Wednesday 21 September 2011

Crimes sem criminosos

Vão passando os dias, uns a seguir aos outros, as semanas e os meses e o povo moçambicano continua sem ser informado sobre quem são os reais donos das centenas de contentores, cheios de madeira de qualidade, para além de marfim e outras coisas proibidas, que foram apreendidos no porto de Nacala quando seguiam para a China, a 8 de Julho deste ano.
São citados nomes de empresas mas continua-se a escamotear a quem é que essas empresas pertencem efectivamente.
Numa primeira fase, o Savana chegou a indicar o nome de dois conhecidos generais como estando por trás deste escândalo de dimensões enormes. Ambos os generais vieram a público com desmentidos que este jornal publicou, a seu devido tempo.
Mas por aí nos ficamos. Os dois generais dizem que não são eles os donos da madeira mas as autoridades não divulgam quem é que os donos são. O que, das duas uma, só pode significar que também não sabem a resposta, o que demonstra enorme incompetência, ou que sabem perfeitamente quem os donos são mas os nomes dos tais são daqueles que se enrolam na língua, não permitindo que o som saia.
E vai-se deixando rolar o tempo até que a opinião pública se esqueça do que se passou, talvez porque outro escândalo surgiu, entretanto, e as madeiras de Nacala perderam actualidade. Nesse aspecto somos já peritos. Só em casos de tráfico de droga esta táctica já foi usada uma enorme quantidade de vezes.
A talhe de foice vem, já que falamos de drogas, a notícia publicada pelo Mediafax, há poucos dias, segundo a qual mais uma boliviana foi detida no aeroporto de Mavalane com o estômago cheio de cápsulas de cocaína. O mesmo jornal revela que, só este ano, foi a terceira captura do género.
Ora eu pergunto: O que aconteceu a essas bolivianas? Estão detidas? Vão ser levadas a julgamento? Foram devidamente interrogadas?
Porque essas mulheres eram correios. E os correios recebem determinada coisa de um alguém, com o encargo de entregar essa coisa a outro alguém.
A pergunta curiosa é, claro, a quem é que essas mulheres deveriam entregar a droga uma vez chegadas a Maputo. Tal como com as madeiras de Nacala, o que se quer saber é quem são os reais donos da matéria criminal.
Estamos cansados desta situação em que há crime mas não há criminosos. Ou, se há, os seus nomes ficam para sempre ocultos nas entrelinhas da papelada oficial porque ninguém se atreve a gastar tinta escrevendo-os nos autos.
Já por diversas vezes publiquei aqui listas destes crimes horrorosos e que ficaram, até hoje, impunes, em que até uma família inteira foi assassinada numa noite, aparentemente num acto de ajuste de contas.
Esperemos que, numa lista semelhante, não tenha que acrescentar, daqui a uns anos, o caso das madeiras de Nacala e o das bolivianas com os estômagos, e outras regiões anatómicas, cheios de cocaína.
Às autoridades envolvidas nestas coisas, um simples conselho: Tenham vergonha na cara!

Machado da Graça , Savana - 19.09.2011

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