Monday, 9 November 2009

A opinião de Machado da Graça

"É que apareceram observadores de toda a forma e feitio, nacionais e internacionais, verdadeiros e falsos, eficientes e desleixados. Enfim, parece ter havido de tudo."



Olá, Bárbara, como vai isso?
Do meu lado tudo bem, felizmente.
Como sei que te interessas por estas coisas dos procedimentos eleitorais, gostava hoje de falar um pouco contigo a-propósito dos observadores das eleições. Principalmente dos observadores deste processo eleitoral que está a decorrer no nosso país.
É que apareceram observadores de toda a forma e feitio, nacionais e internacionais, verdadeiros e falsos, eficientes e desleixados. Enfim, parece ter havido de tudo.
E depois há a forma como os órgãos de informação noticiam os relatórios desses observadores.
Comecemos pelos observadores rapidinhos. São aqueles que chegam ao país na véspera do dia das eleições, ficam na capital ou noutras cidades importantes, vão ver o povo votar e, no dia seguinte, declaram que as eleições foram livres, justas e transparentes. Nada lhes interessa o que aconteceu antes do dia da votação nem o que vai acontecer duranto o processo da contagem dos votos. Não lhes interessa, sequer, o que aconteceu no dia da votação nas zonas rurais, onde a tentação de fazer porcaria tem mais hipóteses de ser satisfeita. Um amigo meu comentava mesmo que, enquanto nós votávamos, um grupo desses observadores petiscava alegremente num bom restaurante da cidade. Se bem recordo, eles observavam, no prato, belos nacos de picanha.
Depois tivemos as largas centenas de jovens que se inscreveram como observadores para, ao que parece, irem para os distritos e localidades continuar a fazer campanha, pelo seu partido, mesmo no momento da votação, o que é proibido, como sabes.
Temos ainda os observadores nacionais pertencentes a organizações mais ou menos subservientes ao partido no poder. Esses estão ali apenas para carimbarem positivamente os resultados. No entanto metem sempre um pequeno parágrafo crítico, lá para o fim do relatório, para fazer bonito e acalmarem as consciências.
Depois há os observadores internacionais mais sérios. E, em relação a esses, a táctica é começar logo a tentar desacreditá-los logo que chegam para, dessa forma, desacreditarem antecipadamente aquilo que eles irão meter no seu relatório final. Começase por dizer que pertencem a países que se mostraram aborrecidos com algumas práticas eleitorais prévotação.
Depois afirma-se que eles se mostram muito amigos de um determinado partido da oposição e por aí adiante. Vamos esperar para ver como é que isso vai acabar.
Apesar da pressa com que chegaram e partiram, no entanto, alguns internacionais sempre meteram algumas críticas com certo peso nos seus relatórios, apesar de, no geral, acharem que o processo legitima os virtuais vencedores.
Só que, nesse momento, entram em acção os órgãos de informação do sector público que, talvez por falta de espaço para publicar tudo, acabam por só nos fornecerem a parte em que se legitima os vencedores, deixando de lado, por inúteis, os comentários críticos.
Pelo meio disso tudo há todos aqueles, normalmente chegados ao poder, que se armam de xenofobia e questionam a necessidade dos observadores internacionais, invocando a soberania nacional.
Enfim, é todo um mundo de acções e reacções à volta desta coisa tão simples que é ter pessoas a ver se as eleições são algo de sério e legitimador dos vencedores ou apenas uma palhaçada formal para manter na cadeira quem já lá está e não quer sair. Com todas as possíveis variantes intermédias.
E, devo dizer, tenho sempre uma certa desconfiança em relação a quem não quer que os seus actos sejam observados. Fico sempre a pensar, comigo próprio, o que estão essas pessoas a preparar para fazer que não querem que os outros saibam?
Só para terminar um assunto relacionado com este.
O boletim do Joe Hanlon refere que, no Norte de Gaza e em Tete, mais uma vez aconteceu o fenómeno de urnas com 100% de votantes e todos na FRELIMO e Armando Guebuza. Fenómeno estranho, sem dúvida. Mas eu pergunto: se já tinha
acontecido o mesmo, nas mesmas zonas, nas eleições anteriores, por que não estavam lá os observadores?
E, mais grave ainda, o que estavam a fazer os delegados dos partidos da oposição?
Dúvidas que, para já, ficam no ar.
Um beijo para ti, minha amiga, do

Machado da Graça

CORREIO DA MANHÃ – 06.11.2009, citado em www.macua.blogs.com

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