actual Governo (Português) "compreenda a gravidade" e "suspenda a sua aplicação".
"Eu espero que, quer o actual Governo, quer o actual Parlamento, em especial os actuais ministros da Educação e o dos Negócios Estrangeiros e, eventualmente o secretário de Estado da Cultura, compreendam que não se pode aplicar uma matéria sem que primeiro ela seja estudada cientificamente, tal como não se faz um aeroporto ou um TGV sem estudos prévios", declarou.
É um Acordo Ortográfico "que está cheio de defeitos, cheio de vícios e cheio de erros, e até no Brasil há problemas na sua aplicação, apesar de ser mais favorável á norma brasileira que á portuguesa", acrescentou.
Para o autor de "Luís de Camões: Alguns Desafios", o Acordo é "colonialista" por ter sido feito apenas por Portugal e pelo Brasil, enquanto "os outros países fizeram apenas ofício de corpo presente" e "foram tratados como parentes pobres".
Segundo Graça Moura, os países lusófonos africanos "seguem a norma portuguesa, logo (o actual Acordo) não vem facilitar e vem antes criar complicações, vai-se aumentar o divórcio, nas normas seguidas, entre cada um dos países participantes no chamado universo da Língua Portuguesa".
Na sua opinião a aplicação do Acordo Ortográfico vai trazer "mais problemas de escolaridade em sociedades de baixa escolaridade, e na alfabetização".
"Este acordo é um aborto em alguns dos seus aspectos e tem coisas nocivas como nas facultativas, em que cada um escreve conforme lhe der na real gana, e isso é o contrário do que é a grafia, é um desastre", desabafou.
O social-democrata recordou a Petição contra o Acordo Ortográfico, feita com base num documento do historiador Vitorino Magalhães Godinho e que foi assinada por 130.000 pessoas e "mereceu parecer positivo da comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura, em 2008".


RM

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