Na semana passada advertimos para o facto de que tínhamos de ter medo do nosso medo e não da Frelimo. Dissemos que o congresso daquela formação política, de forma alguma, devia incomodar os cidadãos deste país. Não devia incomodar por razões, agora, claras, nítidas e cristalinamente óbvias. No casa da libertação dos moçambicanos, onde residem os primeiros no “sacrifício e últimos no benefício” a liberdade de opinião e de expressão morreram.
As poucas vozes que se opõem à ordem vigente provêm das antigas glórias desta formação partidária. Apenas Marcelino dos Santos, Jorge Rebelo, Graça Machel e Mulembwe conseguem dizer, sem pejo, o que pensam e – para não cairmos na injustiça das generalizações – mais alguns rostos anónimos de antigos combatentes.
Os novos rostos da Frelimo não falam, não questionam a liderança e nem propõe coisas fora da órbita do Grande Líder. Os jovens, por seu turno, não propõem nada. Permanecem quedos e mudos. Aliás, levantam a voz apenas quando se trata de exaltar a liderança sábia e clarividente do Grande Líder.
Não se comportam de tal forma porque mamam das tetas do Estado. Este comportamento servil da juventude moçambicana (OJM) não radica de um lugar na Grande Mesa. Este comportamento, quanto a nós, deriva do atrofiamento da capacidade de descortinar injustiças e lutar pela verdade e, também, de algum masoquismo.
Não se justifica que os jovens, reunidos no congresso, não tenham, em algum momento, erguido o punho contra a delapidação de recursos, contra o preço das casas e a falta de emprego. Não é normal que tenha de ser um veterano da luta de libertação nacional a abordar o problema dos jovens.
Não pode ser Rebelo a questionar a censura e coisas que tais. Quem precisa de espaço para opinar e propor soluções é o jovem. Ele é que precisa de desconstruir, para o bem do país, a Frelimo dos libertadores para pavimentar novos sentidos.
Essa, pelo menos, era a esperança de muitos moçambicanos. Queríamos ver os jovens da Frelimo a questionarem a liderança. Mas isso não aconteceu. Reconduziram Guebuza para mais cinco anos. Não deixaram espaço para os jovens. Aliás, os jovens afirmaram que não precisam de espaço. O que é uma tremenda mentira.
Querem espaço, mas são cobardes. Não conseguem enfrentar pessoas com ideias consolidadas ainda que não acreditem nelas. Detestam os megaprojectos, mas não são capazes de exigir a renegociação dos contratos.
Não são capazes de perguntar ao chefe do Estado de onde veio a riqueza da sua prole. Sofrem calados e murmuram nos cantos. Cobardes. Vão morrer sem terem gozado a juventude e vão deixar de ser jovens para passaram pelo mundo sem terem sido homens.
Editorial, A Verdade
Editorial, A Verdade
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