Monday 6 June 2011

Vamos controlar os toros!

São 10.101 toros de madeira da campanha passada de exploração florestal que iam à exportação. A ilegalidade da sua saída do país está no facto de que em Moçambique é proibido tirar madeira da primeira classe, sem ser processada. É aí onde começam os problemas, porque os exploradores, quase sempre chineses, querem madeira dessa classe, mas em toros, portanto, não processada, para que todo o valor acrescentado tenha lugar na sua terra.

Maputo, Sábado, 4 de Junho de 2011:: Notícias

Só com os toros processados lá é que conseguem dar emprego aos seus concidadãos, nas carpintarias que devem ser muito desenvolvidas e aproveitam tudo o que nas nossas condições é considerado desperdício. Aliás, nos últimos tempos temos vindo a saber que até pretendem exportar raízes das mesmas espécies (para ir plantar?) e excrementos de animais, cujos troféus trazem muito dinheiro, em todo o mundo.
Então, os 10.101 toros de madeira foram vendidos em hasta pública pelo Estado que se esqueceu que na província de onde a madeira estava a sair, perto de 28 porcento das crianças matriculadas nas escolas estudam sentadas no chão por falta de carteiras, um problema que não está a conseguir resolver em pelo menos 35 anos.
O Estado correu para 20 milhões de meticais, que já vão seguir o caminho normal das contribuições provinciais para o tesouro, aquele caminho que parece ser de um único sentido, se é verdade que, no retorno, não suprirão o problema da falta de carteiras, como está a acontecer há 35 anos.
Quem comprou a madeira foi um cidadão chinês que faz parte duma das empresas que deliberadamente quis ludibriar as autoridades exportando fora das balizas legais estabelecidas, porque a lei moçambicana admite que, nessas circunstâncias, o prevaricador também possa concorrer. Uma coisa não tem a ver com a outra, pensa a lei.
A nossa lei está a dizer que o comportamento e a atitude de manifesta falta de respeito e tentativa de roubo ao Estado moçambicano ficam diminuídos com a presença de dinheiro para pagar o mesmo produto que se queria levar à margem das conversas legais que foram traduzidas em lei e regulamento do exercício da actividade, neste caso, de exploração madeireira.
Por isso, tal como em todos estes anos, a madeira é normalmente comprada pelo prevaricador que prefere gastar mais um dinheiro do que ter ficado sem ter feito nada durante uma campanha inteira. E está aí a Tienhe, com a sua, mais a madeira de todos que em Janeiro queriam exportar de forma ilegal. Ficou a ganhar a sua e a madeira dos outros, tendo em conta que naquele conjunto só tinha 30 contentores.
Agora! A província de Cabo Delgado não consegue processar madeira, nem à metade, duma campanha de corte, porque não tem serrações para tanto. Estamos a entrar numa outra safra, na qual far-se-ão cortes por todo o lado onde haja espécies de valor comercial e no fim, lá para o outro Janeiro, como é recorrente, saberemos de mais um navio a carregar madeira.
É quase certo que se não for em toros será porque as madrastas não se terão zangado, mas basta que alguém se sinta lesado no negócio, no trombone teremos uma boca a denunciar o navio antes de partir. A experiência nos obriga a concluir assim!
Mais preocupante fica o facto de virmos a ter madeira de duas campanhas, toda não processada, numa província incapaz de transformar totalmente nem duma safra! Então, não será que se vai voltar a exportar a mesma madeira em toros ou terá que se transferir para um outro ponto do país para o processamento ou neste lapso de tempo serão edificadas serrações capazes de absorver toda a matéria-prima?
É aí onde precisamos de ser vigilantes, na desconfiança de que o risco é evidente de no próximo ano vermos madeira de duas campanhas a ir, de novo em toros! Basta que os “cabritos” comam, não só onde estão amarrados, mas que o comprimento da corda em relação à distância do capim não seja exageradamente desigual.
As inovações descobriram que o capim, afinal, sendo o principal alimento do cabrito, não é, no entanto, o mais apetitoso para aquele ruminante. Vem daí a descoberta do sal da cozinha, que posto na boca de qualquer cabrito, esta nunca mais abrirá até que o bom gosto desapareça.
Os olhos distantes de quem está amarrado em algum galho ou de quem se lhe prepara uma quantidade de sal para nunca mais abrir a boca, devem, por isso, vigiar estes toros acabados de comprar em hasta pública e os próximos que a campanha prestes a começar vai fabricar. Onde irão e como. É, provavelmente, dizer por dizer!

Pedro Nacuo

Nota do José:

Exportação ilegal de madeira e troféus: Retidos 50 contentores no Porto do Maputo
Leia aqui.

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