Tuesday 27 May 2014

“Políticas” dúplices dificultam diálogo Governo-Renamo

ENTENDIMENTO DE HABILITADOS MEIOS POLÍTICOS INTERNACIONAIS

XAVIER DE FIGUEIREDO


Meios políticos internacionais atentos à evolução do diálogo entre o Governo e a Renamo consideram que adquiriram consistência análises segundo as quais a principal “razão de ser” das dificuldades em encontrar uma solução para a crise reside na “duplicidadede políticas e atitudes que ambas as partes cultivam.
Governo: − O actual status-quo, na sua exploração política, compromete a Renamo e fragiliza Afonso Dhlakama; reduz a respectiva ameaça eleitoral e presta-se a servir de argumento a um adiamento das eleições; o diálogo e os seus impasses permitem-lhe promover uma aparência de boa vontade e apaziguamento.
Renamo: − Tem vontade de manter a ala militar confinada no Centro do território, embora promova ideia diversa; acredita que o Governo só cederá a exigências que considera “vitais” para o seu futuro como força política, sob pressão da ameaça militar que pode exercer através do emprego de uma estrutura militar sobrante – de que só está disposta a prescindir em condições que considera por atingir.
A ambivalência do Governo tem sido especialmente notada numa sistemática tendência para responsabilizar a Renamo por acções militares que na maior parte dos casos considerados verificados, tem lançado contra a mesma. Um episódio recentemente ocorrido na província da Zambézia, oficialmente atribuído à Renamo, foi cometido pela Força de Intervenção Rápida (FIR).
O esforço principal do Governo consiste em levar a comunidade internacional, especialmente os EUA e o chamado “Bloco Nórdico” da União Europeia, que participa de boa fé e com espírito de abertura no diálogo político com a Renamo, apesar daquilo que considera serem os excessos e ilegalidades presentes na acção da mesma. A aceitação pelos parceiros internacionais de Moçambique da bondade das ideias que o Governo promove acerca da actual crise e do papel da Renamo é limitada.
A solução “em extremo” posta em prática pelas autoridades para recensear Afonso Dhlakama também se deveu a pressões externas, baseadas em advertências de que uma marginalização eleitoral do mesmo e da Renamo seria “perigosa”. Nos seus contactos com personalidades internacionais e regionais, altos funcionários do Governo atribuem à Renamo exigências despropositadas, destinadas a “emperrar” o diálogo. O princípio da paridade em relação aos chefes e comandantes das FA é considerado demonstrativo; alegam que a Renamo não dispõe de um corpo de oficiais com preparação mínima.
2. De acordo com um ou­tlook desenhado pelos refe­ridos meios internacionais, a particularidade da “duplicida­de” presente nas políticas do Governo e da Renamo tenderá a esgotar-se com a aproxima­ção da data das eleições de 15 de Outubro já que será im­possível a sua realização nas actuais circunstâncias.
É atribuída ao Governo a expectativa de que até Junho a comunidade internacional possa ser persuadida de que a Renamo representa de fac­to um obstáculo à realiza­ção de eleições (não aceita desmantelar as suas forças/não pretende desmantelar as bases em que se acantonou), devendo, por isso, “agir em conformidade”.
São pouco verosímeis ru­mores que circulam em meios políticos de Maputo segundo os quais as eleições poderão ter lugar nas condições actuais – o que aparentemente serviria intenções da Renamo de con­tinuar a dispor do elemento de pressão armada, como forma de desencorajar eventuais tentativas de fraude eleitoral por parte do Governo.


CORREIO DA MANHÃ – 26.05.2014

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