Friday 17 July 2009

Apagando marcas do passado colonial : Cinquenta e três ruas com nomes nacionais

MAIS de cinquenta e três ruas de diferentes bairros da cidade de Maputo, que usam até ao momento topónimos herdados da administração colonial, passarão, brevemente, a ostentar nomes nacionais com vista a valorizar os moçambicanos que se destacaram nas diversas frentes pela causa da Pátria e, ao mesmo tempo, eliminar parte dos vestígios da dominação colonial. Aprovadas pela Assembleia Municipal de Maputo, as novas designações serão apresentadas à instituição de tutela das autarquias, que deverá posteriormente autorizar a sua fixação.
Maputo, Sexta-Feira, 17 de Julho de 2009:: Notícias
Está é a segunda vez que uma operação do género é levada a cabo pela edilidade da capital do país, sendo que a primeira abrangeu trinta e uma vias públicas, entre as quais 24 ruas.
A acção deverá abranger, entre outros bairros, os do Alto-Máe, Chamanculo A, B e C, Malhangalene A e B, com mais ruas abrangidas pelo processo de substituição das designações, que já vai na sua segunda fase, segundo o porta-voz da Assembleia Municipal, Gaspar Sitóe.
Nesta etapa a alteração de topónimos abrangeu a zona de cimento e arredores, sabendo-se, porém, que as designações atribuídas na era colonial, terminadas com a independência nacional em 1975, também existem nos bairros suburbanos.
Assim, com base na nova toponímia, as ruas Lacerda de Almeida, no Chamanculo B, Paiva Couceiro, no Alto Maé, Rua da Esperança, no Aeroporto “A”, e Rua da Gávera, no Bairro Central B, passam a designar-se Marcelino dos Santos, Rua da Udenamo, Augusto Macamo e Mário Dimande, respectivamente. Na mesma óptica a Rua Trindade Coelho passará a designar-se Rua Avelino Mondlane.
Ainda no mesmo processo, a Rua Porto Alegre, no Bairro da Malhangalene B, passará a Rua Mártires de Homoíne, em homenagem às vítimas do massacre de Homoíne, ocorrido a 16 de Junho de 1986, no decurso da guerra de desestabilização.
Gaspar Sitóe explicou que as novas denominações vão abranger nomes de figuras que se destacaram pela causa nacional nas mais variadas áreas, nomeadamente política, cultura, educação, saúde, religião, desporto, música, entre outras.
Sabe-se que até meados do ano passado apenas 800 vias de acesso, das cerca de 2700 registadas na cidade de Maputo, é que possuíam denominação. As restantes 1900 eram identificadas por números codificados, facto que se mostra bastante constrangedor para os munícipes, dado que facilmente as confundem.
Foi para inverter este cenário que a Assembleia Municipal aprovou um regulamento de atribuição de topónimos em 2006, tendo na sequência disso sido criada a Comissão de Toponímia, composta por oito membros, para estudar a atribuição de nomes às vias, que podem ser avenidas, ruas, pracetas, travessas e outras.
Para além da substituição dos topónimos herdados do colonialismo, a Assembleia Municipal aprovou, na generalidade, a proposta de alteração de nomes dos Distritos Municipais número um, dois, três, quatro e cinco, tendo sido entregue às Comissões de Trabalho que vão auscultar as bases sobre os novos nomes a serem atribuídos.
Com base na nova toponímia, o nosso Jornal, por exemplo, ficou a localizar-se na esquina entre a Rua “Joaquim Lapa” e a Rua do Notícias, contrariamente às antigas designações, com base nas quais se localizava no entroncamento da primeira com a Rua Baptista Carvalho.


FONTE: Notícias, 17/07/09, citado em www.macua.blogs.com

NOTA DO MACUA:
Interessante que "a Rua Porto Alegre, no Bairro da Malhangalene B, passará a Rua Mártires de Homoíne, em homenagem às vítimas do massacre de Homoíne, ocorrido a 16 de Junho de 1986, no decurso da guerra de desestabilização". E as vítimas da Frelimo não têm direito a ser lembradas? E agora já não existiu uma guerra civil: é guerra de desestabilização. Mas as únicas tropas estrangeiras existentes em Moçambique,e referidas no AGP, estavam ao lado da Frelimo. A Renamo não tinha tropas estrangeiras a apoiá-la. Em que ficamos?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE

2 comments:

Anonymous said...

Quanta verdade neste comentario pelo "Macua". Nao creio que a guerra tenha sido de desestabilizacao, todos sabemos que, se ela nao tivesse existido, ate hoje nao teriamos oposicao em Mocambique, nem teriam sido assinados os acordos de Roma, e ainda viveriamos debaixo de uma ditadura Frelimista. Podemos agradecer tudo isto a Renamo que lutou pela implementacao da democracia em Mocambique, embora a Renamo de hoje seja outra. Que tal ruas com os nomes de Reverendo Urias Simango, Joana Simeao e outro martires politicos assassinados pela Frelimo?
Maria Helena

JOSÉ said...

Os nomes coloniais devem ser mudados mas deve haver consenso, tanto mais que há grosseiras tentativas de manipulação da História.
Não há ruas com os nomes de Simango e outros mártires mas há a Rua Marcelino dos Santos. A Rua de Portalegre, onde eu vivi na Malhangalene, agora chama-se Rua dos Martires de Homoine, mas esse massacre nunca foi bem investigado.
Gostava de ver mais tranparencia neste processo.