Thursday 20 October 2011

Continuação da entrevista exclusiva com o fundador do MDM


«Queremos começar a governar o País» - Daviz Simango

PNN - Quais são os planos para o futuro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM)?

Daviz Simango - Avançar para as eleições municipais de 2013, porque queremos começar a governar o País, a partir das autarquias. Se conseguirmos vencer em algumas autarquias, estaremos a mostrar a nossa capacidade de governação da cidade da Beira para outros círculos eleitorais.
Tal seria permitir que os moçambicanos espalhados pelo País e pelo mundo tenham conhecimento da qualidade de governação que o MDM pode proporcionar, não só na cidade da Beira, mas também em outros municípios do País.
Temos como principais objectivos, conquistar uma grande parte dos 43 municípios do país, em 2013, bem como inverter o resultado das eleições gerais em 2014.
Estamos a trabalhar em todas províncias e distritos, para desenhar estratégias, juntamente com os nossos membros, para garantir a nossa primeira participação nas eleições.

PNN - Qual é actual situação interna do MDM, face à crise de liderança que se instalou no princípio deste ano?

DS - A palavra crise saiu da boca dos outros. Dos órgãos, da estrutura, do secretariado e membros do partido nunca ouvimos falar da crise.
É natural que qualquer membro que esteja ligado a qualquer filiação política se desligue das suas funções, e o desligamento deste pode ser por incompetência, mau estar, mas pode acontecer também por divergências de visão.
O que o MDM tem feito é assegurar que o partido continue a funcionar e, neste caso concreto, o ex-Secretário Geral, Ismael Mussá, pediu a demissão mas, no entanto, os quadros seniores do partido e os outros continuam a trabalhar.
Neste momento temos um grande secretário-geral, Luís Boavida, que é um homem extremamente competente, de entrega, um homem de terreno, capaz de corresponder e interligar a continuidade dos trabalhos que o partido pretende desenvolver.
Portanto, o partido, penso eu, saiu a ganhar e acabou por receber uma ajuda por esta renúncia, do Ismael Mussá, porque descobrimos que estávamos a ficar atrasados pelo progresso do trabalho no campo.
Neste momento temos um secretário-geral que, em pouco tempo, já conhece todo o País, já andou por todos os distritos. Para uma formação política, um secretário-geral deve trabalhar, recolher o comando e fazer cumprir aquilo que são as decisões dos órgãos do partido.

PNN - Reconhece que, em algum momento, não colaborou com Ismael Mussá?

DS - É preciso saber que um secretário-geral, de acordo com o estatuto do MDM, é nomeado pelo Presidente. Tem a função de servir aquilo que é a posição política da liderança e dos órgãos do partido.
A partir da altura em que este não serve os interesses dos órgãos do partido é natural que não esteja em condições de continuar a poder trabalhar. O Presidente do partido não vai apoiar a incompetência ou corrigir eventualmente a falta de capacidade de quem seja.
O que faz é nomear outro secretário-geral e dar-lhe todas ferramentas para o exercício das suas funções. Se notar, vai perceber de que o actual secretário-geral, mesmo sem meios e com os mesmos recursos e ambiente que o partido sempre proporcionou, está a cumprir a sua missão.
É importante que se faça uma análise profunda daquilo que é um ser humano. Eu lembro-me muito bem de que pessoas que renunciam cargos de chefia comunicam apenas aos seus chefes e ficam no silêncio.
Infelizmente há pessoas que procuram um protagonismo adiantado. Então é preciso compreender porque é que um ser humano procura esse tipo protagonismo e não comunica às estruturas competentes do seu partido. Logo, concluímos que algo por detrás disto deve estar escondido.
O importante para nós é que o partido está a funcionar, está saudável e acredito que nos valeu a pena esta renúncia, porque chegámos à conclusão de que estávamos a dar passos extremamente lentos.
Ismael Mussá foi incompetente e não tenho duvidas quanto essa esta questão. E quero deixar claro de que, em qualquer estrutura política de qualquer partido, a primeira coisa que se faz quando há problemas é comunicar às pessoas que o nomearam, pessoas de direito interno de que não está em condições de continuar a exercer a função.
Não se pode receber a informação através da imprensa como se da imprensa fosse nomeado. Portanto, quando surgem estas situações, vamos fazer uma interpretação lógica e chegar à conclusão de que, por detrás disto, há algo escondido e, naturalmente, é incompetência.

PNN - Mas chegou a considerar Ismael Mussá como um infiltrado dentro do MDM?

DS - Há muita gente que fala disso, mesmo a nível de debate interno. Eu, na qualidade de Presidente do partido, por duas ou por três vezes tive que pedir desculpas aos membros por ter nomeado e ter cometido um erro nesta decisão.
Pedi desculpas quando reuni com a delegação politica provincial de Sofala e com os jovens da revolução de 28 de Agosto, por ter feito uma nomeação errada e da qual me responsabilizava.
Pedi novamente desculpas no conselho nacional realizado na província de Cabo Delgado, na cidade de Pemba, em Junho passado, onde estiveram presentes membros oriundos de todo o país e do Conselho Nacional.
Voltei a pedir desculpas aos quadros do partido, prometi que iria corrigir a situação e, na qualidade de Presidente do partido, responsabilizei-me por ter indigitado, de uma forma errada, um colega que não estava em condições e capacitado para assumir e dirigir os objectivos do partido MDM.

PNN - Qual é o principal do arrependimento?

DS - Tudo o que é pensamento diferente é bem-vindo numa organização mas deve ser com um objectivo construtivo. Quando a pessoa, dentro dos órgãos do partido, não consegue expressar-se, não consegue corresponder às expectativas do partido e, de repente, quer discutir assuntos pessoais na imprensa e até ofende a família de quem o indigitou, como se esta família tivesse culpa daquilo que está acontecer no partido.
É preciso separar as coisas. Nós todos temos memórias e respeito pelas nossas famílias e é importante que continuemos a respeitá-las. Questões de trabalho devem ser dirigidas ao trabalho.
Seja como for, continuamos a dizer que fomos abençoados por Deus por esta renúncia e o partido cresceu muito depois deste episódio.
Ismael Mussá queria protagonismo adiantado e estava a criar mau estar dentro do partido porque não estava a navegar no mesmo barco com os outros.
Um aspecto importante neste acontecimento é a diferença entre o que o MDM produziu e o que esta a produzir hoje. Vai notar que o MDM hoje está a produzir muito mais. Isto significa que havia uma peça dentro do partido que não estava a remar com as outras.

(Continua)

(c) PNN Portuguese News Network, Jornal Digital

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