O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou hoje em Maputo que Moçambique está em ascensão mas que os desafios são imensos, a começar na inclusão da população numa economia em rápido crescimento.
"Moçambique está em ascensão, mas a população não se sente a ascender", declarou hoje Alex Segura-Ubiergo, representante residente do FMI em Maputo, na apresentação de um livro sobre os desafios e a sustentabilidade do crescimento do país.
A obra "Moçambique em Ascensão - Construir um Novo Dia" foi hoje lançada pelo FMI, numa sequência da conferência África em Ascensão, que organizou em Maputo no final de maio passado, com a presença da diretora-geral da instituição, Christine Lagarde.
À semelhança da maioria do continente, Moçambique regista taxas de crescimento do PIB elevadas - acima dos 7% nas últimas décadas -, mas pouco inclusivas para a população, cuja maioria (80%) está colocada num setor agrícola de baixa produtividade e sem acesso a crédito bancário.
Apesar da existência de 500 agências bancárias, mais 300 do que há dez anos, "75% da população não tem acesso a qualquer crédito, incluindo informal, e menos de 10% não está sequer bancarizada", observou Alex Segura-Ubiergo, alertando ainda para taxas de juro "muito elevadas" e para a necessidade de maior concorrência interbancária.
O representante do FMI em Maputo referiu o caso de Angola, que tem o pior índice de inclusão financeira entre os países africanos analisados, apesar da riqueza dos seus recursos.
Moçambique, sugeriu, precisa melhorar a sua produtividade agrícola, o ambiente de negócios e a qualificação da sua força de trabalho, mais micro, pequenas e médias empresas, além de proteção social, mencionando o programa brasileiro de transferência de rendimento Bolsa Família.
Os megaprojetos das grandes reservas de gás natural na bacia do Rovuma permitem antever um peso de cerca de 8% no crescimento económico do país no final da década, mas "um impacto limitado em termos de emprego", observou Alex Segura-Ubiergo.
O investimento inicial dos operadores na Bacia do Rovuma é de 40 mil milhões de dólares, três vezes o atual PIB de Moçambique, lembrou o representante do FMI, prevendo que até metade das futuras receitas fiscais do Estado moçambicano tenham origem no setor petrolífero, mas advertindo também para o risco de o país não conseguir absorver uma utilização muito rápida desse dinheiro.
Os desafios com o gás natural prosseguem na diversificação e criação de emprego, de acordo com Segura-Ubiergo, referindo novamente o caso de Angola e também da Nigéria, cujas economias se mantêm dependentes dos recursos naturais e mais vulneráveis à volatilidade dos preços das matérias-primas.
O representante do FMI recomenda um "compromisso forte de transparência" no setor do gás moçambicano, através da divulgação dos contratos e dos valores das receitas fiscais, salientando que "é muito difícil encontrar países com uma gestão transparente dos recursos naturais".
Por fim, o país tem "uma necessidade enorme de investimento em infraestruturas em todos os setores". Observando que o investimento público é elevado em percentagem, o FMI destaca que é ao mesmo baixo em termos absolutos e "gerido de forma pouco eficaz".
Num estudo dedicado às infraestruturas, Moçambique tem um dos maiores investimentos em percentagem entre os países da região, mas um dos piores índices em termos de eficiência de gestão, apontou Alex Segura-Ubiergo.
Lusa/RTP
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