Tuesday, 10 November 2009

Desafios de crescimento: Maputo aos 122 anos

MAPUTO, a capital da República de Moçambique, completa hoje 122 anos da sua elevação à categoria de cidade. Com cerca de 1,9 milhão de habitantes, Maputo assume-se como um cenário típico que se debate entre crescimento e desenvolvimento, onde ressalta uma convivência entre o velho e o novo que legitima o crescimento horizontal e vertical da urbe. Mais do que nunca, a natureza dos problemas que se colocam à “cidade das acácias” configura desafios que exigem cada vez maior engenho nas soluções da modernidade, ainda com aspectos latentes de ruralidade, no pensamento estratégico e dinamismo na execução dos projectos.
São várias as evidências de crescimento que se podem testemunhar na cidade de Maputo, algumas das quais reflexo do inconformismo e persistência com que a cidade se foi posicionando face aos problemas que caracterizaram as diversas etapas da sua história recente. Um dos exemplos de persistência é a sensível melhoria que se regista na gestão dos resíduos sólidos, apesar de continuarem a existir focos de más práticas nalgumas zonas da cidade.
Os investimentos realizados nos últimos anos na reabilitação e classificação de estradas tornaram a cidade de Maputo numa urbe menos hostil à circulação automóvel, para o que concorreu o estabelecimento de novas disposições de regulação do trânsito por forma a permitir uma melhor organização na utilização das poucas vias disponíveis numa cidade onde o parque automóvel cresceu significativamente nos últimos tempos.
O crime violento, que num passado recente chegou a fazer o “cartão de visitas” da cidade de Maputo, tende a reduzir e, apesar de continuar a haver focos de criminalidade, sobretudo a nível dos bairros periféricos, pode se considerar que a Polícia e as comunidades conseguiram algum ascendente em relação aos grupos malfeitores.
Entretanto, mantém-se um défice considerável no que concerne à manutenção do parque imobiliário da cidade, gerando-se uma situação em que a maioria dos edifícios, quer públicos, quer privados, apresenta evidências de má conservação, a reclamar intervenções de base para garantir a sua longevidade e outros até obras mínimas para melhorar a sua apresentação e estética da cidade.
Entretanto, é notório o esforço de renovação que a cidade vem empreendendo nos últimos tempos, com os números recentes a apontar para mais de mil e seiscentas obras licenciadas e actualmente em execução, com destaque para hotéis, pensões, espaços de lazer e edifícios para o funcionamento de serviços e instituições públicas.
Esta dinâmica vem sendo acompanhada pela tendência de expansão da cidade para novas áreas do território municipal, onde se erguem milhares de obras de alvenaria pertencentes a cidadãos que, a pouco e pouco, vão trocando a agitação do centro da cidade pelo sossego dos bairros periféricos. Pelo ritmo, o centro da cidade poderá, a médio ou longo prazo, perder a hegemonia como área residencial, a favor da prestação de serviços que está a ser potenciada com a construção de novos edifícios para serviços tanto públicos como privados.
A fragilidade que sempre marcou a prestação do serviço de transportes na cidade de Maputo estimulou o crescimento do parque automóvel nos últimos anos, com cada vez mais cidadãos a adquirirem viatura própria para facilitar a sua movimentação e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida. Este esforço dos cidadãos denuncia agora uma grave fraqueza no que diz respeito à disponibilidade de vias para escoar o crescente tráfego, do que tem resultado congestionamentos sistemáticos, sobretudo nas horas de ponta, e colocando um desafio às autoridades no sentido de encontrar, em tempo útil, respostas para as novas exigências impostas por esse cenário de desenvolvimento humano.
A recente abertura da rua Dona Alice, que liga o centro da cidade e vários bairros a norte da urbe, faz parte dos esforços que se impõem para a solução do problema do congestionamento do trânsito, exercício que poderá sair reforçado com a conclusão da segunda faixa de rodagem da avenida Joaquim Chissano.
Será necessário corresponder à saída em massa de cidadãos do centro da cidade para a periferia, assumindo que será cada vez maior a procura de estradas para o rápido escoamento do tráfego envolvendo os cidadãos que vão continuar a precisar chegar ao centro da cidade em busca de serviços só oferecidos nesta zona da “cidade das acácias”.
Dados da sua história revelam que Maputo foi elevada à categoria de vila a 19 de Dezembro de 1876, tendo ganho o estatuto de cidade a partir de 10 de Novembro de 1887, como resultado do seu desempenho económico de então, numa altura em que os principais pólos eram o Transvaal e o porto de Durban, na África do Sul.

(J.Capela,Notícias,10/11/09)

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