@Verdade saiu à rua e constatou uma verdade atroz: o transporte público no país é uma vergonha. Porém, mais vergonhoso é o nosso cruzar de braços. É a forma como aceitamos ser espezinhados. Isso é que causa estranheza e, também, justifica o estado do país.
Ninguém questiona, protesta ou vocifera contra a instalação desta condição sub-humana. O estranho é que, como bons moçambicanos que somos, estamos historicamente habituados a ser do contra, mas apenas quando o assunto gira em torno do futebol.
Lutamos contra o seleccionador nacional, contra o Dário Monteiro, contra Faizal Sidat, contra a Liga Muçulmana ou contra a corrupção na arbitragem, mas nunca questionamos as coisas que vêm mexer com os nossos “brandos costumes”. Só nos indignamos quando o assunto é futebol, mas esquecemos o custo de vida, o salário indigno, o mau atendimento no hospital, a falta de medicamentos, sementes e derivados.
Este carácter de guerrilha que se apodera da população geral atinge o acessório e passa, regra geral, ao lado do mais importante. Somos, neste sentido, demasiado bairristas, demasiado agarrados ao efémero. Se por um lado isso é uma demonstração da ausência de instrução popular, da falta de união, por outro condena o moçambicano à escravidão. O que é triste.
Destituídos de razão, achamos que somos desvalorizados pelo problema do transporte. Murmuramos, resmungamos, mas isso apenas dentro das comportas da nossa cobardia. Não somos capazes de impedir o encurtamento de rotas.
Não somos capazes de cobrar transporte digno. Não somos capazes de desobedecer. Não somos capazes de, tal como a Comunidade Mu- çulmana, falar de orientação de voto. Andamos preocupados com a nossa vidinha.
Admitimos que haja falta de vontade do Governo nessa injustiça de que somos vítimas, mas há, da nossa parte, um exagero tremendo em considerar que as coisas vão mudar sem movermos uma palha.
Como povo, temos tendência para achar que muitos dos nossos insucessos se explicam pelo muito que os governantes roubam. Não dizemos que não seja assim, mas há que pensar bem nas coisas e nem tudo tem a mesma explicação.
Portanto, antes de apontarmos o dedo aos corruptos de turno temos de nos lembrar das nossas escolhas. Nós é que legitimamos certos comportamentos. Nós é que permitimos certas maiorias.
O que devíamos fazer é assumir a nossa culpa e esperar pelo momento certo para reivindicar melhores condições. Quem nos colocou nesta situação não pode merecer o nosso respeito e muito menos a nossa confiança. Nunca é tarde...
Editorial, A Verdade
Editorial, A Verdade
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