Wednesday 28 November 2012

Deputados levianos

Indivíduos que há 37 anos desembarcaram na então Lourenço Marques em balalaicas de ganga, hoje exibem uma fortuna incomensurável. Em Moçambique, para se tornar milionário e empresário de sucesso, basta pertencer ao clube das elites do partido no governo que distribui fabulosos favores aos seus sectários
No Plenário da Assembleia da República da quinta-feira passada, 22 de Novembro corrente, dois deputados da bancada do “glorioso” partido Frelimo, designadamente, Edmundo Galiza Matos e Jaime Neto, insinuaram que o congresso do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a ter lugar de 5 a 8 do próximo Dezembro, na Beira, seria com base em fundos roubados no Conselho Municipal da Beira, uma vez que o edil da autarquia é, simultaneamente, presidente do MDM. É prática aceite por dirigentes da Frelimo que ser gestor de um bem público implica, necessariamente, beneficiar-se, de modo ilícito, de fundos públicos, como temos, de forma recorrente, visto em quase todos os escalões do poder instituído.
A Frelimo dá ordens na polícia, tribunais, procuradoria e nos órgãos eleitorais. Domina os sectores da vida política, económica e social. Logo, deveria evitar levantar poeira para confundir os mais distraídos.
Se há ocorrência de roubos no Conselho Municipal da Beira, que encomende uma auditoria financeira para se apurarem as responsabilidades. As auditorias feitas até aqui não deram qualquer indicação de roubalheira.
Os relatórios do Tribunal Administrativo são elucidativos para qualquer mente mediana. Mesmo o Ministério Público, a nível provincial, que, em épocas eleitorais, faz desfilar, por encomenda política, funcionários das Finanças do Município, nunca provou nada.
Os documentos falam mais que as palavras.
Em privado, as elites político-económicas assumem-se como crocodilos e perguntam-se quem é menos corrupto do grupo. Firmam contratos do Estado com as multinacionais em jantares à luz de velas. Indivíduos que há 37 anos desembarcaram na então Lourenço Marques em balalaicas de ganga, hoje exibem uma fortuna incomensurável. Em Moçambique, para se tornar milionário e empresário de sucesso, basta pertencer ao clube das elites do partido no governo que distribui fabulosos favores aos seus sectários. Fazem adjudicação directa de empreitadas às empresas em que estão os seus familiares e amigos, evitando o concurso público. Basta ver o que se passa no sector do carvão, e não só, para confirmar esta versão.
O salário de milhares de funcionários públicos e de empresas participadas pelo Estado foi descontado, durante anos, para custear o X Congresso do partido Frelimo em Pemba. Quem confunde o Estado com o seu partido? Quem assaltou o Estado e as riquezas do país para satisfazer apetites pessoais e de grupo?
Quem manda nos órgãos eleitorais para “ganhar” as eleições a fi m de ser dono da banca, gás, carvão, portos, ouro, empresas estatais e madeiras? Quem tira chorudas comissões nas transacções do Estado?
Os termos da reversão da HCB continuam nos segredos de quem governa o país como se de coisa privada fosse.
Não tem legitimidade de denunciar a corrupção quem nela anda metido até ao pescoço. Quem tem telhado de vidro que não se atreva a atirar pedras para cima. Dizia alguém que se ainda não investigou, não tem direito à palavra.

Edwin Hounnou, CORREIO DA MANHÃ – 27.11.2012, no Moçambique para todos

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