Sunday 11 November 2012

Eles têm armas mas não possuem combate!

 
 
 
 
Nos nossos tempos, épocas em que mais do que necessidade, combater é a única condição para a sobrevivência, muitas pessoas – que como todos nós, se assumem moçambicanas – possuem armas, no entanto, não têm combate. É no roldão desta dualidade (arma e combate) que a pobreza, um mal que o discurso ofi cial insta que seja erradicado, se fecunda entre os moçambicanos...
Além dos discursos constructos, de palavras de ordem – de que diariamente somos bombardeados – a nossa vivência, a nossa condição social e humana impõem-nos uma constatação que não se deve contestar perante o sentido de ser moçambicano:
“Só quem sente é que sabe o que, efectivamente, é ser moçambicano. Por isso, definir o ser moçambicano é uma tarefa árdua”, considera Azagaia que acrescenta que “nós somos moçambicanos e, nos dias actuais, se quisermos falar de poesia de combate, ela faz muito sentido quando feita em relação ao tema da pobreza absoluta”.
O problema, ao que tudo indica, é que, “ainda que à nossa maneira, nós combatamos o mal que praticam, eles não nos entendem. O pior é que a maior parte de nós, agentes que realmente combatem, não temos armas. Quem tem instrumentos para o efeito, é desprovido de combate, de uma causa para a sua luta”.
Ou seja, grosso modo, para Azagaia, o povo que constitui a maioria populacional possui combate. Sucede, porém, que é desprovido de armas. Em oposição a isso, há uma minoria rica em termos de condições para combater a pobreza absoluta. No entanto, a dita realidade não constitui a sua agenda ou causa de luta.
É neste sentido que este artista, não menos conhecido no espaço social, conduz a sua opinião ao extremo chegando a considerar que “em Moçambique, os cidadãos que detêm avultadas somas de dinheiro nos bancos estão em melhores condições de/para lutar contra a pobreza absoluta mas, como não o fazem, não têm combate. Ou seja, no mínimo, o seu problema é que são ricos em sentido material mas, infelizmente, não sentem vontade de erradicar o mal com que o povo se debate – a pobreza. É como se, para eles, fosse animador apreciar as suas armas, e não combater um mal constantemente manifesto”.
Talvez uma ideia, uma pergunta certa e pertinente, capaz de elucidar a pertinência de se pensar no tema do combate, incluindo as implicações que daí surgem, seja a seguinte: “Alguém imagina a frustração de um cidadão moçambicano que é obrigado a permanecer determinado tempo no treinamento militar, sendo que, ao regressar ao convívio social, não possui munições para o combate para o qual se foi preparar?”
Se as pessoas que possuem meios para pelejar contra as precariedades sociais não o fazem, então, que tipo de combate nós, os moçambicanos, estamos a travar? É urgente que alguém, entre nós os jovens, reflicta sobre a natureza da luta que realiza para o desenvolvimento social. Traduzida para outros termos a questão é “o que é que cada um de nós faz todos os dias para combater qual situação?”, indagou Azagaia que falava perante uma plateia numerosa de gente jovem.
Sucedeu, porém, que naquele conjunto de pessoas – que se animavam em relação às posições de Azagaia – apenas dois jovens é que assumiram que realizam acções para resolver determinados problemas. O primeiro revelou que, diariamente, com base na oração, “eu peço a Deus para que ajude as pessoas necessitadas”, ao passo que o outro, no mesmo intervalo de tempo, diz que, “à minha maneira, eu tenho procurado publicar um pensamento do dia para orientar as pessoas”.
“Então, que tipo de combate é que nós estamos a realizar numa situação em que nesta sala, com mais de cem pessoas, apenas dois cidadãos é que assumem que praticam algum acto para combater um problema?”, questiona Azagaia que se revolta em relação à situação. “Essencialmente, o que é que nós estamos a fazer a não ser abanar os leques porque está calor?”
“Alguém dentre os que estão presentes – porque há muita gente sem missão nenhuma – já descobriu qual é a incumbência? As pessoas agem como se fossem missionárias, no sentido de que acordam de manhã – a par de toda a rotina construída pela sociedade – vão para a faculdade e regressam, mas não praticam nenhuma ideia que lhes seja original. Cumprem missões pré-estabelecidas”.
“Quem tem a sua própria ideia, a não ser essa de todos os dias termos de trabalhar para as pessoas que vêm a Moçambique criar empreendimentos empresariais? Quais são os moçambicanos que estão a gerar as suas próprias empresas?”
A fim de fazer-se perceber, naquela noite, naquele sala do Instituto Cultural Moçambique-Alemanha, cheia de gente jovem, Azagaia contou uma fábula com base na qual, além da noção de justiça, nos remeteu à ideia da existência de soldados desalentados, desestimulados, os quais precisam de encorajamento e nova motivação para a acção.
E fez perguntas: “Quem são os soldados caídos que só estão à espera por uma oportunidade para agir? Somos todos nós? Temos combate? Se não tivermos armas, então, vamos arrancá-las?”.
Maputo está uma bandalheira
As pessoas (pensam que) não estão preparadas, mas querem organizar todo o país. “Já viram como a cidade de Maputo está desorganizada? Será que as pessoas que vivem nesta urbe podem organizar todo o Moçambique? Então, se as pessoas não estruturam as suas casas, deixam- nas sujas, no mínimo, não devem ter a petulância, muito menos a pretensão, de querer regrar a vida alheia”.
“Será que as pessoas (quando circulam todos os dias na cidade) vêem como é que a capital moçambicana está uma bandalheira? Ou todos usam óculos escuros e, por essa razão, não vêem nada. Não há espaço para estacionar carros. E o índice da prostituição, a par das demais loucuras sociais, está cada vez mais expressivo. Não há lei. Não há nada. A única lei é o dinheiro. Quem possui mais dinheiro manda em todos nós. Estaciona mal a sua viatura e em qualquer lugar. Constrói em locais não apropriados”.
Reflictamos! “Será que a cidade de Maputo, de como se encontra, recorda a ideia de um espaço urbano onde há pessoas com capacidade para organizar todo o país? Sejamos humildes. Apenas isso”.
“Pessoas que – se formaram em cursos universitários, as quais vivem na capital – são vistas, diariamente, a estacionar as suas viaturas em qualquer lugar, sem respeitar as regras de trânsito nem a postura urbana. Atiram latas e garrafas de cerveja no espaço não devido. Consomem álcool de modo imprudente. Mas, mesmo assim, instantes depois, utilizam a imprensa a fim de propalar mensagens de acordo com as quais querem organizar o país. As pessoas estão a viver uma mentira, todos os dias”, disse Azagaia.

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