Monday, 5 November 2012

Revisão da Lei Eleitoral: Antevê-se dissensão na AR

ANTEVÉ-SE falta de consenso na aprovação da Lei Eleitoral, sobretudo entre as bancadas parlamentares da Frelimo e da Renamo, apesar das recomendações feitas pelos deputados e dos apelos da sociedade civil no sentido de que sejam sanadas as divergências ainda prevalecentes em torno de cinco questões consideradas fundamentais no âmbito da revisão em curso.
Essa antevisão fundamenta-se no facto de, sexta-feira, os porta-vozes das bancadas da Frelimo e da Renamo terem manifestado à Imprensa posições diametralmente opostas do ponto de vista político, sobre a incumbência dada pelo plenário da Assembleia da República às chefias dos três grupos parlamentares no sentido de, até ao dia 14 de Novembro corrente, consensualizarem as divergências que ainda subsistem à volta de cinco pontos que constam da Lei Eleitoral.
Trata-se, com efeito, das questões relativas à entrega de cadernos eleitorais aos concorrentes às eleições, uma proposta da Renamo; a composição e formas de designação dos membros da Comissão Nacional de Eleições (CNE); formato e formas de recrutamento do pessoal do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE); e a institucionalização da figura de director-geral do órgão, a ser indicado pelos partidos políticos com assento parlamentar, uma proposta também da bancada da “perdiz”, que ainda pretende que seja coadjuvado por directores-adjuntos em toda a sua extensão.
Edmundo Galiza Matos Júnior
Edmundo Galiza Matos Júnior

Renamo pretende partidarizar a CNE - Edmundo Galiza Matos Júnior, porta-voz da bancada da Frelimo

FALANDO à Imprensa no habitual balanço semanal da prestação da bancada, o porta-voz da maioria parlamentar, Edmundo Galiza Matos Júnior, acusou a Renamo de continuar renitente na sua forma de ser e estar, ao ter optado pela abstenção sobre a resolução que incumbe as chefias para consensualizarem as cinco questões divergentes de forma a que a comissão encarregue de rever a legislação eleitoral possa apresentar, em sede do plenário da AR, uma informação atinente à conclusão do trabalho por elas realizado até ao dia 14 de Novembro.
Edmundo Galiza Matos Júnior reafirmou a posição tomada pelo plenário do órgão legislativo, afirmando que às chefias das três bancadas foi incumbida a missão de consensualizar os pontos divergentes. Sobre a composição, formas de designação, formato e formas de recrutamento do pessoal dos órgãos de gestão eleitoral, o porta-voz da bancada parlamentar da Frelimo manifestou-se convicto de que a CNE será composta por 13 membros, como é até agora, em estrita observância das recomendações e apelos feitos pelo Conselho Constitucional, através dos seus acórdãos, pela sociedade civil e pelos observadores nacionais e estrangeiros.
Parte desses membros seriam indicados pelos partidos políticos com assento na Assembleia da República, segundo o princípio da representatividade e proporcionalidade, como, aliás, preconiza o sistema político do país. Sobre a entrega dos cadernos eleitorais aos concorrentes, disse ser impraticável que centenas ou milhares de cadernos sejam distribuídos aos partidos. Ademais, há que se proteger os dados dos cidadãos, entre os quais a residência, uma tarefa que cabe estritamente ao Estado.
Quanto ao director-geral do STAE, Edmundo Galiza Matos Júnior afirmou que deve prevalecer o princípio preconizado no âmbito da Administração Pública, que é o de concurso público de avaliação curricular, tendo em vista garantir a transparência.
“A Renamo pretende partidarizar os órgãos eleitorais, contra todas as recomendações feitas pelos observadores nacionais e estrangeiros. Além disso, ela diz que em Moçambique não existe sociedade civil. Ora, isso é desprezo total às organizações da sociedade civil. Julgamos nós que nas negociações que vão decorrer a nível das chefias das bancadas deve prevalecer o bom senso”, disse, acrescentando que a tentativa de dilatar o prazo para que a Comissão de Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social preste uma informação ao plenário da AR sobre o trabalho e a conclusão a que terão chegado as chefias é uma pura manobra de diversão.
Ivone Soares
Ivone Soares

Somos pela paridade - Ivone Soares, da bancada da Renamo


 
A RENAMO não arreda o pé. Quer paridade na indicação dos membros da CNE pelo Parlamento. A deputada Ivone Soares assim o reafirmou ontem em contacto com a nossa Reportagem.
Fundamentando a posição da bancada, ela disse que a Frelimo tem estado em vantagem em relação aos outros partidos, em nome do princípio da representatividade e proporcionalidade.
“Quando lhe convém, a Frelimo esquece as regras. Eles estão a invocar uma regra que só os beneficia. O que se pretende é que todos concorram em pé de igualdade. Vamos continuar a apelar para o bom senso e esperamos que as chefias das bancadas façam valer o interesse nacional”, disse.
Segundo Ivone Soares, um importante e gigantesco passo foi dado com a eliminação do artigo 85 da Lei Eleitoral, sobre a contagem dos votos. Disse que este articulado era um atentado à democracia multipartidária. Ressalvou que o que se deseja é que prevaleça o consenso nas negociações sobre as cinco questões.
“O pacote eleitoral é o coração das eleições”, rematou.
José de Sousa
José de Sousa

Não adiar aprovação - José de Sousa, do MDM

 
A BANCADA do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) defende que não se deve adiar a aprovação do pacote eleitoral, pois se isso acontecer irá comprometer o calendário.
“A aprovação do pacote eleitoral agora é importante para os desafios que temos pela frente, nomeadamente as eleições autárquicas de 2013 e gerais de 2014. Já atingimos o limite. Só o plenário da Assembleia da República é que poderá decidir. Julgamos que não teremos outro resultado senão aquilo que prevalecer a nível das chefias das bancadas”, disse, acrescentando que a revisão da legislação eleitoral envolveu grande parte da população moçambicana.
Sobre a CNE, disse que o MDM defende uma comissão menos onerosa e menos partidarizada. José de Sousa recordou que foram dois anos de discussão em sede do Parlamento da revisão da Lei Eleitoral, pelo que neste momento não há mais espaço para dilatação dos prazos.


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