Monday, 20 July 2009

Líderes corruptos expropriam-se de 80% da ajuda financeira

Cerca de 80% da ajuda financeira destinada a África é depositada em contas privadas dos ditadores e líderes corruptos do continente, abertas nos bancos ocidentais.
Em 2004, por exemplo, foram depositados cerca de 94 biliões de dólares nas contas dos bancos suíços, sendo a maioria deste montante pertencente a políticos africanos, montante que aumentou para 150 biliões de dólares em 2005.
Os regimes ditadores e repressivos que se instalaram em Africa desde o fim da Guerra Fria, antecederam a 60 anos de colonialismo, foram marcados por falta de incentivos, prestação de contas ao povo (a excepção dos doadores estrangeiros), razão pela qual estes governos açambarcaram a ajuda financeira sem sofrer nenhuma consequência.
Segundo a economista zambiana, Dambisa Moyo, que já trabalhou para o Goldman Sachs (um dos maiores bancos de investimento do mundo), e o Banco Mundial, o sistema baseado em ajuda financeira encorajou a corrupção, criou a dependência, alimentou a inflação, endividou os países pobres, destruiu o empreendedorismo, e marginalizou os africanos.
Como a história já o demonstrou, nenhum país conseguiu reduzir significativamente a pobreza ou induzir níveis de crescimento significantes e sustentáveis de crescimento económico com base na ajuda financeira concedida pelos países mais ricos.
Alguns países tais como a Irlanda conseguiram criar empregos para a sua população através do comércio e encorajando o investimento doméstico e estrangeiro. Assim, conseguiram financiar e facilitar o desenvolvimento, e retirar a sua população da pobreza e sofrimento.
Por outro lado, os países africanos continuam dependentes da ajuda perpétua e desprovidos de todo o tipo de incentivos.
Isso porque, com a ajuda financeira prontamente disponível, os líderes africanos, ao longo de vários anos, sempre demonstraram uma grande falta de responsabilidade, caracterizada por uma falta de prestação de contas e indiferença e, por isso, Moyo defende que é inútil tentar manter a tradição deste tipo de ajuda, que já provou inúmeras vezes ser infrutífera.
Há cerca de 40 anos, afirma Moyo, a China era mais pobre comparativamente a muitos países africanos. Hoje, contudo, é um dos maiores credores mesmo dos países ocidentais. “Eles conseguiram isso através da construção de uma sociedade independente da ajuda”, enfatiza Moyo.
Por isso, Moyo defende formas mais inovadoras de financiar o desenvolvimento de Africa, incluindo o comércio com a China, maior acesso aos mercados de capitais e de micro-finanças.
A ajuda financeira, a semelhança do Plano Marshall adoptado pelos Estados Unidos para os países no término da Segunda Guerra Mundial, desempenhou um papel importante na construção e reconstrução dos países europeus devastados pela guerra.
Todavia, o Plano Marshall era de curta duração e incisivo. Contrariamente, para os países africanos foi adoptada uma abordagem diferente de ajuda, baseada em compromissos abertos sem um fim a vista.
O problema com o sistema aberto, segundo Moyo, é a razão pela qual os governos africanos carecem de incentivos para procurar melhores e outras formas de financiar o seu desenvolvimento.

( O País, 19/07/09 )

1 comment:

Anonymous said...

Transcrevo a parte que me deixou boquiaberta: "Em 2004, por exemplo, foram depositados cerca de 94 biliões de dólares nas contas dos bancos suíços, sendo a maioria deste montante pertencente a políticos africanos, montante que aumentou para 150 biliões de dólares em 2005." Se e verdade o que Dambisa Moyo afirma, Africa esta perdida, e os pobres nao tem hipotese alguma de sonhar com uma vida mais digna. Espero que estas percentagens nao sejam correctas.
Maria Helena