Causaram grande impacto, sobretudo na imprensa, sempre pronta a fazer parangonas sensacionalistas, as palavras do Procurador-Geral da República, Augusto Paulino, proferidas numa palestra na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), na passada segunda-feira.
Paulino, diga-se com bastante ousadia, colocou o dedo na ferida, uma ferida bem profunda na sociedade moçambicana, tão profunda que é praticamente impossível de sarar. O PGR disse que o crime organizado é quem dita as regras em Moçambique e quem se mete com os criminosos, tem um triste fim: a morte. O pior, ou o melhor, dependendo do ponto de vista, veio mais adiante quando Paulino disse que “é a partir dos centros nevrálgicos do poder que o crime organizado actua.”
Ou seja, disse que sem a conivência lá de cima, de quem manda, provavelmente o crime não estaria tão organizado e não compensaria tanto. Falou no facto de Moçambique ser uma rota de vários tráfi cos, desde o de drogas até ao de pessoas. E aqui, tanto num caso como noutro, muito contribui a debilidade das nossas fronteiras, marítimas e terrestres.
Dentro dos crimes falou também do branqueamento de capitais à vista de todos nos grandes projectos imobiliários. “As mansões que se erguem diariamente em Maputo e os vários projectos de construção de condomínios servem de capa para dissimular ou esconder a origem ilícita da riqueza de muitos cidadãos.” Paulino não nos fez descobrir nada de novo. Não revelou nada que todos nós não soubéssemos. A coragem de Paulino ao fazer tais revelações/ insinuações na praça pública foi, para mim, a grande descoberta.
Há muito que se fala no tráfico de menores para as redes de prostituição na África do Sul, que tem na fronteira de Ressano Garcia o seu ponto de passagem. Isto é feito mesmo às claras, durante o dia. O ano passado fez-se mesmo um filme sobre isso. Há muito que se fala que o porto de Nacala, na província de Nampula, trabalha mais de noite do que de dia. Falou-se também que o consumo na capital do país ressentiu-se bastante após as revelações do WikiLeaks e que a economia paralela, de lavagem e branqueamento de capitais, tal como na Medellin de Pablo Escobar, alimentava muita gente que depois dessas revelações passou a viver bem pior.
Mas se aquelas acusações são mais difíceis de provar já outra das insinuações de Paulino é fácil de investigar e de descobrir: os grandes casarões e os condomínios privados que nascem como cogumelos na capital do país. Não é difícil porque são bairros inteiros, como o Triunfo, o Sommercheild Dois o Belo Horizonte e outros na Matola. Como é que contribuintes com salário de 20 ou 30 mil meticais possuem mansões de três pisos avaliadas em mais de um milhão de dólares? Quantos casarões haverá nestes bairros construídos com dinheiro limpo e honesto?
Assim, por alto, arriscaria a dizer que cabem bem nos dedos de uma mão. A isto chama-se, meus senhores, sinais exteriores de riqueza, e, num Estado de direito, são imediatamente investigados. Mas será que há vontade, sobretudo política, de efectuar uma investigação profunda e séria sobre isto? A mim parece-me claramente que não porque, como diz Paulino, é a partir dos centros nevrálgicos do poder que o crime actua.
João Vaz de Almada, A Verdade
Paulino, diga-se com bastante ousadia, colocou o dedo na ferida, uma ferida bem profunda na sociedade moçambicana, tão profunda que é praticamente impossível de sarar. O PGR disse que o crime organizado é quem dita as regras em Moçambique e quem se mete com os criminosos, tem um triste fim: a morte. O pior, ou o melhor, dependendo do ponto de vista, veio mais adiante quando Paulino disse que “é a partir dos centros nevrálgicos do poder que o crime organizado actua.”
Ou seja, disse que sem a conivência lá de cima, de quem manda, provavelmente o crime não estaria tão organizado e não compensaria tanto. Falou no facto de Moçambique ser uma rota de vários tráfi cos, desde o de drogas até ao de pessoas. E aqui, tanto num caso como noutro, muito contribui a debilidade das nossas fronteiras, marítimas e terrestres.
Dentro dos crimes falou também do branqueamento de capitais à vista de todos nos grandes projectos imobiliários. “As mansões que se erguem diariamente em Maputo e os vários projectos de construção de condomínios servem de capa para dissimular ou esconder a origem ilícita da riqueza de muitos cidadãos.” Paulino não nos fez descobrir nada de novo. Não revelou nada que todos nós não soubéssemos. A coragem de Paulino ao fazer tais revelações/ insinuações na praça pública foi, para mim, a grande descoberta.
Há muito que se fala no tráfico de menores para as redes de prostituição na África do Sul, que tem na fronteira de Ressano Garcia o seu ponto de passagem. Isto é feito mesmo às claras, durante o dia. O ano passado fez-se mesmo um filme sobre isso. Há muito que se fala que o porto de Nacala, na província de Nampula, trabalha mais de noite do que de dia. Falou-se também que o consumo na capital do país ressentiu-se bastante após as revelações do WikiLeaks e que a economia paralela, de lavagem e branqueamento de capitais, tal como na Medellin de Pablo Escobar, alimentava muita gente que depois dessas revelações passou a viver bem pior.
Mas se aquelas acusações são mais difíceis de provar já outra das insinuações de Paulino é fácil de investigar e de descobrir: os grandes casarões e os condomínios privados que nascem como cogumelos na capital do país. Não é difícil porque são bairros inteiros, como o Triunfo, o Sommercheild Dois o Belo Horizonte e outros na Matola. Como é que contribuintes com salário de 20 ou 30 mil meticais possuem mansões de três pisos avaliadas em mais de um milhão de dólares? Quantos casarões haverá nestes bairros construídos com dinheiro limpo e honesto?
Assim, por alto, arriscaria a dizer que cabem bem nos dedos de uma mão. A isto chama-se, meus senhores, sinais exteriores de riqueza, e, num Estado de direito, são imediatamente investigados. Mas será que há vontade, sobretudo política, de efectuar uma investigação profunda e séria sobre isto? A mim parece-me claramente que não porque, como diz Paulino, é a partir dos centros nevrálgicos do poder que o crime actua.
João Vaz de Almada, A Verdade
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