Wednesday 30 September 2015

Polícia não consegue explicar contornos nebulosos do “caso Zimpinga”

 

Homens armados desconhecidos que confrontaram comitiva de Dhlakama

O Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique, depois de ter tentado ensaiar uma fuga com o rabo à seringa na manhã desta terça-feira, decidiu ganhar coragem e falou por volta das 14 horas com os jornalistas.
Na verdade, o briefing semanal deveria ter acontecido as 10 horas no local habitual, mas, sem qualquer explicação, os jornalistas tiveram que abandonar o local habitual depois de uma hora de espera após o horário combinado.
O medo das autoridades era de enfrentar os jornalistas que estavam ávidos em buscar melhor informação em torno do “caso Zimpinga”, em que, segundo se sabe, a caravana do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, foi atacada.
De acordo com a Polícia, no local, um total de 21 pessoas perderam a vida, das quais 19 elementos da segurança do presidente da Renamo e dois civis.
Voltando ao briefing de ontem, sem qualquer explicação, a Polícia informou quando eram cerca da hora 13, que o encontro com o porta-voz do Comado-Geral da Polícia, Inácio Dina, teria lugar as 14 horas.
Foram tantas as perguntas feitas pelos jornalistas em torno dos acontecimentos da manhã da última sexta-feira, na zona de Zimpinga, distrito de Gondola, província de Manica. Demonstrando falta de argumentos para sustentar a abordagem que fazia em torno do caso, Inácio Dina limitava-se a repetir a mesma estória que tem estado a ser contada pela Polícia desde o primeiro momento dos acontecimentos.
Uma das questões colocadas é tentar- se perceber o móbil para o início do tiroteio. Continuando com a tese de que terão sido os homens da guarda de Afonso Dhlakama que, pura e simplesmente decidiram tirar a vida ao motorista do transporte semi-colectivo de passageiros, a Polícia diz que foi alertada e correu para garantir condições de segurança à população.
Esta resposta obrigou os jornalistas a perguntarem quanto tempo a Polícia teria levado para alcançar a zona da confrontação, ao que Inácio Dina respondeu estimando entre 30 a 60 minutos.
Mas porque as testemunhas da zona e os passageiros do mini-bus atingido, falando horas depois com jornalistas, disseram que o tiroteio iniciou logo depois de o motorista do “chapa” ter sido alvejado mortalmente, pediu-se algum esclarecimento ao porta-voz policial.
Nisto, Inácio Dina respondeu positivamente, mas disse que os tiroteios iniciais foram todos disparados descontroladamente pela caravana da Renamo.
“Temos estado a dizer desde à primeira hora que confirmamos o incidente, que o mesmo partiu dos homens da caravana da Renamo. Um homem da Renamo que estava a meio da caravana disparou contra o transporte semicolectivo e foi neste instante que outros homens da Renamo começaram a disparar de forma descontrolada”- tentou explicar Dina.
Com os jornalistas a soltarem gargalhadas a meio, tendo em conta o tipo de respostas (algo ilógicas) de Inácio Dina, a conferência de imprensa continuou com mais perguntas sobre o sucedido. Uma das questões colocadas é sobre quem eram exactamente os homens vestidos a civil, mas armados com metralhadoras, coletes à prova de balas e carregadores. Dina respondeu simplesmente que não conhecia este grupo. Ou seja, que as testemunhas entrevistadas pelos jornalistas inventaram terem se cruzado com homens armados pela mata adentro.
Inácio Dina não disse também de onde partiu a Polícia que conseguiu alcançar a zona da confrontação em meia hora, mas segundo suas palavras, foi essa Polícia, devidamente uniformizada e armada, que conseguiu matar 19 elementos da guarda de Afonso Dhlakama.
Sobre as viaturas incendiadas, Inácio Dina continuou com a “estória” de que as mesmas foram incendiadas pela população supostamente furiosa pelo facto de os homens da Renamo terem assassinado o motorista do transporte semi-colectivo de passageiros.
Questionado se os carros teriam sido queimados antes ou com a polícia no local, Inácio Dina não disse sim nem não. Apenas disse que a população regressou ao local dos tiroteios quando a situação ficou normalizada, sem contudo dizer a hora exacta.
Entretanto, os jornalistas que chegaram ao local da ocorrência horas depois da confrontação não presenciaram a presença de qualquer população da zona no local dos tiroteios. A população tinha há muito se refugiado para zonas seguras. (Ed. Conzo)

MEDIA FAX – 30.09.2015, citado no Moçambique para todos

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