O partido Renamo anunciou o início do funcionamento, nesta terça-feira (02), de um quartel no distrito de Morrumbala, na província da Zambézia, onde pretende formar a sua polícia e mais guerrilheiros para o seu exército que irá defender, em caso de necessidade, a soberania das cinco províncias onde pretende governar. Esta posição de força acontece nas vésperas da passagem do primeiro ano, no próximo sábado (05), da assinatura do acordo de Cessação das Hostilidades Militares pelo então Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, e o presidente do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama.
O acto simbólico, que culminou com abraços e apertos de mãos de Guebuza e Dhlakama, acabou por não trazer a paz ansiada pelos moçambicanos. Se, por um lado os confrontos militares, que duraram mais de um ano e meio, terminaram o outro grande objectivo do acordo não chegou a ser materializado, não se iniciou até hoje o processo de desmilitarização, imobilização e reintegração das forças residuais do partido Renamo, seja na vida civil em actividades económicas e sociais, seja nas Forças Armadas de Moçambique e na Polícia da República de Moçambique.
Entretanto, Filipe Nyusi substituiu Guebuza na Presidência de Moçambique, após as eleições gerais de Outubro de 2014, que o partido Renamo nunca reconheceu, devido às várias irregularidades que aconteceram durante o pleito.
Depois de recuar da proposta de um “governo de gestão”, para ultrapassar a crise eleitoral, o maior partido na oposição em Moçambique avançou com a solução de gerir de forma autónoma as províncias de Sofala, Manica, Tete, Nampula, e Zambézia, onde conquistou a maioria dos votos nas últimas eleições gerais.
A proposta de autarquias provinciais foi chumbada no Parlamento, pelos deputados do partido Frelimo, depois de o Presidente Nyusi se ter reunido duas vezes com Afonso Dhlakama em Fevereiro de 2015, na capital do país.
Também em Maputo o apelidado “diálogo político”, entre o Governo e o partido Renamo, continua a arrastar-se, foram 114 rondas durante mais de dois anos, e não há forma de haver entendimento sobre os assuntos económicos e a desmilitarização das forças residuais do partido de Afonso Dhlakama. Alguns confrontos militares voltaram a registar-se agora na província de Tete.
Quartel para formar polícia e mais guerrilheiros
Na semana passada, e paralelamente a um novo convite do Chefe de Estado para um encontro a dois, Dhlakama anunciou em comício popular na Zambézia o fim do “diálogo político”, por falta de seriedade do Governo do partido Frelimo, e o início da governação nas cinco províncias onde obteve maior número de votos.
“A decisão de montagem do quartel de Morrumbala não é do presidente Dhlakama mas dos próprios veteranos da luta pela democracia”, enfatizou em conferência de imprensa o porta-voz do principal partido da oposição em Moçambique, António Muchanga, nesta quarta-feira (03), que não quis revelar quantos guerrilheiros estão no local, se existem armas e que infra-estruturas há; porém, acrescentou que Afonso Dhlakama, que visitou o quartel na tarde de terça-feira, teve de concordar com a decisão “como forma de evitar que houvesse cisão no seio do partido, o que seria muito perigoso para a democracia que pretendemos consolidar, tendo em conta que qualquer combatente poderia tomar a decisão pessoal de pegar em armas sem um comando seguro”.
Segundo o porta-voz, este quartel “(...) é um local onde os combatentes da democracia se vão juntar, vão poder planificar como é que será feita a formação da polícia da Renamo que vai defender o governo da Renamo nas províncias conquistadas (Sofala, Manica, Tete, Nampula, e Zambézia) pela Renamo. Tem que se formar um exército que deverá defender a soberania dessas zonas, se as negociações falharem”.
Questionado sobre quando será retomado o “diálogo político” Muchanga afirmou que “tudo depende do Governo. Se o Governo começar a cumprir com as exigências detalhadas na carta enviada ao Governo no dia 25 (de Agosto) a Renamo está disponível a voltar à mesa de negociações”.
Na missiva, o partido Renamo recusa o convite (re)formulado pelo Presidente de Moçambique, para se encontrar com Dhlakama, pois considera que o Governo não tem cumprido o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares por haver extinto unilateralmente a Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares e ter atacado as suas forças militares que deveriam ser reintegradas.
O maior partido da oposição acusa também o Executivo de Nyusi de se recusar a reintegrar os seus homens, pois “manifestou e continua com vontade de arrancar as armas da Renamo não interessando o futuro daqueles homens”, pode-se ler ainda na carta que o Governo “usa o aliciamento para que os homens da Renamo abandonem os termos acordados nas negociações e se apresentem no Comando Geral da Polícia e no Estado Maior General das Forças de Defesa de Moçambique como voluntários da Frelimo, para daí serem recebidos como heróis, onde são consequentemente promovidos e patenteados”.
“Quanto ao segundo ponto da Agenda, avaliação do decurso do diálogo político entre o Governo e o partido Renamo, achamos que o momento é extemporâneo tendo em conta que houve tempo suficiente e não houve boa vontade pela parte do Governo de resolver de boa maneira os assuntos importantes que afectam a democracia e a paz em Moçambique”, refere também a carta enviada em resposta ao convite do Chefe de Estado que cita como exemplo da falta de vontade o facto de já se haver alcançado um entendimento sobre a despartidarização do Estado, uma das questões económicas em negociação, mas o Executivo recusa-se a homologá-la através do Parlamento.
De acordo com o porta-voz do partido Renamo, “(...)Se o Governo continuar com manobras dilatórias cada qual vai ocupar o seu espaço”.
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