Tuesday 28 July 2009

O Governo de Medo, os Puxa Sacos e o Povo

Depois de ter falado muito sobre os puxa sacos, lambe botas e os apóstolos da desgraça, eis que a Assembleia da República brinda o seu povo com a força de intervenção rápida no meio da sessão, só porque a bancada da Renamo União Eleitoral designou a senhora Rupia como um dos membros do Conselho Constitucional.
No meio de todas as histórias que se podem contar sobre o tal acontecimento, uma verdade deve ser sublinhada: a senhora Rupia jamais serviria ao Governo do dia. Depois de se ter tornado uma batata quente no Gabinente de Combate Contra a Corrupção, esta senhora passou a ser inimiga de algumas figuras sonantes do poder.
Isto, membra-me todos os episódios que rodeiaram a eleição ou designação dos membros da Comissão Nacional de Eleições e as discussões que se levantaram em torno do nome da senhora Maria Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos. É que, mesmo com o apoio de uma parte dos parlamentares, tudo foi feito para que ela não fosse aceite como membro da CNE.
O que é que Mabota e Rupia têm de comum ou de especial? Uma única coisa, a capacidade de não vergar perante injustiça, pressão, intimidação e até aliciamento, seja ele material ou não. Para seu próprio infortúnio, estas duas senhoras juraram conservar intactos os seus príncipios e suas convições e por isso comem o pão que o diabo amassou.
Não sei qual será a saida que a Assembleia da República encontrará para preencher o vazio que é deixado pela não designação da senhora Rupia. Na verdade, em última instância, deverão ser os seus eventuais e futuros colegas que devem decidir se ela entra ou nao no Conselho. De todas as maneiras, a Alice Mabota foi imediantamente retirada e hoje nós conhecemos a composição da Comissão.
Nada contra a Assembleia da República e nada a favor da Rupia e da Mabota, embora se alguém me pedisse o voto, ele seria sem dúvida para cada uma dessas senhoras. É que pessoalmente, não tenho arte para ser politicamente correcto e prefiro manter a minha mente em harmonia com os meus príncipios do que ter uma consciência oprimida e chantagiada só porque devo agradar a este ou a aquele.
O Governo do medo é algo muito especial. As pessoas que nele são governados não possuem um ideal, uma vontade, uma visão e uma esperaça. Nesse Governo, as pessoas obecedem ordens e a a voz de comando. O Governo do medo é recheado de ovelhas cegas e outras que se fazem de cegas e seguem o pastor que é o único dono da verdade e do saber.
No Governo do medo a razão não serve para nada. A Consciência é maniatada e o saber equivale a ignorância. Ninguém questiona embora se pregue o contrário. Ninguém indaga embora também pareça o contrário. Obviamente que ningém deve criticar sob pena de ser conotado com o inimigo e muito civilizadamente conotado com a oposição.
É o Governo do medo que inventa, cria e alimenta os puxa sacos. Aqueles que temem a represália preferem transformarem-se em caixas de ressonância e repetirem palavras com que não se identificam só para não serem suspeitos de estar no outro lado. É que o outro lado jamais foi visto como uma alternância, mas sempre como o lado mau, o abominável.
O Governo do medo tem três características: primeiro, é armado e tudo é feito sob o controle das armas ou de homens armados: segundo, é dominado por uma ideologia e por uma única opinião. Ai daquele que ousar contrariar; em último lugar, o governo do medo divide para subsistir. Em tal Governo as difereças sociais, políticas, étnicas e até regionais são tao evidentes que não há dúvidas da pretensão dos poderosos controlarem com base na exclusão.
Alguém uma vez criticou o facto da linguagem dos activistas ser bipolarizada, ou seja, criticam aqueles em favor destes. Ou simplesmente, são eles contra nós. Eles são os poderosos, os ricos e os mais bem educados e nós somos os pobres, os explorados, os excluidos e os analfabetos. Nada contra essa crítica, mas eu sou daqueles que não gosta de tapar o sol com a peneira. Quem olhar com atenção há-de ver que no Governo do medo só há dois lados, o deles e o nosso.
O Governo do medo, embora seja o ideal para reproduzir os puxa sacos e lambe botas pode com certeza albergar gente que não o seja. Nesse Governo há também gente que não é puxa saco nem lambe bota. Assim também como é verdade que, do lado de fora, do lado dos apóstolos da desgraça haja gente que não o seja. O mau é rotular os grupos.
Eu não acho ser verdadeira a máxima que diz o seguinte: mostre-me com quem tu andas e eu te direi quem és: Judas andava com Jesus Cristo, e todos sabem quem ele veio revelar ser. Assim também como Aristóteles que sempre andava com Platão veio afirmar que era amigo do seu mestre mas mais amigo da Verdade que de Platão.
Qual o lugar do povo no Governo do medo? Nesse Governo o povo é o peão. Serve de rebenta minas, serve de retaguarda, serve de cobaia, paga os impostos, vai votar e no final do dia está faminto e sem saída nenhuma. O povo representa a carne para o canhão e só Deus sabe como é que mesmo assim é o povo que mais se reproduz. Reproduz-se na completa ausência de serviços básicos.
O povo somos nós, votados na ignorância para não ter o conhecimento de interpretar os fenómenos políticos e sociais. Afinal porquê o povo não tem acesso a educação de qualidade? Porquê não tem acesso a trasportes públicos de qualidade? Porquê não tem acesso a seguraça rodoviária, água potável, serviços de saúde que dignifiquem e a possibilidade de ter um Bilhete de Identidade pelo menos no longo prazo de três meses? E afinal, porque a vida do povo não pode ser facilitada? Se for facilitada, o povo não demorará a mudar o Governo do medo.
Mas é isso mesmo que deve fazer: mudar o Governo do medo. Não interessa se é ou não produto de processos democráticos, a verdade é que todo o Governo do medo não priorizará a dignidade da pessoa humana, não trabalhará para a boa qualidade de vida e nem investirá em infraestruturas que facilitem os processos de desenvolvimento. Há aqui um dever de exercício da cidadania.

( Custódio Duma, em www.athiopia.blogspot.com )

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