Os moçambicanos mostraram uma grande capacidade organizativa e os louros disso vão para o Governo, pelo arrojo em assumir a organização destes jogos em dois anos, e sobretudo ao COJA, pela forma determinada como encarou (e encarnou) a tarefa, sem os recursos necessários, muitas vezes debaixo de enorme pressão e críticas, nem sempre justas, de nós os jornalistas.
Amanhã, cai o pano sobre os X Jogos Africanos, Maputo 2011, com uma certeza para muitos de nós: o COJA, Comité Organizador dos Jogos Africanos, superou todas as expectativas e passou com elevada distinção na organização de uma prova extremamente complexa, que envolveu muitas modalidades e atletas, e uma logística fora do comum de todos os eventos que já tínhamos acolhido no país. O país agradece porque conseguiu provar ao continente (e principalmente às desconfianças dos seus próprios cidadãos) de que esta terra também tem gente capaz.
É evidente que nem tudo foi um mar de rosas, há vários pormenores organizacionais a reter e a melhorar: desde logo a comunicação dos calendários dos jogos, o sistema de controlo das entradas nos pavilhões, sobretudo onde jogou a selecção feminina de basquetebol, as pouco dignificantes ameaças de greve dos motoristas dos chefes das missões dos países participantes, entre outros. Mas sobretudo (a falta d)o aproveitamento integral pelo país da rara e soberana oportunidade de promover o seu turismo, a sua cultura, perante cerca de 5 mil visitantes.
O ministério do Turismo e as suas instituições subordinadas andaram, literalmente, distraídos, durante estes últimos 15 dias, e deviam envergonhar-se por isso. Daqui por alguns meses, por alturas do balanço do ano, irão somar aos seus números de validade duvidosa estes 5 mil atletas, treinadores e pessoal de apoio dos países participantes nos Jogos Africanos, como turistas que vieram por mérito das suas estratégias de atrair pessoas para o país.
Os nossos promotores de eventos culturais também fizeram inaceitável vista grossa às oportunidades que os Jogos Africanos ofereciam, e da Aldeia Cultural apenas ficaram promessas vãs. Ao longo destas duas semanas, Maputo só teve um único grande espectáculo musical: o da Mingas, no Centro Cultural Franco-Moçambicano. Nada mais. Os outros artistas meteram férias, literalmente. Os milhares de visitantes que estiveram connosco, nestas últimas duas semanas, devem ter saído daqui com a errónea ideia de que somos um país e uma cidade sem cultura!
Na vertente desportiva propriamente dita, os resultados das nossas equipas confirmaram que as nossas projecções de sair destes jogos com 19 medalhas eram irrealistas e apenas para boi dormir. Estamos com oito medalhas (duas de prata e seis de bronze), e tudo indica que nem aos 50% da meta chegaremos. A única consolação mesmo é que a medalha da hospitalidade já não nos escapa!
Mais a sério: os resultados dos nossos atletas nestes jogos obrigam-nos a uma reflexão séria sobre o que fazemos e queremos do desporto. De uma coisa devemos estar certos: não podemos ir a todas as competições para ganhar experiência e temos que estar atentos ao que fazem os outros e ao que nós fazemos menos bem. A começar daqui na África Austral.
O Zimbabwe, por exemplo, com a situação económica crítica que vive, há alguns anos, continua muitos furos acima de nós no desporto e custa perceber isso. Mas também países pequenos como o Botswana, as Seychelles e as Maurícias agigantaram-se em relação a nós, num número significativo de modalidades. E ainda é necessário lembrar que muitos países não trouxeram os seus principais atletas, em muitas modalidades, mas nós, à excepção do futebol, entrámos com a nossa fina-flor.
Por isso, amanhã, assim que terminar a celebração da cerimónia de encerramento destes Jogos Africanos, temos que meter mãos a uma obra mais gigantesca que esta prova: repensar o nosso desporto, definirmos em que modalidades somos mais competitivos e deixarmos, em definitivo, de ir a todas. Com o Estádio Nacional, a piscina olímpica e os pavilhões da Académica, Maxaquene, Desportivo e da Munhuana no estado em que estão, qualquer outra justificação será um atestado à nossa incompetência.
Mas tudo isto não apaga o essencial do que sucedeu nestes últimos 15 dias: os moçambicanos mostraram uma grande capacidade organizativa e os louros disso vão para o Governo, pelo arrojo em assumir a organização destes jogos em dois anos, e sobretudo ao COJA, pela forma determinada como encarou (e encarnou) a tarefa, sem os recursos necessários, muitas vezes debaixo de enorme pressão e críticas, nem sempre justas, de nós os jornalistas.
Jeremias Langa, O País
É evidente que nem tudo foi um mar de rosas, há vários pormenores organizacionais a reter e a melhorar: desde logo a comunicação dos calendários dos jogos, o sistema de controlo das entradas nos pavilhões, sobretudo onde jogou a selecção feminina de basquetebol, as pouco dignificantes ameaças de greve dos motoristas dos chefes das missões dos países participantes, entre outros. Mas sobretudo (a falta d)o aproveitamento integral pelo país da rara e soberana oportunidade de promover o seu turismo, a sua cultura, perante cerca de 5 mil visitantes.
O ministério do Turismo e as suas instituições subordinadas andaram, literalmente, distraídos, durante estes últimos 15 dias, e deviam envergonhar-se por isso. Daqui por alguns meses, por alturas do balanço do ano, irão somar aos seus números de validade duvidosa estes 5 mil atletas, treinadores e pessoal de apoio dos países participantes nos Jogos Africanos, como turistas que vieram por mérito das suas estratégias de atrair pessoas para o país.
Os nossos promotores de eventos culturais também fizeram inaceitável vista grossa às oportunidades que os Jogos Africanos ofereciam, e da Aldeia Cultural apenas ficaram promessas vãs. Ao longo destas duas semanas, Maputo só teve um único grande espectáculo musical: o da Mingas, no Centro Cultural Franco-Moçambicano. Nada mais. Os outros artistas meteram férias, literalmente. Os milhares de visitantes que estiveram connosco, nestas últimas duas semanas, devem ter saído daqui com a errónea ideia de que somos um país e uma cidade sem cultura!
Na vertente desportiva propriamente dita, os resultados das nossas equipas confirmaram que as nossas projecções de sair destes jogos com 19 medalhas eram irrealistas e apenas para boi dormir. Estamos com oito medalhas (duas de prata e seis de bronze), e tudo indica que nem aos 50% da meta chegaremos. A única consolação mesmo é que a medalha da hospitalidade já não nos escapa!
Mais a sério: os resultados dos nossos atletas nestes jogos obrigam-nos a uma reflexão séria sobre o que fazemos e queremos do desporto. De uma coisa devemos estar certos: não podemos ir a todas as competições para ganhar experiência e temos que estar atentos ao que fazem os outros e ao que nós fazemos menos bem. A começar daqui na África Austral.
O Zimbabwe, por exemplo, com a situação económica crítica que vive, há alguns anos, continua muitos furos acima de nós no desporto e custa perceber isso. Mas também países pequenos como o Botswana, as Seychelles e as Maurícias agigantaram-se em relação a nós, num número significativo de modalidades. E ainda é necessário lembrar que muitos países não trouxeram os seus principais atletas, em muitas modalidades, mas nós, à excepção do futebol, entrámos com a nossa fina-flor.
Por isso, amanhã, assim que terminar a celebração da cerimónia de encerramento destes Jogos Africanos, temos que meter mãos a uma obra mais gigantesca que esta prova: repensar o nosso desporto, definirmos em que modalidades somos mais competitivos e deixarmos, em definitivo, de ir a todas. Com o Estádio Nacional, a piscina olímpica e os pavilhões da Académica, Maxaquene, Desportivo e da Munhuana no estado em que estão, qualquer outra justificação será um atestado à nossa incompetência.
Mas tudo isto não apaga o essencial do que sucedeu nestes últimos 15 dias: os moçambicanos mostraram uma grande capacidade organizativa e os louros disso vão para o Governo, pelo arrojo em assumir a organização destes jogos em dois anos, e sobretudo ao COJA, pela forma determinada como encarou (e encarnou) a tarefa, sem os recursos necessários, muitas vezes debaixo de enorme pressão e críticas, nem sempre justas, de nós os jornalistas.
Jeremias Langa, O País
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