Wednesday 15 July 2009

A eternização de Guebuza numa ponte que Chissano planificou

Culto de personalidade em perspectiva no Zambeze


Depois de escolas que já ostentam o nome de Armando Guebuza a acção agora estende-se para nova Ponte do Zambeze e o mais caricato é que tudo indica que será o próprio a inaugurar uma infra-estrutura com o seu nome, para a qual, aliás, nada contribuiu porque até foi planeada e financiada no mandato do seu antecessor, Joaquim Chissano. É o culto da personalidade no seu mais ridículo esplendor .


Maputo (Canal de Moçambique) – O anseio em ver seu nome atribuído a um dos maiores empreendimentos construídos pelo Estado com esmagadora maioria do capital resultante de contribuição externa, mais propriamente da União Europeia e do Japão, falou mais alto para o chefe de Estado e para o Governo de Moçambique por si chefiado. E vai daí o culto da personalidade está em marcha e no seu mais ridículo esplendor. Assim a Ponte sobre o Zambeze vai chamar-se Armando Emílio Guebuza em vez de Ponte da Unidade Nacional como já se tinha praticamente assumido que se chamaria e chegou a ser dado como ponto assente na Administração Nacional de Estradas e no Ministério das Obras Públicas e Habitação.
Está decidido e ponto final, é a conclusão a que levam as afirmações ontem ao «Canal de Moçambique» do porta-voz do Conselho de Ministro. Vai ser mesmo eternizado o nome de Armando Emílio Guebuza na ponte que liga as duas margens do Rio Zambeze e para a qual quem mais contribuiu foi o Governo do antecessor de Guebuza sob a liderança de Joaquim Chissano. A ponte vai-se chamar nada mais, nada menos: Armando Emílio Guebuza. Os que pretendiam imortalizar Eduardo Mondlane, entre outros heróis mortos, ou chamar a ponte por Ponte da Unidade Nacional, que ergam suas pontes. É este o tom muito que está a prevalecer e é muito parecido com o que no auge do colonial-fascismo fez atribuir em Lisboa, à primeira ponte sobre o Rio Tejo, o nome do então chefe do Governo português, António de Oliveira Salazar. De recordar porém que a História continuou a ser escrita e depois da Revolução que marcou o fim da ditadura em Portugal deixou de ter o nome que lhe quiseram impor e passou simplesmente a chamar-se Ponte 25 de Abril, data que assinala o movimento democrático pela Liberdade no País que logo a seguir veio a reconhecer a Moçambique o direito à auto-determinação e independência.
A confirmação de que já nada impedirá que a Ponte entre Caia, na província de Sofala, e Chimuara, na província da Zambézia vai mesmo chamar Armando Emílio Gubuza veio do porta-voz do Conselho de Ministros, Luís Covane. Ele disse ontem ao «Canal de Moçambique», no fim da 14ª sessão do Executivo, que a ponte sobre o rio Zambeze vai, em definitivo, levar o nome do actual chefe do Estado e do Governo de Moçambique.
“Estou a dizer que a cerimónia da inauguração da Ponte Armando Emílio Guebuza foi um dos pontos discutidos pelo Conselho de Ministros. A questão do nome já foi, há muito tempo, ultrapassada”, respondeu Luís Covane, quando questionado pelo «Canal de Moçambique» se o presidente da República havia aceite a atribuição do seu nome à ponte que liga os distritos de Caia, em Sofala e Chimuara, na Zambézia.
A ponte sobre o Zambeze será designada Armando Emílio Guebuza por proposta do governo, durante uma sessão do Conselho de Ministros que ocorreu na ausência do chefe do Estado, mas que conste o próprio não se opôs até aqui que se continue a insistir em por o nome de uma pessoa viva a uma infra-estrutura que por sinal até irá ser inaugurada por si próprio.
Muitas entidades e individualidades criticaram a ideia, achando que seria mais um acto de culto de personalidade ao chefe do Estado.
Está até a circular uma carta de recolha de assinaturas contra a atribuição do nome de Guebuza. Está a correr pela Internet e poderá induzir um movimento de protesto de grande envergadura que em vésperas de eleições poderá vir a tornar-se uma autêntica casca de banana para Guebuza.
Residia alguma expectativa no seio de alguns moçambicanos, de que o presidente da República numa atitude sem precedentes impedisse que a proposta do seu governo fosse avante. Mas pode-se, pelo menos para já, considerar que tal expectativa gorou-se.
Armando Guebuza ficará para a História “não se sabe por quanto tempo”, mas “com um rótulo que não cola bem com o perfil de estadista por que anseia”. “Os veneradores à sua volta melhor sabem onde o metem”. São alguns comentários que temos também registado.
“A questão do nome já está ultrapassada e dia 11 de Agosto é a inauguração da Ponte Armando Emílio Guebuza”, realçou o porta-voz do Conselho de Ministro, Luís Covane, que também é vice-ministro da Educação e Cultura.

Será cobrada taxa de portagem


Ainda no encontro de ontem, o governo aprovou o decreto que institui o pagamento de taxas de portagens nas pontes do Zambeze “Armando Emílio Guebuza”, da Moamba, do Guijá e na de Lungela. O valor das respectivas taxas dependerá de aqui em diante do ministro das Obras Públicas e Habitação em coordenação com o ministro das Finanças. Caberá a este dois pelouros fixar e actualizar as taxas, segundo nos disse também Luís Covane.


(Borges Nhamirre, Canal de Moçambique, 15/07/09)

2 comments:

Anonymous said...

Mas alguem esta admirado com este genero de atitude? Resume-se em 3 palavras: "Quero, mando e posso"
Maria Helena

JOSÉ said...

Este assunto continua a dar que falar, pois não há consenso e pensa-se que tem a ver com o complexo de lambe-botismo e bajulação.