Thursday 9 July 2009

Pobreza de estradas

Todos os anos, percorro, de viatura, quase todas as principais estradas nacionais. Apercebo-me que há problemas graves de manutenção das vias. Troços, há pouco, construídos de raíz, apresentam-se com covas, aberturas e declives, que permitem concluir ter ocorrido erros ou compromissos, na sua fiscalização. São um verdadeiro cemitério dos fundos públicos. É possível minimizar os custos gastos com as estradas? – É possível. Os tapetes não duram devido ao defeito de fabrico e ausência de manutenção periódica.
O governo não tem política para as estradas. Tal como acontece noutros sectores, continua a improvisar.

Proposta 1. Reabilitar as vias e a seguir colocar portagens nas vias que ligam as capitais provinciais. A medida vai encarecer os custos de bilhete de passagem e de transporte de mercadorias, mas, teremos viagem confortável, pouco tempo na estrada, a mercadoria terá maior fluidez, reduzido gasto de materiais e menos acidentes.
Andar em boas estradas e receber a mercadoria em tempo recorde tem custos. É tempo de dotar o País de estradas transitáveis e terminar com trilhos pouco duradouros.


Proposta 2. Caso a primeira pro- posta se mostre inviável, apresento uma outra que consiste em dividir as estradas nacionais em troços que podem variar entre 500 a 700 quilómetros e concessioná-las a empresas privadas para a sua manutenção permanente.
Tanto na Proposta 1 quanto nesta, a Autoridade Nacional de Estaradas funciona como órgão fiscalizador.
Criar uma lei que interdite a participação de empresas de membros do Governo tanto na gestão de portagens como na manutenção de estradas, para não inibir a ANE de agir. Proibir que empresas de directores, ministros, presidentes dos tribunais Supremo, Administrativo, Conselho Constitucional entrem no negócio. Não permitir que empresas do Presidente da República participem em negócios do Estado, como tem sido prática.
Conhecem-se os constrangimentos que isso traz porque, em Moçambique, existem imensas dificuldades em separar negócios dos chefes da gestao da coisa pública. Para muitos, a separaçao é inexistente. Aproveitam-se dos cargos governamentais para promover seus negócios. Agindo de tal modo, fica minimizado o crónico problema da falta de fundos para manter as estradas transitáveis. As estradas são importantes, na geração de riqueza e, nas actuais condições, são saco furado.
Enquanto o Presidente Armando Guebuza não largar as aeronaves - existem suspeitas de que gente grande do Executivo faz parte da empresa Capital, proprietária dos helicópteros com que Guebuza se faz transportar nas suas incessantes presidências abertas - e começar a percorrer o País de viatura, continuaremos a ter estradas intransitáveis.
Lá em cima está tudo bem, mas, cá em baixo, nada corre bem. Os colaboradores do Presidente, que o encorajam a proceder de tal forma, sabem que o estão a enganar porque, em privado, têm opinião contrária. Não se vence a pobreza com trilhos.

( Edwin Hounnou, em A Tribuna Fax de 08/07/09 )

2 comments:

Anonymous said...

A maioria dos governos africanos ainda tem muito que aprender com os seus colegas europeus, americanos, etc. Na Europa nao se gastam dinheiros publicos de qualquer maneira, especialmente se o pais esta em recessao ou atravessando uma crise economica. Em Africa, apesar da maioria do nosso povo viver no limiar da pobreza e sem as minimas condicoes de vida, continuamos a apostar em 'grandes inauguracoes presidenciais', viajando nas aeronaves ultimo modelo em termos de luxo, comitiva presidencial beneficiando de viaturas luxuosissimas, ou trocando-as com frequencia, isto e, abusando do dinheiro publico. Temos de ter as prioridades certas, apostar na reabilitacao das nossas estradas, construcao de habitacao para todos, construcao de mais hospitais e clinicas de bairro, acesso do nosso povo a educacao, apostar na formacao de mais medicos, enfermeiros, engenheiros, todos remunerados com salarios condignos, criacao de mais industria, enfim, investir no nosso pais e apostar no nosso povo. O governo deveria de servir de exemplo para todos, e nao preocupar-se com o 'seu umbigo'. O nosso povo merece melhor, merece um futuro para si e seus filhos, e uma vida condigna.
Maria Helena

JOSÉ said...

Muita verdade junta, infelizmente muitos teem as prioridades erradas e preferem o discurso demagógico.