Tuesday 3 November 2009

Eleições 2009: Finalmente caiu o pano, mas e depois?

Aconteceram sem violência relevante nem intimidações de vulto, as eleições gerais moçambicanas de 2009. Como se esperava, Guebuza está a frente dos outros dois candidatos às presidenciais e a Frelimo continua a liderar a corrida às legislativas. Penso que a vitória será retumbante como já profetizava Macuacua!
Dhlakama que parecia ter sido pesadamente vencido por Daviz Simango que eventualmente ainda poderá ser o segundo candidato mais votado, parece ressuscitar e embora suas declarações de desespero, quando diz que irá incendiar o país, nota-se que caminha para uma aceitação sem queixas do processo todo.
Ele, Dhlakama tem que aceitar tudo que der e vier, possivelmente ainda pode ser premiado com a segunda posição, mas não se pode queixar dos resultados, já que ao complicar a vida do Daviz e do MDM, inclusive elogiando as muito criticadas decisões da CNE esperava tirar partido nisso. Esqueceu-se o mais velho que nisto de política tudo vale e que todos podem ser instrumentalizados.
Dhlakama vai incendiar o país se pelo menos não ser o segundo mais votado. Isso porque, se não for o segundo mais votado, a sua carreira de político já terminou. Sim, já terminou mesmo, porque daqui para frente nada mais se pode esperar dele, na medida em que perde não só o posto no Conselho de Estado, mas também muitos dos benefícios que recebia como o líder da oposição. Ficará somente a inscrição de que assinou o acordo de paz com Chissano.
É disso que Dhlakama tem medo, ceder esse posto ao Daviz que apareceu como uma luz para uma parte do eleitorado que já não acreditava muito nas duas forças que são a Frelimo e a Renamo.
Dos outros partidos fora da Renamo, Frelimo e MDM, nada se pode falar. Sabia-o de antemão a CNE, que esses partidos terão a única função de legitimar o processo que se pretende democrático, participativo e inclusivo e, não realmente de fazer alguma diferença na competição politica moçambicana. Nenhum deles conseguiu uma expressão considerável, entretanto podem ser saudados por terem confusionado o processo, com seus nomes e seus símbolos propositadamente escolhidos e alocados em círculos eleitorais.
Alguns foram mais coerentes ao afirmarem abertamente que de oposição não têm nada e que para não gastarem tempo com falatórios, nem gastar dinheiro que já não têm, preferem declarar-se frelimistas. Coisa para dizer que é difícil fazer política em Moçambique. É difícil também, por isso, analisar o fenómeno politico moçambicano.
O Daviz e o MDM apareceram para dar mais esperança ao eleitorado moçambicano na matéria de diversidade de opinião e de participação política. É muito curioso que eles conseguiram maiores votos na escola secundaria Josina Machel e na Polana, locais onde toda a elite politica moçambicana foi votar. Locais onde o próprio Guebuza e seu elenco foram votar. Uma mensagem muito clara de que alguém das mesas do poder já não vota neles. Ao votarem em Daviz e no MDM, não significa necessariamente aceita-lo, mas a dizer que o podem aceitar. Porque não?
Embora a Frelimo possa vir a conseguir a maioria que sempre procurou, já recebeu o recado dos seus partidários que essa maioria só a pode complicar ou destruir. Só a pode tornar mais arrogante e menos preocupado com os reais problemas do povo.
A Renamo vai perder mais alguns assentos e o MDM vai ter pela primeira vez assentos parlamentares. E se o MDM tivesse concorrido no país todo? Alguém dizia: olha nunca faças essa pergunta, ela não tem importância nenhuma. Eu penso que é pertinente perguntarmos isso, porque não foi justa a forma como o tal partido foi excluído. Mas a resposta é simples e clara: teria muito mais assentos parlamentares, veja-se que mesmo em Inhambane onde foi posicionado, conseguiu alguns votos.
Os observadores já saíram a elogiar o processo que foi justo, livre e transparente. Eu acho que, se olharem só para o dia 28 então estão certos, mas se olharem o processo todo então deve questionar-se esse pronunciamento. Muitos dos observadores chegaram no país dois ou três dias antes das eleições. Não podem tirar conclusões precipitadas.
Para uma conclusão coerente e justa, os observadores devem ver o processo todo. As inscrições nos órgãos eleitorais, a pré campanha, a própria campanha, as eleições, a contagem, etc. etc. Não basta ver a cabeça para dizer que viu o animal.
Dos observadores nacionais, tenho a reprovar aqueles que tiveram que atrelar-se ao governo para observarem eleições. Os observadores devem ser independentes. Como é que aparecem observadores que são subsidiados pelo governo? Governo esse que tem o seu partido também como concorrente? Isso é promiscuidade!
Mas ok, as eleições aconteceram e agora a questão é: e depois? E depois o quê? E depois? Será que Dhlakama vai voltar a concorrer pela quinta vez? Será que ele vai continuara a afundar a Renamo? Será que Daviz vai consolidar o seu partido e a sua liderança? Já que uma boa parte do eleitorado acreditou nele e no seu partido? Será que ele vai lembrar-se que a campanha para 2014 começou no dia 29 de Outubro de 2009?
E a Frelimo? E Guebuza? Será que se vão lembrar que os mais de 20 milhões de pessoas em Moçambique são todos moçambicanos, com mesmos direitos e deveres? Independentemente de fazerem parte ou não da Frelimo?
É isso que vamos ver. Entretanto esperemos pelos resultados finais que ainda são uma surpresa. E depois? Esperemos pelos pronunciamentos e pelos comportamentos!

(Custódio Duma, em www.athiopia.blogspot.com)

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