Monday, 3 October 2011

Editorial: Paz não deve significar somente o fim da guerra

O país celebra nesta terça-feira, amanhã, a data consagrada histórica para o povo moçambicano e o mundo inteiro, 4 de Outubro, Dia da Paz, por ter sido nesta data, em 1992, em Roma, que o Governo da Frelimo e a Renamo subscreveram o Acordo Geral de Paz (AGP), também conhecido por Acordo de Roma, que marcou o fim do conflito armado que durou 16 anos, tendo causado um milhão de vitimas mortais, seis milhões de deslocados e refugiados, além de ter reduzido significativamente a capacidade sustentável do país, entre outras consequências de elevado impacto sócio-cultural-político e económico.
Já passam 19 anos desde o fim da Guerra e começa haver cada vez mais consciência de que a Paz em Moçambique e no mundo inteiro não pode ser resumida apenas ao calar das armas. O fim da Guerra é apenas uma etapa do processo da paz, sendo por isso a sociedade moçambicana não somente deve estar concentrada para consolidar essa importante etapa, mas acima de tudo preparada aos desafios que ainda tem de enfrentar para vencer outras etapadas que formam a Paz. Os alicerces para uma boa Paz que se pretende em Moçambique e no mundo inteiro assentam sobre uma vasta gama de valores para além da ausência de Guerra e de dissensões. Os moçambicanos e os povos de todo o mundo para estarem a viver em Paz, no sentido real da afirmação, precisam em primeiro lugar sentir a quietação de ânimo, precisam viver em ambiente de sossego e de tranquilidade, precisam viver em boa harmonia, num ambiente de concórdia, de paciência e de reconciliação.
A realidade hoje testemunha esses alicerces que sustentam a Paz, a Paz que o país celebra amanhã, não existem em muitos moçambicanos, reduzindo a Paz do calar das armas alcançada em Outubro de 1992 a uma insignificância. Compete a todos os moçambicanos, independentemente das suas diferenças, o engajamento para se alcançar uma verdadeira Paz, que todos pretendemos. A família e a igreja, pela sua maior aproximação a moralização da sociedade, devem ser mais proactivos nessa luta de criação de condições para uma verdadeira Paz para os moçambicanos. As instituições de ensino, as universidades e as demais vocacionadas ao campo da ciência exige-se cada vez maior envolvimento nessa luta, aplicando o seu potencial conhecimento e saber na pesquisa, investigação e identificação das melhores formas que permitam os moçambicanos terem uma vida melhor. Os políticos, as organizações da sociedade civil, os artistas e outros actores com potencial papel mobilizador devem assumir essa influência para exercer mudanças no comportamento dos homens para que todos vivam em harmonia e num ambiente de concórdia. O Estado, os parceiros de cooperação e o sector privado devem assegurar o patrocínio de todas actividades que visam a promoção da Paz e do bem estar dos moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico.
Por último, já que falamos da celebração de mais um aniversário do AGP, endereçamos gratidão aos ex-beligerantes pelo facto de conseguirem preservar o Acordo, gratidão extensiva aos mediadores e demais intervenientes do processo.

O AUTARCA – 03.10.2011, citado no Moçambique para todos

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