Friday 10 July 2009

Dois peixes com legumes

Dois Peixes com Legumes é uma publicidade enganosa que começa ainda de madrugada. É uma publicidade enganosa que está a passar na Rádio e TV. Incita nos potenciais eleitores a escolherem o prato de peixe com legumes, nas próximas eleições Presidenciais, Legislativas e para as Assembleias Provinciais. Aparece um casal, num restaurante, para jantar. A mulher, autoritária, impõe ao marido que consultava o menu, a ter que comer um prato de peixe com legumes. A publicidade passa, em parte, num cenário com fundo vermelho, que simboliza as cores do partido Frelimo.
Aos que duvidavam da parcialidade de alguns membros da Comissão Nacional de Eleições, CNE, têm, agora, a oportunidade de dissipar as zonas de penumbra porque aquele órgão de condução do processo eleitoral está arregimentado a interesses obscuros. Essa publicidade que induz aos eleitores a escolherem a Frelimo é da autoria da CNE. Este órgão que deveria inspirar confiança nos eleitores, é suspeito de colaboracionismo.
Esta publicidade é só tolerável onde a oposição é inexistente ou anda distraída. Por serem tendenciosos, os seus mentores deveriam ser repudiados e expulsos daquele órgão eleitoral. Esta publicidade deveria ser considerada delito eleitoral, punível nos termos da legislação em vigor. A oposição deveria fazer uma queixa ao Conselho Constitucional e pedir, com agravo, a expurgação dos seus mentores da CNE, acusados de práticas fraudulentas.
Nem mesmo que seja para preservar as altas mordomias em que se encontram envolvidos os membros da CNE, eles deveriam, por incumbência da sua missão, abster-se de ajudar partidos a manterem-se no poder ou apoiá-los a subir. Esta aspiração colide com a sua tarefa que consiste na condução dos processos eleitorais com equidistância, isenção, objectividade e transparência, segundo reza a cartilha que pontapeiam.
A CNE, que o discurso oficial tenta passar a imagem de um órgão digno de confiança do povo e dos partidos concorrentes porque dirigido, na sua maioria, por uma suposta incaracterística sociedade civil com cartões de partidos nos bolsos e quotas em dia, deixa prever que fará muita confusão para agradar ao patrão, nas eleições do próximo Outubro.
É esta CNE fechou os olhos e fez-se de surda aos candidatos da Renamo para o município de Mandlhkazi preso no início da campanha eleitoral, pela polícia por motivos aparentemente políticos contrariando a lei. Os de Dondo e Gorongosa, impedidos, por indivíduos que queriam estar sozinhos na pista, de concorrer às eleições autárquicas de Novembro de 2008, alegando que eram não-residentes nos municípios em que pretendem concorrer.
A CNE ficou calada e dobrou-se em si feita que nem caracol apavorado, perante graves atropelos à lei eleitoral. Não tugiu nem mugiu, apesar de protestos contra as ilegalidades protagonizadas por indivíduos ligados ao partido no poder. Ao arquitectar fraude de tal modo, a CNE vira um problema sério para o processo eleitoral.

( Edwin Hounnou,em A Tribuna Fax de 09/07/09 )

6 comments:

Martin de Sousa said...

Isto é doença José. Doença mesmo. De uma publicidade que incita os moçambicanos a votarem você vê palermices de frelimices. É mesmo uma psicose.
Nós os moçambicanos de verdade entendemos que somos impelidos a votar/escolher porque se não o fizermos alguém o fará por nós.
Detalhes técnicos da produção daquele spot devem ser achacados a quem o produziu e não devem interferir com o ratio por detrás dela.
É melhor voltares para a RSA onde tudo é perfeito.

Anonymous said...

Eu acho que devemos estar todos com os olhos bem abertos, bem atentos as manobras desta CNE, que todos vemos ter os seus interesses pessoais em primeiro lugar. Sim, numa democracia normal isso nao aconteceria, eles seriam desacreditados e demitidos, sem direito a recurso.
Maria Helena

JOSÉ said...

Martin, o autor deste artigo é o Edwin, um dos melhores e mais respeitados jornalistas moçambicanos. Ele apenas se limitou a emitir uma opinião que é partilhada por muitas pessoas. Por exemplo, o ilustre Dede escreveu recentemente no seu blog o seguinte:

Publicidade manipuladora e entoxicante da CNE a favor do partido no poder rola nas Tvs. Ao invés da mensagem ser no sentido de apelar e educar ao cidadão para exercer seu exercício cívico-patriótico, trata de manipular os futuros votantes no sentido de votarem duma só formação política.

Podes verificar em:
http://ondeteencontrar26072007.blogspot.com/2009/07/publicidade-manipuladora-e-entoxicante.html

Tu tens uma opinião duferente, tudo bem, mas seria bom que respeitasses as opiniões dos outros.

Fazes referencia à RSA, todos sabemos que a África do Sul está muito longe de ser perfeita e enfrenta muitos problemas e desafios, mas garanto-te que este tipo de publicidade iria causar grande controvérsia. Já agora, permite-me recordar-te que a África do Sul pode servir de exemplo pelo modo exemplar como organiza eleições e recenseamentos.

Saudações fraternas e votos de um bom fim-de-semana.

JOSÉ said...

Maria Helena, este spot é no mínimo controverso e lança suspeitas . Se se trata apenas de um erro técnico, então deve ser discutido e corrigido, não se pode é ignorar as críticas.

Abraço forte!

Julio Mutisse said...

Pode ser dautonismo mas o fundo (e até roupas) ME PARECERAM VERDES...

JOSÉ said...

Ilustre Julio, o que realmente está em causa é se essa publicidade pode induzir a diferentes interpretações. Se queremos incentivar ao voto devemos ser bem claros e evitar qualquer tipo de controvérsia.