Wednesday 1 July 2009

N'UM VAL'PENA! - Os caça-fortuna!

É estranho. Mas a verdade manda dizer que para andar na cidade de Maputo TV tem que ter no mínimo 100 meticais trocados em moedas de cinco para os “caça-fortuna”.
É isso mesmo. Já vos digo porquê. Os caça-fortuna são uma malta que anda nos supermercados, shoppings, onde haja por estacionar um veículo. São uns tipos irritantes para caramba. Vais tranquilamente a um shopping fazer umas compras para o teu mísero cabaz mensal, estacionas o teu veículo e imediatamente és literalmente rodeado de gente que se oferece para lavar o carro.
Murmuras um rotundo não, não tenho taco, mas logo a seguir os fulanos intimam-te “mais velho, vou ficar guardar, sou eu Antoninho”. Olhas o tipo e ficas com a sensação de tê-lo visto num filme de terror, aquele que faz o papel de mau. Feições duras, cara rasgada, calças jeans rotas, um autêntico protótipo de um mau carácter. É esse que diz que vai guardar o teu carro.
O pior é que concluem que somos mesmo obrigados a pagar pelos serviços superiormente prestados. Até têm o descaramento de indicar um mínimo estabelecido. Ai de ti se sais e te ficas por um honesto “obrigado, mano”. Praguejam e ouves atrás de ti os mais vilipendiantes nomes à tua mãe. Pior ainda se rebuscas os teus bolsos e encontras umas sacrificadas moedas de dois meticais.
Os fulanos ficam ofendidos. Ficam à imagem do Diabo. Vermelhos e fulos. Humilham-te em público e sentenciam: “da próxima vez você não vais panhar espelho, mais velho. No ku vizara muzaia!” para bons entendedores meia palavra basta. Acabas soltando mais alguns trocados, os tipos sorriem imbecilmente e viram-te as costas. Arrancas mal disposto e no primeiro semáforo és logo assaltado por putos com as caras teatralmente quisilentas e esfomeadas. Deprimido e com pena soltas mais alguns níqueis. No outro semáforo, umas senhoras clamam por clemência. Arrastam-se pelo lado do motorista indicando estarem esfomeadas. Querem umas moedas. Transtonado simulas que vais bazar, mas a tua companheira olha para ti com caras de poucos amigos, como quem diz: não tens vergonha? Aquela bem que podia ser a tua avô. Não tens como, soltas mais uns níqueis à conta da solidariedade para com os que não têm. E é interessante que estamos a falar de pessoas estrategicamente distribuídas pela cidade. Há territórios. Nos semáforos há de facto gente bastante carenciada. Mas também encontramos autênticos aldrabões. Simulando carência e pobreza, quando na verdade estão ali apenas para coleccionar dinheiro. Esses, ao fim da jornada têm o dia ganho, nalgumas vezes com mais dinheiro do que aquele que doou. Aliás, até são vistos à galhofa em senta-baixos, fazendo rolar ao gargalo pérfidas embalagens de Tentação. Sentam-se rodeados de damas, tipo sultão árabe, damas com interesses obscuros. De conduta duvidosa. Ou, por outra, de conduta não duvidosa. E você que andou a distribuir encarecidamente moedas pelos semáforos e estacionamentos, ao fim do dia está à rasca, percebe que afinal não tem dinheiro e faz contas à vida. É chato! Foste literalmente saqueado. Usurpado!
Agora virou moda outro tipo de saque. Nas casas de banho do Maputo Shopping. Aliás, devo tirar o chápeu para a limpeza e asseio daquelas casas de banho. São um mimo. Mas onde está o problema então? Acho que todos concordam comigo que um WC é um lugar de profunda intimidade. Alguns até meditam ali. Estranhamente temos ali naqueles WC do Shopping jovens funcionários à conversa, mesmo ao lado de ti. Terminas as tuas necessidades fisiológicas e os tipos insinuam com um recipiente à mão de que deves pagar alguma coisa. Ora essa. Se é para a manutenção daqueles lugares acho justo que se cobre um valor fixo. Mas agora se aquela malta conclui que os serviços por si prestados devem ser aleatoreamente remunerados, assim tipo esmola, isso não aceito e acho de uma imoralidade gritante. Assim como acho imoral e estúpido tê-los à conversa enquanto me alivio de um aperto gastro-intestinal. Não dá pá!
Ciao.


PS.
Vou de férias. Merecidas. Estou a pensar desligar o telefone nos próximos 47 dias. Desligar-me do mundo. Sem internet. Sem máquinas. Só eu e o natureza. E as árvores e os pássaros. Vou buscar ar. Muito ar. Aqui não há ar. Aqui estamos entre trincheiras, trava-se combate duro. Cheira a pólvora. E eu vou fazer uma pausa neste duro combate.Distras!

Leonel Magaia - Notícias, 25/06/09

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