Monday, 24 August 2015

Despartidarizar



Nas negociações entre o Governo e a Renamo, o chamado “diálogo político”, que decorre no Centro de Conferências Joaquim Chissano, as coisas não andam nem desandam. Ou, melhor dito, não andam e, em alguns casos, desandam. Como foi o caso no ponto sobre a despartidarização do Estado que, depois de longos debates para se chegar a um acordo, foi objecto de consenso apenas para a Governo dar o dito por não dito pouco depois.
E, no entanto, na minha opinião, a questão da despartidarização do Estado é a questão fundamental onde mergulham as raízes todas as outras questões.
Se as questões militares não andam para frente é porque o partido que controla o Governo não aceita perder, ou sequer partilhar, o controlo das forças armadas e da polícia, neste momento braços armadas daquele partido.
Tenho grandes dúvidas de que as duas partes cheguem a acordo sobre as questões económicas porque o partido que controla o Governo não quer perder, ou sequer partilhar, os benefícios e mordomias de que actualmente gozam os seus dirigentes e membros mais influentes.
E, em relação ao chamado “pacote eleitoral” , em que pareceu haver acordo, foi destruído pela fraude eleitoral, de Outubro passado, que tudo leva a acreditar que foi organizada pelo mesmo partido através da máquina estatal que controla, desde a Comissão Nacional de Eleições ao Conselho Constitucional, passando pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral.
Portanto, enquanto não ocorrer a despartidarização do Estado nada vai andar para a frente. E nada vai andar para a frente porque o partido Frelimo não quer a despartidarização do Estado. E, partidarizando em exclusivo o Estado,
julga que tem meios para impeder mudanças. Inclusive meios policiais e militares.
Só que eu não sei se não haverá nisso um grande engano. E, nesse tipo de enganos, normalmente quem se lixa é o mexilhão.
Isto é, nós.


Machado da Graça, Savana, 21-08-2015

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