Num país onde quase todos os dias se assiste a uma permanente e crescente crispação da cultura de responsabilização, as práticas enviesadas e atitudes sem nenhuma réstia de sentimento ou quaisquer entranhas de humanidade (protagonizadas pelos que deveriam dar o exemplo) têm vindo a tornar-se no pão nosso de cada dia.
Ininterruptamente, o desleixo e a negligência, que assolam as pessoas que se encontram em frente das instituições cujo objectivo primário é servir o público, prosseguem em lume brando, fazendo adormecer os moçambicanos que (sobre)vivem sob a tirania da sua pobreza reduzindo-os, assim, a meros objectos descartáveis.
A chuva que caiu na semana finda, deixando a cidade de Maputo, por sinal a capital do país, submersa, além de pôr a nu o deficitário sistema de saneamento, revelou a insensibilidade da empresa Águas de Moçambique (AdM) e, por tabela, dos que velam pela saúde pública dos moçambicanos empobrecidos.
Ou seja, de há uns dias a esta parte os munícipes de Maputo vêem as torneiras das suas casas a jorrarem água turva e, em alguns casos, expelindo um cheiro nauseabundo, mas ninguém diz ABSOLUTAMENTE NADA.
Mas na hora de cortar o fornecimento do precioso líquido os funcionários são extremamente diligentes, agem sem contemplação e com uma eficiência tal que nenhum prevaricador consegue escapar das suas garras.
Hoje, quando a água pela cor e pelo cheiro, não pode ser tratada de forma insuspeita pelos consumidores, a diligência foi parar ao picador de papel, relegada ao sótão do esquecimento pela ausência de carácter de quem hibernou eternamente no mesmo sótão o respeito pelo próximo.
Apenas três dias depois, quando as pessoas começaram a questionar, veio uma justificação: as descargas na África do Sul arrastaram lama ao centro de tratamento de Umbeluzi e, por via disso, passou a jorrar água turva nas torneiras de Maputo e arredores.
Fazendo fé de que o líquido é próprio para consumo como a AdM assegura porque cargas de água a informação veio bem depois de as pessoas, na sua continuada aflição, se terem limitado a usá-la para todos os fins? De que epidemia estaríamos a falar hoje se a água escondesse doenças? Certamente que estaríamos a contar as vítimas. Que, neste caso, seriam pai, mãe, filhos, tios, primos e avôs, menos o pessoal da AdM.
Portanto, essa informação tão tardiamente veiculada –ainda assim não chegou ao conhecimento de todos – é uma demonstração grotesca de falta de compaixão com os moçambicanos que se autoflagelam até à medula para pagar a factura de água e as demais.
A África do Sul, sempre que achou conveniente, fez as suas descargas sem que isso afectasse a água das nossas torneiras. Porém, no dois dias em que a cidade de Maputo ficou alagada estranhamente a lama veio arrastada do país vizinho. Há muitas coincidências nesta história. O melhor mesmo é ferver a lama da África do Sul. Aliás, a água...
Editorial, A Verdade
Ininterruptamente, o desleixo e a negligência, que assolam as pessoas que se encontram em frente das instituições cujo objectivo primário é servir o público, prosseguem em lume brando, fazendo adormecer os moçambicanos que (sobre)vivem sob a tirania da sua pobreza reduzindo-os, assim, a meros objectos descartáveis.
A chuva que caiu na semana finda, deixando a cidade de Maputo, por sinal a capital do país, submersa, além de pôr a nu o deficitário sistema de saneamento, revelou a insensibilidade da empresa Águas de Moçambique (AdM) e, por tabela, dos que velam pela saúde pública dos moçambicanos empobrecidos.
Ou seja, de há uns dias a esta parte os munícipes de Maputo vêem as torneiras das suas casas a jorrarem água turva e, em alguns casos, expelindo um cheiro nauseabundo, mas ninguém diz ABSOLUTAMENTE NADA.
Mas na hora de cortar o fornecimento do precioso líquido os funcionários são extremamente diligentes, agem sem contemplação e com uma eficiência tal que nenhum prevaricador consegue escapar das suas garras.
Hoje, quando a água pela cor e pelo cheiro, não pode ser tratada de forma insuspeita pelos consumidores, a diligência foi parar ao picador de papel, relegada ao sótão do esquecimento pela ausência de carácter de quem hibernou eternamente no mesmo sótão o respeito pelo próximo.
Apenas três dias depois, quando as pessoas começaram a questionar, veio uma justificação: as descargas na África do Sul arrastaram lama ao centro de tratamento de Umbeluzi e, por via disso, passou a jorrar água turva nas torneiras de Maputo e arredores.
Fazendo fé de que o líquido é próprio para consumo como a AdM assegura porque cargas de água a informação veio bem depois de as pessoas, na sua continuada aflição, se terem limitado a usá-la para todos os fins? De que epidemia estaríamos a falar hoje se a água escondesse doenças? Certamente que estaríamos a contar as vítimas. Que, neste caso, seriam pai, mãe, filhos, tios, primos e avôs, menos o pessoal da AdM.
Portanto, essa informação tão tardiamente veiculada –ainda assim não chegou ao conhecimento de todos – é uma demonstração grotesca de falta de compaixão com os moçambicanos que se autoflagelam até à medula para pagar a factura de água e as demais.
A África do Sul, sempre que achou conveniente, fez as suas descargas sem que isso afectasse a água das nossas torneiras. Porém, no dois dias em que a cidade de Maputo ficou alagada estranhamente a lama veio arrastada do país vizinho. Há muitas coincidências nesta história. O melhor mesmo é ferver a lama da África do Sul. Aliás, a água...
Editorial, A Verdade
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