Wednesday 7 May 2014

Com a unipolaridade falida e desfeita resta apanhar pedaços



 Solução de Moçambique é o seu empoderamento, empoderamento do seu povo, dos seus cidadãos.

Beira (Canalmoz) – Não se pode continuar vítima dos abutres internacionais, sejam eles chineses ou americanos. Não se pode continuar na posição de país periférico que caminha segundo a voz dos patrões. O tabuleiro internacional nunca foi tão favorável como agora em que não se manifesta nenhuma potência com músculo económico, financeiro e militar para ditar regras de cumprimento obrigatório.
Moçambique tem tudo para vingar e caminhar pelos seus próprios pés.
Não se pode ficar à espera da pressão dos poderosos para resolver assuntos domésticos perfeitamente solucionáveis.
Uma mensagem ou recado da embaixada dos EUA em Maputo não pode ser determinante para o concerto das nossas divergências. Também um crédito bonificado e fácil da China não pode determinar a política interna deste país. Não se pode desenhar estratégias de desenvolvimento com base em recursos condicionados e pertencentes aos outros.
Há que jogar com o que temos e nesse sentido estamos bem servidos.
O romantismo revolucionário de ontem foi enterrado após uma morte precoce.
Os seus defensores estão exauridos depois duma autêntica travessia do deserto.
Agora há que, com realismo, encarar e resolver duma vez por toda os empecilhos que teimam em separar as pessoas.
Se divididos somos fracos, se fracos somos susceptíveis de ceder a pressões várias e dos mais variados quadrantes internacionais, deveria estar claro que a nossa sobrevivência depende da nossa capacidade de entender e aceitar o nosso futuro comum.
Moçambique deveria ser capaz de aproveitar este momento histórico e abandonar políticas egocêntricas de base conflituosas e produtoras de crises político-militares.
Se as potências estão encurraladas numa crise de hegemónica de saída complexa, deixando-as descobertas e fracas, é este o momento para que países como Moçambique não se deixem apanhar como pedaços no contexto internacional. Há que escolher-se o pedaço que menos dano nos cause.
Sem a solução definitiva dos assuntos internos, continuaremos com guerras fratricidas debilitantes e desviando recursos escassos para aventuras militares ruinosas.
Quando os governantes e os seus opositores se mostram reticentes em seguir pela única via possível que é o estabelecimento da paz e da confiança, importa que a sociedade seja capaz de penalizar estes políticos.
Não se pode continuar a engolir a sopa indigesta de comunicadores sociais e analistas mercenários, declaradamente vivendo por estarem na folha de salários de quem paga mais.
A ginástica de manutenção do poder pelo PR é uma realidade que até os seus correligionários conhecem. O engenheiro ferroviário escolhido não tem força nem anímica nem política para governar, no caso de chegar a ser eleito. É entendimento comum que só uma manobra gigantesca alicerçada no potencial de controlo detido pela máquina partidária a que está afecto é que poderá dar uma vitória.
Isso é que emperra o diálogo e nada mais. Estudam-se cenários e equacionam-se saídas airosas numa situação que encontra a maioria dos moçambicanos esgotada, debilitada e esperançosa num novo renascer.
Os que se tinham apoderado da história nacional chegaram a um beco sem saída.
É cidadania contrariar a tendência nefasta de venda a retalho de todo um país.
Não se pode aceitar a política de “bazar internacional” em que gente de todo o mundo chega e vende as suas bugigangas. A incapacidade de delinear políticas endógenas de desenvolvimento deve ser punida nas eleições. E estas eleições não podem ser meros exercícios de depósito de voto, têm de ser um momento solene em que se escolhe a melhor alternativa para governar um país que está definitivamente à deriva. A soma aritmética dos palacetes da elite, as suas contas bancárias e viaturas de luxo não são sinónimos de desenvolvimento nacional.
A cooperação internacional concebida como jogo de angariação de vantagens, acções empresariais para uma elite política ligada ao poder tiram sentido a tudo o que se faça em seu nome. Assinar acordos com o EXIM Bank da China ou dos EUA é uma coisa relativamente fácil, mas transformar isso em instrumentos para a implementação de políticas de desenvolvimento nacional é outra coisa bem diferente.
Os créditos facilitados de Pequim são “rebuçados envenenados” a longo prazo. Da mesma forma que as recomendações do FMI/BM foram lesivas para a indústria nacional, há que aprender com a nossa história recente. Facilidades na aquisição de armamento de Paris ou de Pequim não vão resolver os nossos problemas políticos e económicos.
Não aceitemos ser aquele pedaço que as potências apanham a seu bel-prazer só porque os nossos governantes têm agendas de enriquecimento individual e não de empoderamento nacional.
Os buracos que a “Kenmare” deixará, os efeitos da exploração da madeira, os ganhos com a venda de gás de Pande, de Temane e do Rovuma, do carvão de Tete ou de Niassa, do ferro, do ouro, do urânio, das pedras preciosas, se não significarem crescimento económico com impactos visíveis e sentidos na positiva pela maioria dos moçambicanos serão um falhanço político-governamental.
Identidade, responsabilidade, sentido de estado, patriotismo, são chamados tanto na solução dos diferendos de hoje como para a concepção e estabelecimento de formas de governo consensuais.
Não se pode desistir nesta batalha que é vital para o país. A poesia política não substitui o realismo e a responsabilidade histórica de levar a bom porto o projecto da moçambicanidade.
O apelo é que os negociadores e os seus mentores se compenetrem e façam tudo o que é necessário para ultrapassar o que os separa em sede de diálogo.
No fim o vencedor será o povo moçambicano.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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