Friday, 14 October 2011

Será possível desenvolver Moçambique com discriminação?

Até Mo Ibrahim diz que equidade e inclusão são fundamentais para a qualidade da governação…

Dizer o que é verdade não é teoria de conspiração…


Com uma política de empoderamento negro distorcida e confinada a assegurar que um segmento restrito da sociedade se beneficie dos recursos nacionais está montado o palco para o insucesso.
Um pluralismo político de pacotilha que não conseguiu traduzir-se em separação efectiva dos poderes democráticos esta minando os fundamentos da paz e da estabilidade que tanto sangue e destruições já custaram a este país.
Moçambique foi vítima em larga escala da última guerra civil. Nem teve oportunidade de refazer-se e logo caiu na boca de novos lobos.
Baseando sua actuação no facto de haver recipientes e interessados em implementar fórmulas obscuras de desenvolvimento que mais não são do que enriquecimento próprio o país caminha a passos largos para o descarrilamento integral.
Quem despreza a existência de factores com potencial de destruir novamente este país não é político sério e se coloca do lado daqueles que se beneficiam de conflitos armados. Pode ser que haja entre os políticos moçambicanos os que pensam que ao irromper de um novo conflito terão um exílio dourado assegurado algures. Só que a experiência africana tem mostrado que poucos são os que gozaram de tal exílio dourado.
Muitos acabaram vítimas inglórias de conflitos e guerras que poderiam ter evitado.
Quando pessoas como John Perkins, autor do livro “Con- fissões de um Assassino Económico” onde descreve sua acção ao serviço de interesses americanos no sentido de através da globalização defraudar países em triliões de dólares muitos poderiam correr e catalogar o autor de “conspiracionista”, descontente ou algo mais. A denúncia pública de procedimentos engendrados no seio de instituições governamentais americanas oferece a possibilidade de ver o que a política daquele país tem significado para muitos outros países.
Nesse aspecto temos de estar agradecidos a pessoas como aquele autor. Não há santos em política e enquanto teve oportunidade a ex-URSS também plantou seus tentáculos sob forma de assistência militar e económica bem como política.
Aquele vigor verbal e intolerância exibidos por governantes moçambicanos durante a 1.a República tinham como sustentáculo o apoio bélico inquestionável de Moscovo.
Mas finda a guerra fratricida e com oportunidade de se levantar o país viu-se a abraços com problemas novos.
Moçambique foi vítima de um assassinato económico por obra do Fundo Monetário Internacional e do seu irmão gémeo Banco Mundial. Governantes distraídos, incompetentes ou sem preparação para enfrentar colossos na mesa das negociações cederam no que tinham de mais importante, condenando à morte precoce indústrias viáveis. Era preciso estabelecer um regime de dependência renovada deste país e seus políticos não se importaram de hipotecar tudo sob alegações falsas e anti-patriotas.
O importante e o que acabou acontecendo sob o manto de uma suposta liberalização da economia foi a criação de condições para que uma parte dos moçambicanos desavindos ganhasse força e recursos para futuras negociações.
Com a guerra praticamente perdida no terreno era preciso encontrar uma forma de sobreviver e reverter o cenário.
Embora se possa dizer que a guerra civil fratricida de 16 anos foi obra de moçambicanos desavindos importa que também se diga que os beligerantes moçambicanos não eram fabricantes de armas.
Também não eram os detentores dos recursos financeiros que possibilitassem a sua aquisição no mercado internacional.
Razões políticas genuínas foram sabiamente aproveitadas e utilizadas para colocar irmãos em guerra. Estavam desavindos e havia interesses divergentes, mas as condições vieram de fora. Dessa guerra de triste memória parece que determinados políticos não aprenderam a lição.
Numa sucessão de fabricação de slogans e de pretensões que se podem resumir em propaganda política bem à moda do que outros demagogos com história ofereceram, o país está mergulhado num movimento de rectificação ou de revisão do que um partido um dia disse que era sua linha política ou orientação ideológica. A nova criação do “mágico comissário” tem condimentos endeusados onde parece que a palavra de ordem doravante será a “omnipresença e a imbatibilidade”.
Num remar contra a maré enfrentando forças internas de seu partido e ao mesmo tempo uma crescente contestação nacional ao nível dos partidos da oposição, a liderança da Frelimo não tem mãos a medir e até ao próximo congresso tem que “fazer das tripas coração”.
O empoderamento económico propiciado e em cumplicidade com os irmãos gémeos de Breton Woods parece que não é suficiente para manter o País em paz e estável.
E porque não houve preocupação de distribuir benefícios numa escala que pudesse contrariar reclamações legítimas e ilegítimas e se pretendeu construir um esquema de defesa baseado numa força policial que já se tornou impopular no terreno, há que questionar discursos e proclamações inflamadas.
Da vez passada, as certezas dessa época, por sinal dos mesmos “iluminados” de sempre, levou a 16 anos de guerra. Antes tinham todos de ser iguais uns aos outros. Ninguém podia ser diferente. Agora os mesmos já acham que as diferenças abismais são naturais.
O bolso cheio está, entretanto, sempre do lado dos mesmos. A diferença entre o ontem e hoje é que os mesmos já estão domesticados.
O momento é grave e de nada valerá tirar da cartola mais um pombo…

Noé Nhamtumbo, Canal de Moçambique – 12.10.2011, citado no Moçambique para todos

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