Sunday 2 August 2015

Guerras…

 


A TALHE DE FOICE



Por Machado da Graça
Nas suas digressões pelo país Filipe Nyusi tem insistido bastante na ideia de que os moçambicanos não têm outro inimigo que não seja a pobreza. E eu, no essencial, estou de acordo com isso.
Fico, portanto, surpreendido e muito preocupado à medida que vamos descobrindo que o Governo, desde o tempo de Armando Guebuza, está numa correria de compra de armamento. Está a gastar centenas de milhões de dólares a comprar armamento.
Está-se a endividar pesadamente para comprar armamento. Está a criar empresas, de duvidosa legalidade, para comprar armamento.
Pois se o inimigo é a pobreza não seria mais normal gastar o dinheiro que temos, e mesmo fazer dívidas, para comprar mais sementes de qualidade, mais tractores, mais asfalto para as estradas, mais adubos, mais material escolar, mais medicamentos?
Eu, que sou por natureza ingénuo, sempre pensei que o armamento e equipamento das nossas forças de defesa e segurança era comprado com o dinheiro destinado para esse fim no Orçamento Geral do Estado, aprovado pela Assembleia da República.
Agora descubro, com enorme surpresa, que a EMATUM foi usada para comprar material militar.
E as perguntas óbvias são, à partida: O que é que uma empresa de pesca de atum tem a ver com a compra de material militar?
Ou, posto de outra forma, o que é que tem uma empresa, cujos donos são os sectores de defesa e segurança do país, com a pesca do atum?
E depois a surpresa aumenta quando, alertados pelo boletim Africa Confidencial, descobrimos que há outras empresas, também propriedade do Estado, que igualmente se dedicam a este tipo de negócios. Nomeadamente a Proindicus e, através dessa, a Monte Binga. Esta última afirma, orgulhosamente, na sua página na Internet, que o seu objectivo é: “Reforçar a capacidade financeira do sector da defesa através da captação de receitas de dividendos. E tudo me leva a acreditar que tudo isto passa ao lado da Assembleia da República.
Enfim, histórias mal contadas, ou nem sequer contadas... Cada vez que se cava um pouco aparecem minhocas a sair por todos os lados.
A propósito fiqueia saber, há pouco tempo, que a palavra portuguesa minhoca deriva da palavra bantu nhoca, que significa cobra. E que lembra logo o famoso Xiconhoca, o inimigo do povo.
Está tudo ligado.


SAVANA – 31.07.2015, no Moçambique para todos
 

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