A máquina ainda por ser limpa de integrantes do passado.
Uma coisa é herdar a presidência, e outra bem diferente é herdar a equipa de apoio do presidente anterior.
Há uma manifesta falta de coordenação de agendas na Presidência da República. Entre a necessidade de o PR ser conhecido por todo o país e, no processo, agradecer aos seus eleitores após a sua “vitória”, existe uma outra realidade que não pode conhecer adiamentos. Os assuntos nacionais, nomeadamente a eminência de um conflito militar, deveria e deve constituir o principal ponto da agenda presidencial. Neste aspecto, a delegação de responsabilidades não é suficiente. É preciso ver-se o PR metido no assunto todos os dias.
Parece que houve um erro crasso na constituição da equipa de apoio do PR, ou não se deu importância ao facto, partindo do princípio de que, sendo o antigo PR e o actual pertencentes ao mesmo partido, não havia necessidade de gastar tempo definindo quem seriam os assistentes do PR “eleito”.
Os gabinetes presidenciais são motivo de muita preocupação pelos titulares do cargo em todo o mundo.
A menos que o PR seja alguém sem poderes para atacar esse sector e fazer as suas escolhas. Será o nosso caso?
Numa altura em que a sociedade moçambicana se encontra agastada pelo atraso que se verifica no CCJC, fica a impressão de que o país anda à deriva e ao sabor dos ventos.
Existem efectivamente dois exércitos num só país. FADM, que é governamental, embora se sinta e se acredite que obedece a comando partidário, Frelimo, e outro dirigido pela Renamo. Portanto, dois exércitos partidários. Não vale a pena andar em curvas e apresentar defesas que não colhem nem são consistentes sobre o assunto.
Existe uma situação de conflitualidade potencial que já se manifesta através de focos de tensão e mesmo disparos entre estes dois exércitos.
Um executivo que toma posse tem obrigação de implementar o que foi o seu manifesto eleitoral, e, se a escolha foi de continuidade, não se pode esperar muitas surpresas.
Só que o país e o seu povo querem ver mudanças sendo operadas a um passo que signifique alteração efectiva da sua vida. Visitas já foram efectuadas, muitas a um título ou outro. Despesismo governamental de carro ou de helicóptero não deixa de ser o mesmo.
O “dossier” principal, neste momento, é a iminência de um conflito militar de grandes proporções.
Quando o PR fala de que Tete não pode ser campo de treino para a guerra, deve lembrar-
-se que Satungira e Muxungué foram campos de treino militar.
A equipa herdada pelo PR e a composição do seu executivo significam, aos olhos de todos, uma espécie de compromisso entre AEG e FJN. Cada um colocou os seus “confiados” e daí se espera que tal arranjo funcione pelo menos nos tempos mais próximos.
Esqueceu-se que um Governo funciona quando os seus integrantes puxam todos na mesma direcção. Não se pode ter um Governo produzindo êxitos com ministros-figurantes ou simples guardiões de interesses e posições. Uma equipa executiva não é um conjunto de personalidades guardando ou defendendo retalhos ou pedaços da “capulana”. Silos, parques de máquinas e outras realizações do Governo de AEG sendo inauguradas por FJN são motivo insuficiente de tanta visita presidencial.
Para além da manutenção da paz e construção de um Exército único apartidário, existe o “dossier” da economia, que se mostra de tratamento urgente e prioritário.
O Governo tem de dar sinais de que pretende abordar as questões económicas com uma visão diferente.
A terra e os recursos minerais, os megaprojectos que lhe estão adstritos merecem tratamento baseado nos mais altos interesses da nação e não de um grupo de ministros-empresários e lobistas.
Há que trazer para a mesa toda a questão dos megaprojectos de forma transparente, para que a economia beneficie. Não se pode permitir que a proliferação de escândalos de natureza económico-financeira continuem a lesar os cofres públicos e aumentando a dívida pública.
Moçambique não pode viver e desenvolver-se com Ematumgate, EDMgate, LAMgate, CFMgate, TDMgate, Mcelgate, Procurementgate, Madeiragate.
O PR já teve tempo de se inteirar dos “dossiers” nacionais.
Também já teve tempo de reflectir sobre as prioridades do seu Governo.
Falar dos seus pilares como falava nos tempos de campanha eleitoral é inútil e contraproducente.
O país precisa de uma liderança que imprima velocidade, dinâmicas desenvolvimentistas combinadas com uma capacidade acutilante de ouvir e ler os anseios dos governados.
Enquanto guardião da Constituição, espera-se que o PR contribua para a democratização do país aprofundando a separação dos poderes democráticos com actos e não com mais discursos.
Tem-se visto e é sabido que a impunidade judicial prejudica sobremaneira o país e que é a partir de directivas subliminares que governantes, figuras políticas e empresários ensaiam e realizam operações que lesam o erário público e as aspirações de milhões de moçambicanos.
De maneira paulatina, mas obedecendo a um grande plano, o país foi sendo tomado, vendo os seus destinos desenhados numa perspectiva de enriquecimento rápido e ilícito dos seus mentores.
O país carece de soluções apontadas para a resolução dos seus grandes problemas, e o PR tem de começar a imprimir outra dinâmica a governação.
Já é tempo de aproveitar os espaços que surgem de maneira natural e criar espaços que lhe permitam construir uma equipa de apoio própria obedecendo aos seus comandos.
Aquele poder bicéfalo, que se temia, não pode continuar existindo.
Há indecisão em aspectos fundamentais e estruturantes. Sabe-se o que faz falta e o que emperra as transformações genuínas que o país precisa e requer.
Não há problemas para a maioria que o PR seja PR, mas ninguém quer ter um PR figurino que não “orienta a orquestra”.
É estratégia muito má conselheira privilegiar o adiamento dos problemas, esperando que, por si, tudo se encaixará nos carris e que a normalidade sobrevirá depois de alguns anos.
O PR não deve nem pode ter receio de presidir, de governar e sobretudo de liderar. Ou ele se torna num aluno rápido a aprender, ou veremos a crise se aprofundando e o país escorregando para o abismo.
Boa estratégia é “não esticar a corda” nem “encurralar o gato com as portas e janelas fechadas”.
Ninguém se esqueça que, sem saídas airosas para as partes, o que se consegue é adiar novas guerras, como a história ensina.
(Noé Nhantumbo)
(Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 03.08.2015, citado no Moçambique para todos
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