Wednesday, 19 October 2011

Entrevista exclusiva com fundador do Movimento Democrático de Moçambique


«Renamo foi enganada pela Frelimo» - Daviz Simango

PNN- Como surgiu a ideia de criar o Movimento Democrático de Moçambique (MDM)?

Daviz Simango - O movimento Democrático de Moçambique surge na sequência da realidade política moçambicana em que, passados vários processos eleitorais, principalmente depois das eleições municipais de 2008, se notou que a oposição moçambicana estava a perder espaço na Assembleia da República e nas autarquias, pelo facto de que nenhum partido da oposição ter conseguido, pelo menos, a governação de uma autarquia.
E, como na Beira já tínhamos criado a revolução 28 de Agosto de 2008, que resultou na sequencia da falta de inteligência e perspectiva futura por parte do partido Renamo, teve que empurrar alguns jovens com residências fixas na cidade da Beira para uma revolução que foi, de uma forma generalizada, atacada, quer pela Frelimo, quer pela Renamo, usando as forças policiais, abrindo espaço para este novo movimento político.
Tal chamou-nos a atenção de que, afinal, apesar da situação económica e posição social que separa os partidos políticos em Moçambique, existe uma união entre o principal partido politico da oposição e a Frelimo.

PNN - É uma força política jovem, surgida na Beira, contra os partidos instituídos?

DS - Olhando para aquilo que foram os resultados eleitorais das eleições autárquicas na cidade da Beira, realizadas em 2008, decidimos concorrer nas Eleições Presidenciais e Legislativas de 2009.
Somos jovens e temos uma visão clara daquilo que pode ser o processo democrático e a liberdade no país. Em Moçambique, como em qualquer parte do mundo, para fazer valer o nosso posicionamento, o nosso pensamento, não tínhamos alternativa senão constituirmos um partido político da oposição, surgindo assim o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), em Março de 2009.

PNN - Da Beira para todo o território nacional?

DS - Apesar de estarmos sedeados apenas na cidade da Beira, tínhamos a missão de dar uma volta ao País, consultando os moçambicanos de vários estratos sociais, sobre o seu pensamento em relação ao futuro político do MDM.
Fomos aconselhados a ter coragem e, sobretudo, dignidade para avançarmos numa oposição política que seria alternativa a nível nacional. Foi assim que surgiu o MDM.

PNN - Quais as principais dificuldades enfrentadas na criação do partido?

Estamos numa sociedade em que predominam, desde a assinatura do acordo geral da Paz, e mesmo com a realização das primeiras eleições multipartidárias, apenas duas formações políticas.
Esses partidos detinham o voto do eleitorado, portanto, não seria fácil uma nova formação política em tão curto espaço de tempo até às Eleições Presidenciais e Legislativas, em 2009, para influenciar o eleitorado que, durante muitos anos, se encontrava dominado por apenas duas formações políticas.
Esse foi um dos grandes desafios, dai termos estudado esta lição e sido sujeitos a fazer aquilo a que chamámos de «vasculha», o processo de ir ao encontro do eleitorado para conversar e pedir o apoio necessário para constituirmos um partido político sólido.
Acabámos por envolver o cidadão na causa da criação do MDM em Moçambique. Este foi meio caminho andado e que nos ajudou bastante.
Outra grande dificuldade que encontrámos foi a tentativa de convencer os diferentes estratos sociais de que era possível começar a confiar no potencial dos jovens.
O que nos valeu é que Moçambique é maioritariamente constituído por uma população jovem, que começou a ter a ambição própria de poder andar sozinha, mudar e fazer as coisas.
Nesta fase, chegámos à conclusão de que conseguimos ultrapassar os dois grandes desafios. Os outros foram apenas exercícios normais de trabalho de campo.

PNN - A Juventude é a vossa grande aposta, porquê?

DS - Porque a própria revolução de 28 de Agosto teve a maior participação dos jovens e, por outro lado, porque o nosso pensamento era um pensamento proactivo, o que requeria que tivéssemos pessoas com flexibilidade de agir e de se movimentar.
Quando falamos de jovens, não significa que não tenhamos assessoria de pessoas mais velhas, que sempre estiveram presentes e, até hoje, continuam connosco.

PNN - Quais são, no curto prazo, as principais estratégias do partido?

DS - Nós constituímos o partido para alternativa de governação e para o poder, e quem constitui um partido para alcançar esses objectivos, sujeita-se às regras democráticas.
Em Moçambique, circunscrevem-se naquilo a que chamamos de processos eleitorais. Por esta razão, o MDM consciente dos seus objectivos, em 2009, mesmo com o pouco tempo que teve para o acto de preparação, decidiu avançar para as eleições gerais.

PNN - Mas ficaram satisfeitos com os resultados alcançados?

DS - Ficámos, de facto, satisfeitos com os resultados, apesar de termos passado por transtornos de exclusão, uma vez que não nos foi permitido concorrer em 7 círculos eleitorais internos e, ao nível do País, temos 11, pois permitiram que concorressemos em apenas 4. Ao nível de círculos de África e Europa, não nos foi permitido.

PNN - O que se passou para não ser permitido ao MDM concorrer?

DS - Houve uma coligação entre a Frelimo e a Renamo porque tinham medo do nosso potencial. Ainda assim conseguimos, nos poucos círculos eleitorais, obter resultados de oito deputados na Assembleia da República e hoje somos a terceira maior força política de Moçambique.

PNN - Foi uma grande vitória, para um novo partido político, não foi?

Tínhamos outro objectivo que era o de impedir que o partido Frelimo atingisse os dois terços no Parlamento. Esse objectivo não foi atingido porque a exclusão proporcionou esta situação.
Foi uma exclusão propositada porque já sabiam que iríamos, de facto, impedir os dois terços da Frelimo no Parlamento.
Infelizmente a Renamo não foi inteligente, embalou-se com a Frelimo e acabou sentindo-se prejudicada porque a Frelimo a enganou.

(c) PNN Portuguese News Network

FONTE: Jornal Digital

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