Wednesday, 2 September 2015

VÃO ORAR HOJE NA PRAÇA DA PAZ EM MAPUTO: Mães exigem solução imediata do clima de instabilidade no país




























O MOVIMENTO cívico “Mães, esposas e filhas pela reconciliação nacional, paz plena e duradoira” realiza hoje, na Praça da Paz, em Maputo, uma jornada de oração na qual pretende exigir uma solução imediata do clima de instabilidade que se vive no país.
Trata-se de um movimento cívico constituído por mulheres moçambicanas preocupadas com o ambiente de falta de paz e ausência de consenso entre o Governo e a Renamo. As mães, que se juntaram e formaram o movimento, mostram-se preocupadas com o facto de, por razões políticas, vidas humanas estarem a ser destroçadas e relembram os horrores da guerra dos 16 anos, que se saldou em milhares de mortes, destruição de infra-estruturas escolares e de saúde e apelam ao bom senso de todos os que detêm o poder das armas e recomendam a escolha de palavras que induzam e conduzam à reconciliação e entendimento.
O movimento foi constituído num encontro realizado no dia 11 de Julho último, que juntou mais de 180 mulheres, como forma de manifestação e engajamento nos esforços para o amainamento dos ânimos e a escolha do diálogo aberto, constante e permanente como forma de resolução de diferendos. O Bispo Emérito da Igreja Anglicana em Moçambique e um dos mediadores do diálogo entre o Governo e a Renamo, em curso no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, é o patrono da iniciativa.
Na ocasião, as 180 mães, esposas, irmãs e filhas de moçambicanas e de moçambicanos produziram uma declaração na qual consideram que não existe causa alguma e coisa nenhuma que justifique a perda de vidas humanas, por elas geradas, e disseram basta ao clima de instabilidade que se vive no país.
“Não queremos enterrar os nossos filhos e as nossas filhas. Não nos queremos tornar mães dos nossos netos. Não permitimos que em nosso nome coisifiquem a vida das nossas filhas e dos nossos filhos e os tornem números anónimos de mortes, baixas, feridos, traumatizados. Cada um e cada uma dos que morre em consequência desta falta de paz deixa uma mãe dilacerada, um cônjuge sem companheiro, uma criança sem pais e sem futuro. Basta!”, expressam na declaração final.

DESENTENDIMENTO QUE NUNCA ACABA


O movimento cívico “Mães, esposas e filhas pela reconciliação nacional, paz plena e duradoira” questiona o desentendimento que nunca acaba entre o Governo e a Renamo. Para esta organização, o país é uma única e grande família, sendo todos filhos e filhas de uma mesma mãe que gerou cerca de 24 milhões de vidas. Todos, sem excepção ou exclusão, pertencem a uma única e grande família.
“Como em todas as famílias, temos formas de ser, estar e pensar diferentes. Quando as diferenças entre os nossos filhos parecem ser irreconciliáveis, nós, mães, sentamo-nos e dialogamos juntos, oramos para que o espírito e a vontade de ouvir com toda a mente e vontade genuína esteja entre eles, apelamos aos nossos filhos que expressem as suas percepções com verdade, franqueza, honestidade e, acima de tudo, humildade e que a primeira verdade de entre todas seja o reconhecimento mútuo e de todos do erro, da ofensa, da desinteligência que precipitou os ânimos. Rogamos que ao falarem uns com os outros se lembrem que são primeiro, e acima de tudo, irmãos, gerados por nós, e, por isso, se tratem com amenidade e ao falar escolham palavras que induzam e conduzam à reconciliação e entendimento”, afirma a declaração.
As mães, esposas e filhas de Moçambique exigem que o país trilhe pelo diálogo permanente, com verdade, honestidade, franqueza, humildade e temperança, que começa com o reconhecimento de todos os erros e faltas cometidas pelas partes dialogantes, para que se produza o fruto da reconciliação e paz plena e duradoira na família moçambicana.


VOZ QUE DEVE SER OUVIDA


AS mães, esposas e filhas reunidas no movimento pela reconciliação nacional, paz plena e duradoira afirmam que a nossa cultura e os nossos princípios como moçambicanos ditam que quando os seus filhos não chegam a entendimento, procuram-nas porque respeitam e valorizam o seu papel de geradoras de vidas, para os ajudar a fazer a ponte que faz ultrapassar o que os divide.
“Nós, mães de Moçambique, temos o dever e o direito de assumir a nossa quota-parte da responsabilidade de semear a reconciliação e paz plena e duradoira em Moçambique e na sociedade moçambicana. Assim, exigimos que a nossa face esteja presente e a nossa voz seja ouvida em todos os esforços de construção da paz no nosso país”, sublinham na declaração.
Lembram que, como mães, ao gerarem filhos fazem-no desejando que as suas vidas sejam sempre melhor do que as suas. Assim, apelam para que o futuro seja construído a partir das suas vitórias. Expressam o desejo de que o legado e herança que deixam às filhas e filhos de Moçambique seja a paz plena e duradoira.
Sublinham que têm memória de um passado que se faz sentir ainda no presente, reflectido nas centenas de escolas destruídas e, por isso, as centenas de crianças com o futuro coarctado por falta de uma educação de qualidade, milhares de filhas e filhos que morrem por falta de assistência devido aos hospitais destruídos, a sociedade cada vez mais violenta, sem respeito pela vida e dignidade do próximo.
“Não queremos voltar a ser ensombrados e nem reviver estes momentos que foram dos mais difíceis da vida de todos os moçambicanos e moçambicanas. Todos e cada um de nós, filhas e filhos de Moçambique, temos a obrigação e o direito de ser semeadores da paz. Devemos cultivar o espírito de reconciliação, iniciando na nossa casa, no nosso bairro, local de trabalho e no local de oração. Os nossos actos, as nossas palavras, a nossa atitude, o nosso comportamento, uns com os outros, devem emanar o perfume da reconciliação e da paz plena. Para isso, devemos ser todos incluídos nos esforços de construção da paz. Exigimos que o diálogo seja inclusivo e assente na diversidade. Ouvir mulheres e homens de todo o país, independentemente da região, religião, cor, raça, etnia, da língua falada, do partido político e dos seus ideais”, declaram.
Pretende-se que o movimento “Mães, esposas e filhas pela reconciliação nacional e paz plena e duradoira” se multiplique pelo país, numa verdadeira iniciativa permanente de reflexão, acção e manutenção da paz como bem comum, segundo deu ontem a conhecer em conferência de imprensa Eduarda Cipriano, integrante do movimento.


FÉ NA ESTABILIDADE DO PAÍS














Eduarda Cipriano disse ter fé nos resultados positivos do diálogo em curso entre o Governo e a Renamo para a estabilidade do país. Segundo afirmou, as brigas que acontecem nas famílias envolvendo irmãos do mesmo sangue são sempre dirimidas, com sucesso, pela mãe.
“Acima das diferenças, vem o laço de irmandade. Nós temos fé e temos de ter consciência de que somos todos filhos da mesma mãe, que é Moçambique. Mas se não acreditamos nisto, temos de acreditar noutro lado da irmandade. Somos irmãos em Cristo, Deus fez-nos irmãos. Quando estamos a discutir, devemos, primeiro, identificar o que nos une. As coisas que nos dividem são pequenas, muito menores do que aquilo que nos une. Acreditamos que se genuinamente nós formos à conversa e ouvirmos atentamente o outro primeiro, no lugar de colocarmos e fincarmos pé naquilo que são os nossos sentimentos e pontos de vista, podemos ultrapassar as nossas diferenças”, disse.
Afirmou que o diálogo no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano deve ser franco e aberto, cada parte tem de procurar ouvir e compreender a outra, caso contrário será um “diálogo entre surdos”. Eduarda Cipriano disse mesmo que as delegações do Governo e da Renamo no diálogo precisam de observar uma pausa para “respirar fundo e orar a Deus”.
“Acreditamos que isso aconteceu na segunda-feira. Uns não foram porque estavam a orar, a pedir a Deus bênção para um diálogo construtivo. Aqueles que foram também estavam à espera dos outros em oração. Não foi a primeira segunda-feira em que não se encontraram. Mas esta segunda-feira, porque nós, as mães, estamos a orar, sabemos que uns não foram (ao diálogo) porque estavam a orar”, disse, clarificando que as mães, esposas e filhas do movimento não estão a reclamar espaço ou inclusão no diálogo político, mas somente apelar para que membros das duas delegações falem nas suas famílias, pedindo conselhos às mães.


NÃO DEITAR ABAIXO O ESFORÇO INVESTIDO












Para Eulália Lucas Bembele, uma mãe que igualmente integra o movimento, todo o esforço deve ser feito no sentido de não se deitar abaixo todo o investimento feito até agora, passados mais de 20 anos do Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, em todos os domínios, incluindo na preservação da própria paz.
Segundo afirmou, a tensão político-militar que se vive serve apenas os interesses pessoais e não do povo moçambicano, no geral.
“Perguntamos: essa guerra é para quê? A quem serve? Querem lutar com quem? Os nossos filhos são recolhidos para receberem ensinamentos sobre como matar, como roubar. Onde está o amor pela vida? Porque não os ensinam a construir hospitais, agricultura, construir escolas? Alguém diz que vai construir um quartel-general, mas nós perguntamos: porque é que não constrói uma faculdade, para formar aquelas crianças? Dizemos em voz alta: não à guerra! Não queremos os nossos filhos a sofrer, não queremos ver o derramamento de sangue em Moçambique”, suplicou.



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