Monday 14 November 2011

Um tributo à história de Moçambique

SR. DIRECTOR!

Quero antes de mais, endereçar a V.Excia em particular e a toda Sociedade do Notícias em geral, as minhas mais calorosas saudações. Hoje, convido a nação moçambicana para reflectir sobre algumas práticas um tanto ou quanto “desatentas” das nossas lideranças.

Maputo, Segunda-Feira, 14 de Novembro de 2011:: Notícias


No passado dia 19 de Outubro de 2011, comemorou-se uma vez mais, o desaparecimento físico daquele que foi o primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, homenageado por uma estátua de bronze que significa a sua devolução ao seu devido lugar “a Praça da Independência”. Ainda em Outubro, celebramos os 19 anos da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), razão que suscitou em mim algumas inquietações, as quais me levaram a querer partilhar convosco algumas opiniões.
Por forma a conduzir a bom termo esta reflexão, antes quero enumerar alguns significados que o termo homenagem pode assumir.
Homenagem: é uma palavra que define a retribuição de honra e/ou agradecimento. É uma forma de tornar público com um acto de gratidão algum favor que fora prestado por alguém. A homenagem pode ser prestada com uma menção honrosa, com um prémio de reconhecimento, etc. Esta prática é antiga, desde os primórdios, as civilizações tribais pré-históricas homenageavam com rituais seus guerreiros/heróis e seus deuses. (In: Marc Bloch).
Posto isto, espero ter deixado claro para todos que estiverem em contacto com esta opinião que Samora Machel é um ideal que deve e merece ser imortalizado. Porém, as circunstâncias (momento) nas quais tal fenómeno ocorre deixam o seu real objectivo a quem do seu real significado. Eu pessoalmente me questiono: Será que foi uma homenagem ao homem do povo ou foi mais uma estratégia das nossas lideranças (FRELIMO) para servir-se dos mortos visando granjear simpatias dos que os admiravam e acreditavam em seus ideais?
Meus caros irmãos, povo moçambicano… o país da marrabenta vive numa pobreza extrema e, se hoje assistimos à homenagem do homem do povo “sem povo” (já que este não se fez presente em massa na Praça da Independência), devemos nos questionar sobre o que de facto se está a passar nas cabeças desse mesmo povo. O facto é que, quando se gastam “os milhões da pobreza” num ambiente em que o slogan oficial é “luta contra a pobreza absoluta”, urge repensar no seio do povo sobre que tipo de líderes para os quais devemos alienar parte das nossas liberdades? A quem delegamos a nossa representatividade? Se existem tais líderes eu não sei, mas a cada dia, convenço-me cada vez mais que a FRELIMO e seus mandatários não o estão a saber ser. Um exemplo claro são as investigações das reais causas da morte de Machel e a posterior responsabilização de seus orquestradores que se tornam assunto, sempre, no dia 19 de Outubro de cada ano e com o mesmo discurso (o dossier de investigação será reaberto), passado o dia 19, espera-se mais um ano para ouvir-se a mesma ladainha de sempre (o dossier de investigação será reaberto!).
Samora é uma figura incontornável da nossa história, porém, existiram depois de Samora momentos e figuras que até então já deviam, na minha óptica, ter um lugar que os imortalize. Um deles é o 4 de Outubro (Dia da Assinatura do Acordo Geral de Paz – AGP). Este dia é e sempre será celebrado, “enquanto a paz existir”. Todavia, sou da opinião de que ao invés de esperarmos a morte e só 25 anos depois para homenagearmos as personagens principais daquele momento, seria bom que tal fosse feito de forma urgente. Quero convidar a todos que discordam com a ideia de que Moçambique já devia ter faz tempo, uma “Praça da Paz” (coloco aspas porque não tenho conhecimento de sua existência) na qual as imagens de Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama deviam estar imortalizadas por uma estátua destes no momento em que um pegava na mão do outro como sinal de dizer sim à Paz, sim ao calar das armas.
Caríssimos, é chegada a hora de abandonarmos a ideia do heroísmo partidário e reconhecermos que a História de Moçambique deve/devia fazer menção a outras figuras heróicas que não são do partido da vanguarda, isto é, abandonemos o “ocidentalismo” de que a história que prevalece é a do movimento vencedor, condutor da luta de libertação nacional. É necessário que se estabeleça uma ruptura/descontinuidade com o passado e busquemos nos jovens moçambicanos de hoje, independentemente de suas ideologias políticas, um ideal de vida no qual estes são encarados como o sujeito activo rumo ao desenvolvimento do país.
Moçambique não precisa de identificadores de problemas e sim de soluções para os problemas com os quais se depara.
Eu estou a fazer a minha parte. E vocês?

Cláudio Oliveira Amone Chivambo

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