Thursday 13 August 2015

“Ciclo vicioso” em defesa do “status”

Quem cedo e rápido se esquece do passado está condenado a repetir erros.


As voltas que os políticos moçambicanos não se cansam de dar denotam uma rígida fórmula de pensamento e de acção.
Não importa o que se diga e o que digam os outros. A decisão e posição são manter tudo na mesma.
Outra faceta dos politicos moçambicanos é a sua arreigada teimosia em aceitar mesmo aquilo que obviamente deveriam evitar a todo o custo.
Há que reconhecer que mais ou menos duas décadas de “lavagem cerebral” e condicionamento do pensamento politico tiverem consequências que se reflectem na forma  como as pessoas se posicionam  e agem no dia-a-dia.
O Departamento de Informação e Propaganda e o Comissariado Politico da Frelimo, embora defuntos, deixaram sementes que germinam todos os dias.
De outro modo é difícil entender como e porquê gente com informação e educação teima em defender comportamentos e procedimentos claramente distantes dos interesses nacionais.
No que se configura uma estratégia  delineada com antecedência e executada ao pormenor por um Executivo subordinado a uma Comissão Política forte  e determinada a contornar qualquer oposição, o PM tomou conta dos “dossiers” técnicos e o PR passeia a sua classe “vendendo um peixe” bem diferente dos discursos de inclusão e de paz dos primeiros dias.
Só pode ser alguma leviandade e falta de tacto políticoprivilegiar acções político-diplomáticos deixando de lado os contactos com segmentos políticos nacionais que podem levar ao alcance daquela estabilidade que se sente que falta.
O  exercício de poder aparece e parece forçado numa situação nebulosa em que para muitos cidadãos se vive a usurpação poder e portanto uma ilegitimidade.
E com este ambiente turvo e complexo não se vislumbra uma liderança que traga os moçambicanos para a mesa do diálogo consequente.
De maneira semi-aberta, pois foi-se vendo meios bélicos chegando
ao país e negócios milionários para armar o país, num esforço de quem diz que quer a paz, mas se prepara a todo o vapor para a guerra, temos um Moçambique sentado num “barril de pólvora”.
Ontem, por alguma razão deflagrou uma guerra que durou dezasseis anos, e hoje acumulam-se razões para uma nova confrontação de duração imprevisível.
Quando a espiral de violência começar, já não terá valor  saber “de quem é a culpa”.
Os “golpes de rins verbais” concentrados em defender uma suposta constitucionalidade das suas  posições escondem “vermes e  lagartos” de manipulação e envenenamento do ambiente politico.
As falanges de apoio a uma são todas as partes de um segmento de
cidadãos “domesticados” e “instrumentalizados”. Há como que uma “milícia urbana” de prevenção para empunhar armas e lutar pela defesa do regime. Aqueles que faziam parte das “brigadas de choque” durante as campanhas eleitorais podem a qualquer momento ser accionados para engrossar as fileiras dos combatentes em defesa do partido no poder. Afinal é preciso não esquecer que  foi alguém sob instruções que violentou e inviabilizou as campanhas eleitorais dos opositores da Frelimo em Gaza. Foi alguém que assegurou a estrondosa vitória da Frelimo em Gaza e Inhambane.
E nesse cenário foi alguém que “fechou os olhos” e não viu a PRM
 transformar-se num braço do partido Frelimo em todo o país durante as eleições de Outubro de 2014.
O aparelho ou sistema judicial actuaram a contento em todo o processo que levou à explosão da crise pós-eleitoral. Nada foi julgado e nenhuma decisão foi tomada  contra pessoas identificadas
que praticaram ilícitos eleitorais.
Agora, com a tomada de posse do Governo e dos deputados da Assembleia da República, respira-se um ar de satisfação por parte daqueles que se mantém no poder. Alcançado o reconhecimento, julgava- se que havia “pernas para andar”,  mas isso tarda em acontecer.  O OGE, embora aprovado, ainda  carece dos fundos prometidos pelos doadores e parceiros externos. Passados mais de seis meses o Governo está mergulhado numa crise de falta de recursos financeiros para executar o seu programa.
Vive-se uma anormalidade anormal onde de um lado se recorre à bandeira do triunfalismo e do outro encontra-se e existe uma Renamo disposta a não dar o seu braço a torcer. Verifica-se um endurecimento dos discursos que podem alimentar a eclosão da
guerra agora localizada algures em Tete, conforme relatos nas redes
sociais e em alguma imprensa. Do Malawi, surgem notícias de Tsangano/Moatize.
A guerra das vantagens ou pela manutenção das vantagens constitui um factor de peso para o actual estado de coisas.
É caricato que algumas figuras de proa digam que “não apanham sono ou que têm pesadelos”,  quando essas mesmas pessoas sabem o que traria solução permanente para a verdadeira crise nacional que se vive, mas se recusam a abrir mão das suas posições. Uma coisa é negociar com vigor no sentido de vencer, mas outra é agir inflexivelmente, utilizando argumentos ou artifícios que consubstanciam irredutibilidade.
Os rumores de guerra ou de possibilidade da sua eclosão parece  não colherem atenção por parte dos detentores do poder.
A memória de algumas pessoas  é demasiado curta.
Alguém se lembra que as forças  militares governamentais eram bem mais robustas e organizadas que as actuais FADM?
Alguém se recorda que as teias do Estado policial eram bem mais fortes que nos dias de hoje?
A amnésia é um grande perigo para uma sociedade, pois leva a que os seus integrantes acabem por cometer erros de avaliação já cometidos no passado.
Poderemos estar à beira de um conflito que poderia ser perfeitamente evitável se os políticos tivessem a lucidez de entender que há coisas que não se devem repetir.
Há quem tarde ou se recuse a aprender que exércitos bem equipados  e numerosos não resolvem problemas políticos. As vitórias militares não são definitivas, e o que pode parecer preponderância é fugaz e normalmente insustentável.
Onde deveríamos ver contenção e realismo, encontramos manifestações de arrogância e inflexibilidade, que podem levar tudo a perder.
O apelo só poder de engajamento genuíno e rápido de todos os moçambicanos para a defesa daquilo que é o seu interesse superior: Paz, Concordia, Progresso e Desenvolvimento.
Afigura-se uma falsa discussão ou incompleta tratar da desmilitarização da Renamo enquanto o outro se mantém intacto com seu Exército e Polícia. Mente e estará mentindo quem disser e defender que as FADM e a PRM são apartidárias, como todos os moçambicanos bem sabem. Se essa tentative não se concretizou no passado, agora, depois de tanta desonestidade negocial, muito mais difícil sera que seja aceite pela outra parte.
De gurus da diplomacia e da condução de assuntos governamentais os moçambicanos esperam outra postura.
Aqui, jamais se tratou de vencer através das armas. Aqui, o que deve ser definido e concretizado é um modelo de governação que veja os poderes democráticos separados e um aparato de defesa e segurança que não sirva os interesses privados de um grupo de cidadãos “especiais”.
A República de Moçambique só assim será viável, e não uma panela de pressão prestes a explodir. 

(Noé Nhantumbo)


Canalmoz, 
13 de Agosto de 2015

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