Tuesday, 9 December 2014


 Caçam, pescam, dissecam, mas raramente acertam.

 Com escassez estonteante de análises dignas desse nome e com resultados eleitorais rebuscados e paridos por cesariana, com o futuro próximo declaradamente incerto, muita é a apetência para a adivinhação.
 De certas latitudes, surgem sugestões para que, no sentido de se ver a democracia consubstanciada na Renamo, o seu líder deveria dar o lugar a outras pessoas.
 Como se o problema das repetidas fraudes e manipulações eleitorais em Moçambique fosse lavra ou machamba da Renamo e do seu líder.
 A tentativa de obliterar a Renamo consta nos anais da história recente do país.
 Corroer a Renamo ou criar condições para a sua implosão foi tentado e executado.
 A tese de que Dhlakama se encontra há três décadas na liderança da Renamo é apontada por alguns como manifestação de democracia no seio daquele partido.
 Corroer e desestruturar o MDM foi concebido e executado com prontidão e algum sucesso por via de uma ofensiva mediática que tinha como base de partida questões de foro interno como listas de candidatos à AR, prerrogativas do secretário-geral, a suposta hegemonia familiar do líder. De maneira articulada, mas dispersa, “pivots” agiram e os resultados surgiram.
 Outra via seguida para se manter o “status” foi a da criação de partidos relâmpagos sempre que se aproxima eleições. Partidos muitas vezes com símbolos parecidos ou idênticos aos de outros que fazem a diferença e que se mostram uma oposição realmente forte e com pernas para andar.
 Na linha da frente de toda a orquestração, ensaio e execução de tarefas na frente da corrosão da oposição, conta-se com préstimos de académicos, intelectuais, comunicadores sociais que, controlados pelos serviços de inteligência afectos ao partido no poder, se multiplicam na produção de mensagens que coloquem a oposição como suspeita de objectivos que não são de interesse nacional.
 Até se chega a extremos de publicitar, por exemplo, que uma vitória da oposição, Renamo, MDM, seria colocar o país na dependência dos ex-colonizadores. Repetem que haveria manifestações de vingança e que se entraria num período de caça às bruxas ou fantasmas.
 Há muito que se tornou evidente que intelectuais esfomeados são perigosos para a democracia.
 Há muito que se sabe que em Moçambique reina a impunidade e que o sistema judicial não tem garras nem dentes para se impor e cumprir com o seu papel.
 Há muito que se diz que os cargos de direcção são de confiança política.
 Há muito que se contrabandeia com a verdade e que se impõe a todo um povo aquilo que este não escolheu como seu governante ou representante.
 Quando os mancomunados triunfam não significa que a democracia triunfou, mas sim o contrário.
 As tentativas de aproximação e aterragem de figuras sinistras do passado e os préstimos repentinos de gente com culpas no cartório, utilizando o argumento de análise objectiva de uma realidade por demais conhecida, procurando fazer-se indispensável ao candidato declarado vencer das eleições presidenciais, personifica uma preocupação visível por parte destes franco-atiradores.
 Sentem que o terreno está movediço e que qualquer passo em falso pode ser fatal. Outros aparecem até elogiando posturas de Dhlakama, vítima da sua diabolização ontem.
 Convenhamos que é uma altura em que os “ratos sentem que o barco está meter água e que o seu naufrágio é iminente”.
É estranho e preocupante o facto de um número considerável de intelectuais e académicos bem como comunicadores sociais não se importar em investir na moralização política do país.
 Preocupante, suspeito, estranho e perigoso é que no país se esteja semeando a burla e a fraude como cultura perene, e a sociedade civil, na posse de elementos comprovativos disso, prefira manifestações cosméticas como forma de reclamação.
 Compreende-se de que de certos quadrantes não surjam sinais de preocupação com o rumo dos acontecimentos, pois isso está de acordo com a sua lógica de garantir a todo o custo uma sobrevivência colorida com mordomias e cargos.
 Estar na lista dos elegíveis para a próxima safra ou momento de distribuição de cargos está na mente de muitos.
 Enquanto de organizam pleitos eleitorais para conferir legitimidade a quem governa, outros estão maquinando no sentido de se manterem no poder.
 É um “braço-de-ferro” indecoroso, desnecessário ou, pelo menos, revelador de ausência de lucidez, hombridade e do apregoado sentido de Estado.
 Mercantilismo político, mercenários à vista, cooperação mais profunda com países aliados e outros prontos a ganhar posições na esfera geoestratégica de Moçambique podem ser condimentos para o colapso da actual paz frágil, já cheirando a ovo podre.
 Existirá alguma saída consensual e airosa que mantenha o “machado de guerra enterrado”?
Entre discursos e disparos, cabe aos ex-beligerantes escolher, mas é aos moçambicanos que não interessam mais balas perdidas ou dirigidas contra quem quer que seja.
 O povo moçambicano, neste momento grave de sua história, dispensa os que se engajam e dedicam a jogos de palavras e passam o tempo exigindo provas.
 Estes arautos estão promovendo situações de conflito que ceifarão vidas de inocentes.
 Vaticinar cenários de hostilidade aberta e renovada é o que uma pequena dose de realismo leva a concluir.
 Dizer “não” a mais “carne para canhão” é obrigação moral e patriótica de todos.

( Noé Nhantumbo, Canalmoz )

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